segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sentido de história| Sense of history

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)












(Estes são alguns dos "meus heróis" que fazem história...|These are some of my heroes)

O que nos faz sentir aquele sentimento de orgulho dentro de nós? Quando vemos a nossa bandeira nacional (principalmente quando estamos fora de Portugal), quando vemos alguém que conhecemos bem na televisão, ou quando conhecemos alguém pela primeira vez mas que já tinhamos lido muito sobre essa pessoa (um escritor, uma escultora)...

Questiono isso porque a base cientifica de Bird Island, mesmo estando na Antárctica, respira história e orgulho. E os cientistas que passam por aqui, seja de Verão ou Inverno, possuem e mostram um orgulho muito grande por esta ilha e por aqueles que por aqui passaram. Isso é bonito de se ver...

















(Yves Cherel, um cientista e colaborador Francês, a ver a história da base quando passou por lá umas horas...|Yves Cherel, a French Scientist witnessing history of Bird Island Research Station and feeling honoured to be here)


Em Portugal é necessário estimular algo a que chamo "uma cultura do herói", não numa perspectiva de idoletrar mas numa perspectiva de inspirar a sociedade (todos nós) a sermos melhores na nossa vida e carreira, sermos mais exigentes e profissionais connosco e com os outros, e sermos mais FORTES....e felizes, com um sorriso nos lábios.


Em vários países
essa cultura é tão evidente. Em Inglaterra, os vencedores de medalhas nos jogos Olímpicos foram congratulados pela Rainha, mas principalmente pelo povo, pelos amigos, pela aldeia ou vila onde aqueles ginastas (pessoas como nós) vivem. Eles tiveram de ir às escolas, à rádio local...porque estavam orgulhosos deles mas também para inspirar os mais novos, faz sentido não faz? Outro exemplo, é o orgulho de ter uma profissão honesta. Como fico feliz de ver condutores de autocarro e donos de bancas nos mercados, com um sorriso gigante, orgulhosos daquilo que são e de trabalharem bem para serem melhores todos os dias...assim é que é!

Precisamos de heróis em Portugal! Ao nível cientifico e nas ciências, isso é evidente. Precisamos de novos "Egas Moniz" na Medicina, novos "Luiz Saldanha" na biologia, novos "Infante D. Henrique" na frontalidade de gerir o nosso país, de novos "Eça de Queirós" (sim já temos o nosso José Saramago mas quero mais)...precisamos de mais em tudo para estes jovens de hoje verem que só com muito trabalho e dedicação, com esforço e gosto do que se faz...é que se pode tentar ser feliz, o que não é permitido é faltar à chamada e não tentar.


Assim que se entra na base, respira-se história. Começa pela base ter o nome oficial de "Peter Prince" e assim que se entra tem a sua foto (ele com um filhote de um albatroz na mão). Este senhor, cientista e muito famoso por passar muito tempo da sua vida a estudar albatrozes, desde os anos 70 até há uns anos atrás. Faleceu em 1998. Eu ainda falei com ele..."Hi, can I see Phil?" (na práctica disse "Olá, o Phil está por aí?) e eu disse "No!" (Não). E lá foi ele embora para o seu escritório...incrível como eu me lembro de falar com uma pessoa breves segundos e ainda me lembrar. E sabem porquê? pelo sentido de história, por saber quem ele era, por saber do seu excelente trabalho aqui...sem isso, nunca mais me lembraria de tal conversa. Mais importante de tudo, aqueles segundos me fazem mais perto do que o Peter foi, e me inspiram a trabalhar mais e melhor todos os dias...























(A fotografia de Peter Prince em Bird Island| Peter Prince at Bird Island front porch)


Este mês reformou-se um dos meus heróis. Andy Clarke (British Antarctic Survey e professor convidado na Universidade de Cambridge e várias outras) é uma alegria estar com ele. Falamos sobre tudo, desde ciência ao futebol e o seu West Ham, de Londres. Dois momentos me marcaram muito quando conheci o Andy. Primeiro foi perceber que ele, como exemplo de um excelente cientista e professor universitário de renome, pode ser uma pessoa perfeitamente normal. Andy mostrou-
me que na Universidade pode estar de gravata a discutir e evolução do planeta numa workshop com os melhores do mundo, e uma hora mais tarde estar comigo a jogar à bola e barafustar com o opositor que lhe dei uma bruta rasteira e não foi falta:))) O segundo momento foi a sua paixão a dar aulas. Em Cambridge, eu tive o privilégio de dar algumas das suas aulas (tutorials/supervisions), e antes de as dar tive o enorme prazer de o ver a dar essas brilhantes aulas. Aos 60 e tais anos, ele tinha tanta energia e paixão no que dizia, os assuntos e questões levantadas durante cada aula eram tão interessantes que cada 5 minutos eu questionava "mas não será aquilo?" . Passado 1 minuto, era ouvir o Andy "Bem, se julgam que pode ser aquilo, basta ler o artigo..." Ele percebia a perspectiva dos alunos, percebia-lhes e ajudava-os a pensar e a chegar à solução. Isto, é a grande diferença entre um bom professor e um excelente professor. O Andy o foi claramente...























(Professor Andy Clarke by Dave Smith in 1975/6)


Where does the feeling of being proud comes from? At Bird Island Research Station, in Antarctica, it breaths long history of research that makes any scientists coming here very priviliged and proud. As soon as you get into the base, you see Peter Prince, one of the scientists that most contributed to the science carried out here in the last 40 years. Going around the corridors you see photographs, posters...people that had the same entusiasm as you do...and happy to be here!!! To make history is needed to have people that inspire us... last month, Andy Clarke retired from the British Antarctic Survey. He is such a great person, brilliant professor and a great football player:))) Happy retirement...

Some books that show how beautiful Bird Island and South Georgia is:
Carr, T, Carr, P. (1998). Antarctic Oasis: under the spell of South Georgia. WW Norton & Company LTD, 256pp
Headland, R. (1984). The Island of South Georgia. Cambridge University Press, 293pp
Parmelee, D. F. (1980). Bird Island in Antarctic Waters. University of Minnesota Press, Minneapolis, 140pp
Brown, N. (1971). Antarctic Housewife. Hutchinson publishing group LTD, 190pp



6 comentários:

Fatima disse...

Bom dia
Quanta paixão vai por aí também!
Ser cientista é para quem gosta e trabalha para isso.
Abraço

Jose Xavier disse...

Sem dúvida Fátima!

Beijinhos

José

Lygia Maria Couceiro Braga disse...

Olá José,

Mais uma vez os apontamentos enriquecedores que completam o Diário de Bordo.
Desta vez estamos a aprender e a aprender a aprender.
É sempre importante poder relacionar a ciência com quem a faz e com quem a fez. Afinal, a ciência é evolutiva e não definitiva. Todos nós, cada um na sua área, progredimos muito mais quando partimos dos trabalhos dos que nos precederam do que quando tentamos ser únicos, vivendo como ilhas, completamente isolados e ignorando o que outros já fizeram.
Continuação de um bom trabalho.
Por aqui continuamos sempre à espera de novidades.
Já que não podemos ir à Antártica, que venha a Antártica até nós.

Beijos,

Lygia

Jose Xavier disse...

Obrigado Querida Lygia!!!!

Equipa do Árctico disse...

Olá José
Daqui é o João e a Marta do IPIMAR a enviarem-te uma mensagem directamente do norte para o sul.
Estamos neste momento em Umiujaq no arctico canadiano.
Provavelmente será a primeira vez que isto acontece entre portugueses.
Votos de bom trabalho.
Saudações aos pinguins aqui do ursos polares :).
Podes visistar-nos também em www.arctico2009.blogspot.com.

Abc e Beijinhos

João e Marta

Jose Xavier disse...

Olá João e Marta

Obrigado pela mensagem!

Que tudo corra bem pelo Árctico...Vou escrever algo sobre o vosso trabalho então...

Beijinhos e abraços (e boa ciência)

José