sábado, 24 de dezembro de 2011

4. Projecto PENGUIN: As primeiras 24 horas


A chegada a Livingston Island foi feita num dia com potencial...nublado com abertas e com um vento a baixar, as ondas estavam boas para o surf mas péssimas para desembarcar. O Santiago (do navio Las Palmas) questionou-nos se preferiamos ir já para a Base Búlgara S. Kliment Ohridski, onde iriamos fazer o nosso trabalho de campo, ou para a Base Espanhola Juan Carlos I onde teria de conversar com o Comandante da Base Jordi sobre questões logísticas. Decidimos que era melhor ficar já Base Búlgara para acelerarmos logo com os preparativos do trabalho de campo.

A chegada à Base Búlgara é feita pela praia por barco (zodiac), entre mini iceberges e umas ondas de meio metro quebra coco (ou seja a quebrar na areia) que dificultavam tudo. Fomos muito bem recebidos pelo comandante da Base Daddy e por colegas da Bulgaria, Japan e Mongolia, todos super sorridentes e atenciosos, tal como vários pinguins que estavam na praia. Ficámos muito bem instalados numa casa triangular, que muito me fez lembrar dos Alpes Suiços. A Base fica praticamente na praia e com uma vista deslumbrante para o glaciar Pimpirev. Percebi logo o porquê do sorriso que todos tinham...

As primeiras 24 horas passaram a voar. O Comandante mostrou-nos a base, muito acolhedora, revestida com simbolos religiosos da região Cristã Ortodoxa (aliás, a Base Bulgara é uma das poucas bases cientificas na Antártica que possui uma igreja), e com um orgulho muito grande da sua história. Fez-nos sentir em casa quando tivemos de beber Rakia, a versão Bulgara de água ardente, que só os Bulgaros a conseguem beber como fosse água...

As questões de segurança são sempre levadas a sério, e elas estavam em Bulgaro e em Inglês, escritas minuciosamente à mão. De momento, somos 21 pessoas: O Comandante Daddy, os BBB - Bobby, Bojo (assistentes de campo), Boico (Geólogo), Misho,Vasko, Emo – Dedo e Sasho / Sando(assistentes técnicos), os 4 Japoneses cientistas (que possuem 2 aviões fabulosos para estudos de geomagnetismo), o Prof . Dugre da Mongolia (Geólogo), Galia (a nossa querida cozinheira), Milena (Geófisica), Krisi (Representante de uma empresa eólica que esperam montar um aparelho aqui nos próximos anos), Jana (fotografa), Roman (coordenador de operações por mar), e o médico Zezo. É incrível como todos somos capazes de nos sentar na mesma mesa.

As ementas são diversificadas mas existe um padrão: o pequeno almoço são torradas com manteiga e chá/café, o almoço é geralmente uma salada e sopa (comi shembe, que não é nada mais nada menos do ue a nossa dobrada sem feijão e só com o estômago do porco), e o jantar começa sempre com uma salada (tomate, cebola, pimento, oregãos), seguido por um prato de carne com batatas cozidas...e muito pão bem acabado de fazer com manteiga....

Antes de jantarmos, nós fomos quase todos passear ao longo da costa, já a pensar nos pinguins que podemos estudar e adiantar logo trabalho. A praia é caracterizada por calhaus de vários tamanhos (uma parte com um pouco de areia preta), que termina num glaciar (que não nos permite avançar mais), zonas de muita neve e uma parte onde existe neve com cinza vulcânica vinda da Ilha Deception ao lado (que regularmente erupte)

As 24 horas não podiam ter sido mais bem vindas.....Blargodaria (o que significa, em Bulgaro, Obrigado!!!!)

José Xavier & José Seco

3. Projecto PENGUIN: A chegada ao Paraiso


Eu já sabia que esta seria a parte mais desejada por uns e odiada por outros...desejada pois queremos chegar à Antárctica e odiada pois chegar à Antárctica pode ter custos fisicos...e exige andar de navio na passagem de Drake, o que não é pêra Doce. Vejamos...


A passagem de Drake é conhecida por ter algumas das maiores tempestades dos Oeanos, é onde as correntes são mais fortes e as suas velocidades são maiores. Em Ushuaia, deu para perceber que a tarefa não se avizinhava nada fácil...o navio que iriamos tem 42 metros de comprimento (o navio Espanhol Las Palmas) e segundo a minha experiência em navios de 100 metros de comprimento (o James Clark Ross, da British Antarctic Survey), deu para me aperceber que o navio iria abanar bastante. E quando o José Seco se pôs a comparar o Las Palmas com os barcos atrás dele (infelizmente eram cargueiros, navios gigantes para turistas), deu para perceber que podiamos estar numa carga de trabalhos...muito mais pois o José Seco nunca esteve num navio em alto mar.

O pessoal do navio Las Palmas foram 5 estrelas (muito obrigado Santiago, David Atienza e colegas!) e a nossa habituação ao navio foi rápido. Santiago Garcia (2 comandante) disse-nos logo qjá ue iriamos nessa noite (Sabado, dia 10 de Dezembro) pois a previsão dizia que tinhamos uma tempestade a chegar num periodo de horas...saímos do porto de Ushuaia às 0 horas de Domingo

Foi-nos logo atribuidos uma cama, o simpático Comandante Enrique Valdez Garaizabal deu-nos as boas vindas, Sr. José deu-nos informações gerais de como o navio funcionava, o Médico Manuel Prego informou-nos o que tomar em caso de enjoo (e como o prevenir) e o resto viria com o tempo...e veio! Com a minha experiência prévia, o truque é tomar comprimidos para o enjoo 2 horas antes de sair do porto e passar todo o tempo deitado, a ler ou a dormir...as primeiras 24 horas são sempre criticas... que o diga o José Seco:


“Saimos do porto, a viagem ia tranquila, para previnir tomamos 2 comprimidos! Um dos efeitos secundarios dos comprimidos é dar sonolência! Quando fomos para a cama ainda o mar estava flat, tudo tranquilo! A meio da noite acordo com uma grande vontade de ir “mudar a água às azeitonas” (ou seja, ir à casa de banho) só que por esta altura já estavamos a atravessar o Drake! O mar tinha-se transformado, o barco abanava por todo o lado! Parecia que a minha cama estava assente numa mola, como aqueles brinquedos nos parques infantis, que me fazia oscilar em todas as direcções. Agora entra o dilema, aguentar e sobreviver ou arriscar a ir à casa de banho, e possivelmente ficar mal disposto. Infelizmente o Drake ganhou 6 a 0! Ao fim da segunda noite o Médico veio ter comigo e deu-me uma vacina para equilibrar as contas! A partir dai tudo foi mais tranquilo! Nada fácil isto de chegar à Antárctica!”

No meio disto tudo ainda deu para ter as primeiras sensações de chegar ao ares gelados da Antárctica. Eles veêm em poucos pormenores...o ar mais frio, o José Seco viu o seu primeiro iceberg e os primeiros pinguins a mergulhar na água....

Após 2 dias e meio de viagem chegámos a King George Island, à base Argentina Jubany, para deixar material e recolher 2 colegas alemães da AWI. O vento estava forte e só recebemos os 2 colegas alemães a bordo. Eles ilustravam bem como fazer ciência polar é dificil...tudo lhes correu mal, ou lhes faltou bom tempo, ou houve um problema com os aparelhos, e em 6 semanas tiveram 5 dias bons de trabalho. Fustante, disseram eles com um sorriso estampado na cara... “isto da Antárctica é assim! Fazemos o nosso melhor, desejamos sorte com o tempo mas desta vez não foi nada fácil!”... Deixamos estes 2 colegas Alemães na Base Chilena Frei perto do Aeroporto.

24 horas depois estavamos em Livingston Island....


José Xavier & José Seco

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Há sempre uma primeira vez...

É verdade...há sempre uma primeira vez! Não esperava estar aqui, agora, a escrever-vos em Ushuaia....a caminho da Antárctica pela minha primeira vez. Eu sou o José Seco, estou a tirar mestrado de ecologia pela Universidade de Coimbra e sou colaborador do Instituto do Mar (IMAR-CMA), dentro da equipa do José Xavier. Faço parte do seu projecto cientifico PENGUIN que faz parte da Primeira Campanha Logística do programa Português ProPolar.






Está é a primeira vez que vou fazer trabalho de campo na Antárctida! Desde o dia em que o José Xavier me falou da possibilidade desta oportunidade única, não houve um dia em que não tenha pensado como tudo será. Como será o ambiente? Como será a base? Como será a viagem? Mas a principal questão foi sempre, como irão reagir os animais à nossa presença? Como será lidar com algumas espécies que só estou habituado a ver nos programas da BBC? Ainda não consigo responder a nenhuma destas perguntas, mas está para breve :))















Agora em Ushuaia já se sente o ambiente do continente branco, os picos dos montes têm neve, há lembranças de pinguins e da Antárctida por todo o lado, os postos de turismo anunciam visitas a ilhas com pinguins! Ate já nos cruzamos por algumas pessoas que têm “cara” de cientistas e andam com t-shirts dos diferentes comités polares!

Agora falta só falta percorrer um pequeno passo até Livingston Island...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Lisboa-Madrid-Buenos Aires-Ushuaia em + de 24 horas

Uma expedição cientifica à Antárctica é SEMPRE feita com muitas expectativas e de novas experiências...algumas inesperadas. O nosso projecto cientifico, PENGUIN (que pretende compreender como pinguins competem entre si por alimento, e como as condições ambientais podem afectar negativamente/positivamente as populações destas espécies de pinguins, em colaboração com cientistas do Reino Unido, França, Espanha e Estados Unidos e pelo apoio da Bulgária), lugar na Peninsula Antárctica, mais precisamente em Livingston Island. e iniciou-se no dia 6 de Dezembro.





















A nossa equipa do Instituto do Mar da Universidade de Coimbra, eu e José Seco, partiu de Lisboa num voo às 8.25 com destino inicial a Madrid. O entusiasmo foi constante. O José Seco estava um pouco ansioso, é a sua primeira expedição. Como estudante de Mestrado em Ecologia, esta é uma oportunidade única de fazer trabalho de campo na Antárctica e trabalhar directamente com pinguins. Tivemos inúmeras conversas e reuniões sobre como decorrerá a expedição e julgo que estamos prontos! Para mim, era a primeira vez que trazia um estudante, que iria aquela parte da Peninsula Antárctica, e a falar Português tanto tempo:)))


























A ida para Madrid foi rápida pois metemos logo conversa com as pessoas ao nosso lado e o tempo voou. Depois apanhámos outro avião para Buenos Aires, que demorou 12 horas e cerca de 10 000 km. Está viagem demorou muito mais tempo a passar, vimos 4 filmes pois dormir sentado é super desconfortável. Chegámos às 22 horas locais (menos 3 do que em Portugal). Em Buenos Aires tivemos de equacionar o que fazer pois a ligação a Ushuaia era às 4.30 da manhã noutro aeroporto...e tinhámos de decidir se iriamos dormir um pouco e apanhar esse voo ou pedir que nos adiassem o voo para mais tarde. Os responsáveis da LAN Chile bem nos tentou ajudar mais não nos foi possível mudar os voos, e então tentamos descansar 2 horas num Hotel, enquanto do outro lado da rua estava a haver uma festa na embaixada portuguesa! O senhor taxista que nos levou ao Hotel, era uma joia de pessoa (que ficou super contente por sermos Portugueses. "Já deviam ter dito!" disse ele, e passou a viagem a praticar o seu Português Brazileiro;)), mostrou-nos algumas partes muito bonitas de Buenos Aires (La Casa Rosada,Puerto Madero,...) mas nunca tinha sentido a sensação de estar num carro de Formula 1 em forma de taxi. Em tom de filme de Hollywood de acção, passámos entre camiões gigantes, ultrapassamos numerosos carros, sinal vermelhos é o mesmo que sinal verde...só rir...mas só depois de termos saído, vivos, do Formula 1.

Dormimos 1-2 horas e fomos para o Aeroporto Jorge Newbery. Aí bebemos um hot chocolate que nunca tinhámos bebido...com chocolate mesmo;) ou seja, eles dão-nos leite quente e uma barra de chocolate e depois é só adicionar ao gosto. Brilhante ideia;)





















Chegámos à linda cidade Argentina de Ushuaia (que é a cidade mais a sul da America do Sul e a mais próxima da Antárctica...daí dizer-se que se está perto do fim do mundo), após 4 horas, totalmente exaustos...mas era cerca de 9 da manhã e não podiamos ir dormir...para vencer o jetlag, o melhor é só dormir à noite. E assim foi. Fomos "explorar" Ushuaia, reunimo-nos com o coordenador da parte logistica, o simpatico German, almoçamos calmamente e andámos horas a conhecer Ushuaia. Fomos muito recebidos com um "bom dia" pelos locais...parece que aqui, Fernão de Magalhães mantém uma boa influência na cultura local;)



















Ushuaia tem tudo...tem montanhas com neve, tem mar, parques naturais lindos por perto...e como cidade é bastante cosmopolita que...até tem um Casino! Nota-se que esta cidade vive muito do turismo sustentado e na qualidade do serviço, pois pode-se encontrar a última gama de computadores,como ser-te servido uma refeição do Bacalhau do Antárctico ou encontrares aquela T-shirt de surf que querias da Rip Curl. Existem lojas com muito bom gosto em toda a cidade... tudo isto porque Ushuaia é a partida e a chegada de muitos cruzeiros turisticos (e no nosso caso cientificos) para a Antárctica. Andar pela rua ouves Americanos, europeus e uma grande variedade de pessoas cujo o poder de compra é alto. Mas tudo isto torna esta cidade muito interessante...



















Próximo passo é recuperar...e rever tudo novamente. Partida para Livingston Island em breve....

José Xavier & José Seco