sábado, 30 de maio de 2009

Vale a pena| Worthwhile doing E & O!!!

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctica)

















Uma das questões que se levantou no último grande congresso internacional sobre as regiões polares, em St. Petersburgo (SCAR/IASC IPY Open Science Conference 2008) durante uma workshop entre jovens cientistas da Association of Polar Early Career Scientists (APECS: http:/apecs.is/) que organizei foi: no início da sua carreira "quanto tempo um jovem cientista pode dedicar a mostrar a ciência que faz, como ir dar palestras nas escolas ou conversar sobre ciência com alunos a partir da Antárctica?" A publicação do livro "Pensar Verde" diz-me que investir tempo em mostrar a ciência que fazemos é fundamental para as novas gerações...
























(Capa do livro Pensar Verde do Prof. Paulo Silva e seus alunos. Parabéns aos projectos da Direcção Regional de Educação (PREAA), EcoEscolas, Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e ao projecto LATITUDE60! Muitos parabéns)


Como jovem cientista durante o Ano Polar Internacional tinha tido a excelente oportunidade de ter estado involvido também em promover a ciência Portuguesa nos últimos 4 anos, em complemento à toda a ciência. Tinha-me posto várias vezes esta questão e obti várias respostas que poderiam ajudar outros jovens cientistas do resto do mundo.

No início da carreira cientifica, até ao Ano Polar, não havia muito espaço para mais nada...se o objectivo era seguir uma carreira cientifica então era acabar curso, directamente para Mestrado ou Doutoramento, Pós-doutoramento,...sempre a produzir artigos, ir a conferências e pouco mais. Durante o Ano Polar Internacional começou a surgir um novo conceito de jovens cientistas com uma perspectiva diferente, e felizmente Portugal foi um dos países pioneiros.


















(Uma das páginas do novo livro "Pensar Verde: contributo das novas gerações" do Prof. Paulo Silva e seus alunos da EB2,3 Infante D. Fernando - Vila Nova de Cacela - Vila Real de Santo António, Algarve | One of the pages of the new educational book by the school Infante D. Fernando from the Algarve, south Portugal)

Uma das razões porquê fomos nós dos primeiros países, e a me aperceber disso, deve-se ao que se estava a passar em Portugal. Em 2004/05, Portugal era uma total incógnita em relação à ciência polar. Quando Gonçalo Vieira (Univ. de Lisboa) resolveu questionar todas as Universidades Portuguesas sobre que cientistas faziam ciência polar, a sua surpresa foi enorme. Eram várias instituições, do Porto ao Algarve, e até nos Açores, que tinham cientistas polares portugueses. Assim, resolvemos integrar o Ano Polar Internacional, este programa internacional e multidisciplinar cientifico, onde reunia mais de 60 países e 50 000 cientistas de todo o mundo para estudar o Árctico e a Antárctica. Eu tinha acabado de chegar de Inglaterra.






















(Fazer ciência é importante, tal como divulga-la de uma maneira simples e acessível a todos| Science is important, and doing education and outreach to show your science in an easy and accessible way can be as important)



Em Portugal, eu e o Gonçalo (e Adelino Canário do Centro de Ciências do Mar do Algarve) escrevemos um livro sobre a estratégia de Portugal para o Ano Polar. Aí evidenciava a necessidade clara de não só fazermos ciência polar mas construir também um programa educacional (chamado LATITUDE60!) para levar a todo o Portugal a ciência polar e dar respostas a perguntas como:
-Existem cientistas portugueses a estudar as regiões polares?
- As regiões polares são importantes para o planeta? e para Portugal?
- Que ciência fazem os portugueses lá?
- Como estudante ou cidadão português, o que poderei fazer para melhorar o nosso planeta?
- Porque é que os ursos polares não comem pinguins?


























(Sugestões que todos nós podemos fazer...seja no Algarve ou na Antárctica| Great suggestions on how to protect our environment, applicable anywhere in the planet...in the Algarve or in the Antarctic)

Foram vários brilhantes anos a dar (e assim continuamos quando temos tempo) palestras pelo país nas escolas e Universidades, entrevistas, contacto directo por blog ou através do website (www.portalpolar.com), idas a conferências internacionais sobre promoção de ciência, reuniões com organizações internacionais do Ano Polar...



Quando se é jovem cientista, o importante é saber gerir o tempo. Quando se está a fazer um Mestrado é muito complicado ir dar palestras nas escolas, mas no meio de um doutoramento (quando já sabes as técnicas que estás a aplicar, os resultados já estar a vir,...) ou no pós-doutoramento, é capaz de ser mais fácil. Manter um contacto constante com o teu supervisor é chave, pois exige tempo e compreensão, por vezes. Fazer divulgação cientifica ajuda um jovem cientista a saber comunicar com toda a gente sobre o que faz, desde a Inês de 3 anos no jardim escola (que quer saber quantos anos pode ter um pinguim) ao senhor João de 83 anos (que muito conhecedor das regiões polares e bem informado, questiona como vai ser daqui a uns anos, quando o Oceano Arctico derreter). Saber gerir o tempo quer para fazer ciência, quer para divulgar a ciência, que fazemos é a chave do sucesso..é que só temos 24 horas por dia e o tempo voa...

Este ano continuamos forte...durante o cruzeiro cientifico em 2009, estive em contacto directo com Radios do Brazil, conferência ao vivo para a Malásia, com uma escola de Cambridge (Reino Unido) para fazer um projecto de medicina...e esta semana será com a Escola 2,3 Infante D. Fernando de Vila Nova de Cacela (Vila Real de Santo António), Algarve. Que bom!!!





















(A pequena contribuição do LATITUDE60! no livro "Pensar verde" com discussão de ideias na escola e na rádio, que segundo o seu autor, Prof. Paulo Silva, foi determinante no despertar da consciência ambiental dos alunos: o que acontece na Antárctica pode afectar-nos na nossa vida diária no Algarve | The small contribution of the project LATITUDE60! to the new book "Thinking Green")

A Escola EB2,3 Infante D. Fernando foi uma escola exemplar que tentei ir todos os anos ("o programa "Cientistas vão à escola" do Centro de Ciências do Mar convidava os cientistas a dar palestras nas escolas.). Os alunos do Prof. Paulo Silva, e a direcção da Escola, foram sempre uns autênticos entusiastas (tal como muitos alunos e professores por todo o país), acho também em reflexo do trabalho exemplar do Prof. Paulo. O lançamento do seu livro da escola sobre as actividades dos últimos 2 anos será esta próxima semana e é um reflexo do seu excelente trabalho durante o Ano Polar Internacional e explicar, mais uma vez, o porquê do sucesso de Portugal.

O livro "Pensar Verde: contributo das novas gerações" é inovador. Ilustra brevemente, mas exemplarmente, a importância das regiões polares, evidência como todas as regiões do planeta estão interligadas e que o que pode acontecer na Antárctica pode afectar o Algarve. Mais, dá-nos ideias de como podemos ajudar a valorizar o meio ambiente, protegendo-o. Ter uma caracterização da fauna e flora da região Algarvia no livro é uma ideia brilhante!!!! Ilustra também bem o quando especial o Algarve é, com visitas de estudo à Cacela Velha, às salinas e a várias áreas da bela Ria Formosa! E sugere acções nos exemplos de perigos ambientais que dá... mencionando como ter uma acção activa quando vamos à (nossa) praia por exemplo, com a importância das dunas (e como cuidar delas) em todas as vezes que vamos dar um mergulho ...com este livro está dado o ponto de partida para as escolas do Algarve (e do resto do país) ter mais uma oportunidade de voltar a estimular todos (alunos, professores, funcionários, pais e resto da família, amigos) a ter um papel activo na nossa casa, no nosso bairro, na nossa aldeia, vila ou cidade,...na nossa sociedade, todos os dias. É que ao estarmos cientes e informados da riqueza que temos, todos teremos uma atitude mais crítica ao que nos rodeia, e que se reflectirá em atitudes cívicas, sociais e políticas certas no futuro... para um mundo melhor. Muitos Parabéns!!


















(Arrifana, Costa Oeste do Algarve, Portugal: uma das muitas lindas praias onde é possivel seguir os conselhos do Prof. Paulo Silva| Arrifana, Southwest coast of Algarve, Portugal: another beautiful beach on the Algarve region where it is possible to follow Prof. Paulo Silva suggestions)




This week, I got the privilege of getting an invitation to speak at the launch of a book called "Think Green", by phone from Antarctica. What makes it special is that this book was produced by Prof. Paulo Silva and his students at the EB2,3 Infante D. Fernando, Algarve (Portugal), where I went in various occasions to talk about polar science, through the educational program LATITUDE60! As a young scientist, it made me proud of witnessing the publication of this book. It documents the activities that school done through the year, always with the aim to inform and provide information on the environment to all (students, parents, tourists, colleagues form other schools,...). It goes further by caracterizing endemic species of plants of the Algarve and provide suggestions on how to protect the environment locally, but that could be applied anywhere in the planet. Algarve is one of the most beautiful regions in Europe: the weather is amazingly welcoming, it is mostly sunny through the year, there are mountains and beaches to discover, the local people are nice. By having this section, it made me aware of how we should be privileged of living in the Algarve (or having the chance to go there once in a while!). This book showed me once again of how amazing the Algarve is, but to keep it the way it is (or even making it better), we must be informed of the dangers we might face, particularly when related to the environment, Algarve´s biggest treasure. Prof. Paulo managed this quite nicely, by including a wide range of activities that promotes critical thinking and provides easy solutions...small gestures everyday can make all the difference! Congratulations for the brilliant book. Will talk soon!

domingo, 24 de maio de 2009

Diferenças Polares | Polar Differences

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctica)


















(À direita daquelas ilhas, as Ilhas Willis, basta ir sempre a direito e vamos ter ao Árctico| The Arctic is just turn right on those islands, Willis Islands, and carry on straight)


Será diferente a ciência e o modo de como se trabalha no Árctico em relação ao que se faz na Antárctica?Isto porque acabei de receber uma mensagem de colegas que me enviaram do Árctico.... o interessante é que também são portugueses! Portugal está a crescer muito em relação à ciência Polar e aqui temos o melhor exemplo. Todos cientistas portugueses, uns no Árctico e outros na Antárctica. Brilhante!



As diferenças entre o Árctico e a Antárctica são fascinantes, mas para isso é preciso olhar como quem sabe do que está à procura. Ou seja, estamos a falar de diferenças do meio ambiente? da flora e fauna? culturais?



O João Canário e a Marta Nogueira estiveram no Árctico Canadiano (Umiujaq no norte de Québec), na Baía de Hudson e arredores, a fazer investigação sobre as características das àguas, quer em rios quer em lagos, de modo como as alterações climáticas estão a afectar a salinidade da água está associado na partição de contaninantes e no ciclo de Carbono. A expedição foi de 11 a 22 de Maio (www.arctico2009.blogspot.com).













(João Canário e Marta Nogueira no Árctico Canadiano| The portuguese scientists João Canário and Marta Nogueira in the Canadian Arctic. Photo from press release)


As semelhanças do Àrctico e da Antárctica são aquelas óbvias: 1- Estão nas regiões polares do nosso planeta, um no pólo Norte (Árctico) e o outro no pólo Sul (Antárctica), 2- São ambas extremamente frias com temperaturas negativas, e 3 - São das àreas mais isoladas do planeta!


















(Ewan (à esquerda) e Derren a perguntar às otárias do Antárctico Arctocephalus gazella se só vivem por aqui| Ewan and Derren asking the male Antarctic fur seal Arctocephalus gazella of more than 150 kg if they only live in the Antarctic)



As diferenças são tão interessantes como quem pergunta "Porque é que os ursos polares não comem pinguins?": 1 - O Árctico é um Oceano gelado enquanto a Antárctica é um continente, 2 - Existe mais de 200 espécies de plantas terrestres no Árctico enquanto na Antárctica são menos de 5 espécies (mas existem uns fungos e pouco mais), 3- O maior animal terrestre na Antárctica é do tamanho de um alfinete (tipo piolho ou ácaro do Antárctico, Antarctic springtail Cryptopygus antarcticus) enquanto no Árctico temos por exemplo o Urso polar (lembro que o Urso polar é carnivoro alimentando-se em terra...includindo focas, baleias, raposas, renas...não alimentado-se de peixe), 4- O Árctico tem povos indígenas enquanto a Antárctica não. Foi tão bom ver os Inuits com quem o João e a Marta trabalham...

















(o maior animal terrestre na Antárctica tem 1-2 mm, o piolho/ácaro Cryptopygus antarcticus | Antarctic springtail Cryptopygus antarcticus, one of biggest terrestrial animals in Antarctica. Photo by Peter Bucktrout)



Portugal tem estado de parabéns nestes últimos 4 anos como trabalho desenvolvido durante o Ano Polar Internacional. As colaborações internacionais estabelecidas são cada vez mais e de qualidade cientifica. Tal como o Ministro da Ciência e da Tecnologia me disse " Bom trabalho mas lembre-se que daqui a uns anos terei todo o gosto em ver todos os resultados deste vosso esforço." Na práctica disse-me algo muito importante: José, apesar dos bons resultados, todos nós temos ainda muito trabalho pela frente...."


There are more and more nations working in the polar regions. Portugal is one fo them. Curious that this week I got a message from colleagues from the Canadian Arctic (João Canário and Marta Nogueira working on climate change on aquatic ecosystems), which reminded me of the breath of the polar science Portugal is carrrying out. The differences between the Arctic and Antarctic are tremendous despite the obvious similarities (very cold!!!!): Arctic is an Ocean/ Antarctic is a continent, the biggest terrestrial animals are springtails (1-2 mm long)/Arctic have the massive polar bears! and the Arctic have indigenous people/the Antarctic does not have indigenous people. With the importance of the polar regions to the planet, it is good to see more and more research being carried out there....

domingo, 17 de maio de 2009

Trabalhar com pinguins| Working with penguins

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctica)













(O primeiro pinguim gentoo é o mais curioso a olhar como quem diz "José, és tu grande amigo?"| The first gentoo penguin coming on my direction asking "Hi José, is that you my friend?")


Consegues imaginar-te estar no meio de pinguins, na terra dos pinguins? É aqui!!!! Durante o Inverno Antárctico, os pinguins gentoo Pygoscelis papua continuam a vir a terra todos os dias. Umas das razões pode ser porque são uns bons convivas e uns curiosos de primeira àgua. Assim que chegam a terra, passam a vida a "cantar", atrás de ti a ver quem tu és, a cuidar das suas penas (preening em inglês) ou a descansar !!


















(A cantoria na colónia é uma autêntica alegria| Gentoo penguins really like "singing"...if singing means being happy...these are happy penguins)


A cantoria começa um pouco antes do sol de pôr e antes do Sol nascer e trás uma harmonia à colónia. Faz-lhes sentir mais unidos neste Inverno Antárctico, e tudo parece mais alegre.


















(Importante: Cuidar das penas, cuidar das penas,....| preening, preening, preening...)

Estes pinguins medem menos de 1 metro de altura (máxima altura entre 75 a 90 cm), e pesam menos de 10 quilos, sendo a terceira espécie maior do mundo, a seguir ao pinguins emperadores Aptenodytes forsteri (menos de 40 quilos) e pinguins rei Aptenodytes patagonicus (menos de 20 quilos).
























(Marcar pinguins gentoo, neste caso com um numero, é fundamental para estudar o seu comportamento| Numbering penguins is key to understand their behaviour)


Estas semanas tenho estado a trabalhar em vários projectos dos pinguins gentoo Pygoscelis papua. Um deles exige estar com os pinguins todos os dias, uma vez antes do sol nascer e outra vez antes do sol de pôr, para compreender se estes pinguins têm tendência para dispersar depois de irem para o mar à procura de comida. Como não se estão a reproduzir, será que eles regressam sempre para a mesma colónia/praia? Ou possuem um comportamento alieatório (hoje fico nesta colónia, amanhã noutra). Se eles forem residentes na mesma praia, será isso bom ou mau para eles? Isto é importante, principalmente nesta altura em que as alterações climáticas podem afectar a abundância da sua comida nas águas próximas. Para isso foi preciso os numerar para sabermos quem veio à colónia neste estudo. De momento estamos a avaliar que factores limitam o comportamento dos pinguins às suas colónias e claro aparecem sempre mais questões cientificas pois claro...a ciência é sempre assim!!!

If you can imagine yourself in the middle of penguins, one of the places on Earth is definetely Bird Island, South Georgia. During this Winter, I and 4 other scientists will have the privilege of sharing the island with Gentoo penguins Pygoscelis papua. These less than a metre penguins (third biggest, behind emperor and king penguins), come onshore everyday and they are highly amuzing to be with. They "sing", they follow you in a curious way, and of course spend a lot of time preening and relaxing too. They come to some beaches along the coast at dusk and stay until dawn, when they go to sea to feed. We have been numbering them for attendancy studies in order to understand better their foraging behaviour during the Antarctic Winter...fascinating birds!!!!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sentido de história| Sense of history

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)












(Estes são alguns dos "meus heróis" que fazem história...|These are some of my heroes)

O que nos faz sentir aquele sentimento de orgulho dentro de nós? Quando vemos a nossa bandeira nacional (principalmente quando estamos fora de Portugal), quando vemos alguém que conhecemos bem na televisão, ou quando conhecemos alguém pela primeira vez mas que já tinhamos lido muito sobre essa pessoa (um escritor, uma escultora)...

Questiono isso porque a base cientifica de Bird Island, mesmo estando na Antárctica, respira história e orgulho. E os cientistas que passam por aqui, seja de Verão ou Inverno, possuem e mostram um orgulho muito grande por esta ilha e por aqueles que por aqui passaram. Isso é bonito de se ver...

















(Yves Cherel, um cientista e colaborador Francês, a ver a história da base quando passou por lá umas horas...|Yves Cherel, a French Scientist witnessing history of Bird Island Research Station and feeling honoured to be here)


Em Portugal é necessário estimular algo a que chamo "uma cultura do herói", não numa perspectiva de idoletrar mas numa perspectiva de inspirar a sociedade (todos nós) a sermos melhores na nossa vida e carreira, sermos mais exigentes e profissionais connosco e com os outros, e sermos mais FORTES....e felizes, com um sorriso nos lábios.


Em vários países
essa cultura é tão evidente. Em Inglaterra, os vencedores de medalhas nos jogos Olímpicos foram congratulados pela Rainha, mas principalmente pelo povo, pelos amigos, pela aldeia ou vila onde aqueles ginastas (pessoas como nós) vivem. Eles tiveram de ir às escolas, à rádio local...porque estavam orgulhosos deles mas também para inspirar os mais novos, faz sentido não faz? Outro exemplo, é o orgulho de ter uma profissão honesta. Como fico feliz de ver condutores de autocarro e donos de bancas nos mercados, com um sorriso gigante, orgulhosos daquilo que são e de trabalharem bem para serem melhores todos os dias...assim é que é!

Precisamos de heróis em Portugal! Ao nível cientifico e nas ciências, isso é evidente. Precisamos de novos "Egas Moniz" na Medicina, novos "Luiz Saldanha" na biologia, novos "Infante D. Henrique" na frontalidade de gerir o nosso país, de novos "Eça de Queirós" (sim já temos o nosso José Saramago mas quero mais)...precisamos de mais em tudo para estes jovens de hoje verem que só com muito trabalho e dedicação, com esforço e gosto do que se faz...é que se pode tentar ser feliz, o que não é permitido é faltar à chamada e não tentar.


Assim que se entra na base, respira-se história. Começa pela base ter o nome oficial de "Peter Prince" e assim que se entra tem a sua foto (ele com um filhote de um albatroz na mão). Este senhor, cientista e muito famoso por passar muito tempo da sua vida a estudar albatrozes, desde os anos 70 até há uns anos atrás. Faleceu em 1998. Eu ainda falei com ele..."Hi, can I see Phil?" (na práctica disse "Olá, o Phil está por aí?) e eu disse "No!" (Não). E lá foi ele embora para o seu escritório...incrível como eu me lembro de falar com uma pessoa breves segundos e ainda me lembrar. E sabem porquê? pelo sentido de história, por saber quem ele era, por saber do seu excelente trabalho aqui...sem isso, nunca mais me lembraria de tal conversa. Mais importante de tudo, aqueles segundos me fazem mais perto do que o Peter foi, e me inspiram a trabalhar mais e melhor todos os dias...























(A fotografia de Peter Prince em Bird Island| Peter Prince at Bird Island front porch)


Este mês reformou-se um dos meus heróis. Andy Clarke (British Antarctic Survey e professor convidado na Universidade de Cambridge e várias outras) é uma alegria estar com ele. Falamos sobre tudo, desde ciência ao futebol e o seu West Ham, de Londres. Dois momentos me marcaram muito quando conheci o Andy. Primeiro foi perceber que ele, como exemplo de um excelente cientista e professor universitário de renome, pode ser uma pessoa perfeitamente normal. Andy mostrou-
me que na Universidade pode estar de gravata a discutir e evolução do planeta numa workshop com os melhores do mundo, e uma hora mais tarde estar comigo a jogar à bola e barafustar com o opositor que lhe dei uma bruta rasteira e não foi falta:))) O segundo momento foi a sua paixão a dar aulas. Em Cambridge, eu tive o privilégio de dar algumas das suas aulas (tutorials/supervisions), e antes de as dar tive o enorme prazer de o ver a dar essas brilhantes aulas. Aos 60 e tais anos, ele tinha tanta energia e paixão no que dizia, os assuntos e questões levantadas durante cada aula eram tão interessantes que cada 5 minutos eu questionava "mas não será aquilo?" . Passado 1 minuto, era ouvir o Andy "Bem, se julgam que pode ser aquilo, basta ler o artigo..." Ele percebia a perspectiva dos alunos, percebia-lhes e ajudava-os a pensar e a chegar à solução. Isto, é a grande diferença entre um bom professor e um excelente professor. O Andy o foi claramente...























(Professor Andy Clarke by Dave Smith in 1975/6)


Where does the feeling of being proud comes from? At Bird Island Research Station, in Antarctica, it breaths long history of research that makes any scientists coming here very priviliged and proud. As soon as you get into the base, you see Peter Prince, one of the scientists that most contributed to the science carried out here in the last 40 years. Going around the corridors you see photographs, posters...people that had the same entusiasm as you do...and happy to be here!!! To make history is needed to have people that inspire us... last month, Andy Clarke retired from the British Antarctic Survey. He is such a great person, brilliant professor and a great football player:))) Happy retirement...

Some books that show how beautiful Bird Island and South Georgia is:
Carr, T, Carr, P. (1998). Antarctic Oasis: under the spell of South Georgia. WW Norton & Company LTD, 256pp
Headland, R. (1984). The Island of South Georgia. Cambridge University Press, 293pp
Parmelee, D. F. (1980). Bird Island in Antarctic Waters. University of Minnesota Press, Minneapolis, 140pp
Brown, N. (1971). Antarctic Housewife. Hutchinson publishing group LTD, 190pp



segunda-feira, 4 de maio de 2009

O Som da Antárctica| Antarctica Sound

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

Se na Antárctica não há árvores, como se ouvirá o som do vento?

















(Pinguim gentoo Pygoscelis papua a querer-me dar música| Gentoo penguin Pygoscelis papua trying to sing me a song)

Quando me lembro do som do vento, lembro-me logo das árvores à frente da minha janela de casa nos dias de chuva do nosso Inverno Português, onde o som se passeia fácilmente entre as folhas das acácias ou pelas ramas das Oliveiras. O Som é agudo, alarmante e mais importante, está presente, ouve-se!!!!

Eu acho que na Antárctica o som é diferente. O que chamamos de árvores não existe, apenas um arbustos, ou tufos de erva, chamados "Tussock" (Poa flabellata) onde o vento "não se sente". É incrível como nos apercebemos destas pequenas coisas quando notamos a sua ausência...


















(Otária Arctocephalus gazella em cima de "Tussock" a dizer-nos que ouviu alguma coisa|Antarctic fur seal Arctocephalus gazella showing us that heard something)


É lindo um dia sem vento em Bird Island. Raro, logo é precioso. Há quase sempre vento, uma leve brisa ou então, ventos fortes, com rajadas a ultrapassar os 1ookm/h...mas quando o vento pára, é um autêntico paraíso. E são nesses dias que penso no som...a ausência dele. É apenas um silêncio mudo, mas como quem não quer falar. Apenas ouve-se os meus passos a trespassar a neve, ou os sons das otárias a dizer "Bom dia" quando passo por elas....Não se ouve literalmente nada, principalmente agora no Inverno, quando tudo começa a ficar coberto de neve. Nas nossas cidades, vilas ou aldeias, existe sempre um som "humano" presente, seja o carro, a moto, o autocarro...Lembro-me de regressar a Inglaterra após estar aqui e dormir mal devido a estar habituado a dormir sem sons no Inverno Antárctico. Conseguia ouvir o abrir da torneira da casa do lado, o carro a passar na distância,...

























(um filhotes de um albatroz viajeiro Diomedea exulans com um mês de idade. Este, com a vista do seu ninho, deveria cantar todos os dias| A month old chick of wandering albatross Diomedea exulans. With such a view, it should sing everyday!)


Mas adoro este som diferente! Num destes dias, estava a vestir-me com as normais 4 camadas de roupa para sair para fora da base, e vi os fones para ouvir música e tive a repentina tentação de os levar. Nós, os humanos, somos obecados por música e parece que somos uns dos poucos. Umas experiências com macacos mostram que, quando lhes dão a opção entre uma música instrumental, uma canção de Mozart, uma música cantada ou nada...eles preferem nada. Só os humanos possuem uma inclinação natural para gostarmos de música (sem cantar com fins biológicos (ao nível comunicativo, reprodutor ou social), como os pássaros fazem)! Por isso, quando cantar para os pinguins será mais para o meu prazer do que para o deles...

Parei e pensei um pouco. Estar aqui no meio destes sons ao vivo é um privilégio tão grande que o melhor seria aproveitar. Desde aí, os fones ficaram na gaveta e nunca mais os vi desde que cheguei... Para mim, estes sons são música para os meus ouvidos. Os pinguins e os albatrozes a piar, as focas a rosnar, os elefantes marinhos a falar uns ruídos super estranhos. Perder isto, nem pensar...

If there are no trees in Antarctica, how do the winds sounds like? In Europe, the wind sound is sharp, vibrant and most importantly, you hear it! I think the wind sounds differently in the Antarctic. There are no trees, only tussock grass, where the wind finds it harder to go through, and the sound is not the same. In those days when there is no wind, it is so peaceful...only can hear my feet pushing down the snow...almost feel like an instruder in this Antarctic Paradise.