domingo, 30 de agosto de 2009

Existe diferenças em 10 anos? Is there differences in 10 years?

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(É bom ver os filhotes dos albatrozes viajeiros Diomedea exulans de boa saúde outra vez| Is good to see the chicks of wandering albatross Diomedea exulans once again)


Será que a ciência e o modo de viver mudou muito em 10 anos em Bird Island? Interessante que em 1999 e 2000 quando estive aqui, tudo era novo para mim...o contacto directo com os animais, o fascínio da neve, o modo de viver numa base cientifica. Quando regressei em 2009, as comparações foram muitas. Então o que mudou?

















(Bird Island Research Station 1999)


Ao nível de infrastruturas, existe agora uma nova base cientifica, que foi construída em 2005, substituindo aquela a que tinha estado. A anterior era mais pequena, mais acolhedora e com personalidade própria. No entanto, a nova base oferece excelentes condições. A casa de banho já é dentro da base (na base anterior era fora, no "jetty" onde se atracam os barcos), o que é excelente pois no Verão com otárias por todo o lado, era muito complicado ir à casa de banho à noite. A nova base é maior, dá mais conforto e melhor qualidade de vida.


















(Bird Island research Station 2009)


Uma das maiores diferenças é o contacto com o mundo exterior. Em 1999, não existia internet, as trocas de emails era efectuada apenas 1 vez por dia (ou seja, recebia e enviava emails 1 vez por dia e tinha de esperar outras 24 horas por respostas), o custo de um telefonema era cerca de 2 euros por minuto (muito caro para 1999!). Hoje temos ligação à internet 24 horas por dia (apesar da bandwith ainda ser reduzida) , um telefonema para Inglaterra é de custo local e telefonar para Portugal é como estivesse a telefonar para Inglaterra. Ainda imprimimos o jornal diário de 2-3 páginas sobre o que se passa no mundo mas que de certeza deverá acabar em breve pois com a internet já temos acesso a tudo. Ainda não vemos televisão em directo mas julgo que no futuro, isso vai ser possível. Neste sentido, em 2009 estamos muito mais em contacto como mundo e não nos sentimos tão isolados...isso é bom ou mau, depende apenas do ponto de vista e das saudades...


















(Em 1999, a comida era melhor do que esta (e as máquinas de barbear também)! In 1999, the food was much better than this one)

Ao nível social, acho tudo muito semelhante, apesar de considerar que basta sair uma pessoa na base para a atmosfera mudar. Tal como há 10 anos, somos 4 cientistas e as conversas, a alegria de estar aqui, os objectivos que nos move, continuam inabaláveis. A qualidade dos cozinhados também continuam a um nível elevado já que todos fazem um esforço extra em fazer um bom prato e tirar prazer em cozinhar...aliás acho que isso se aplica a tudo o que se faz aqui. Os passeios, o tirar aquela fotografia, o fazer ski quando se tem tempo, o observar os animais que nos rodeiam com a sua simplicidade própria...a ciência.

Ao nível cientifico, as questões evoluiram e claro a tecnologia também. Para perceber onde os albatrozes iam à procura de comida há 10 anos, eu usei uns aparelhos chamados PTT, que enviava para um satélite a posição geográfica aproximada do albatroz 2-3 vezes por dia (recebia um email no dia seguinte a dizer-me onde o albatroz se encontrava). Hoje, uso aparelhos GPS que registam a posição quase exacta do albatroz cada 20 minutos!!!! Também o modo de fazer ciência se alterou um pouco, com muitos dos estudos a focarem nas alterações climáticas e perceber como os animais são capazes de se adaptarem a essas mudanças no ambiente. A ciência também ficou mais inter-disciplinar com estudos que integram não só comportamento dos animais mas também a oceanografia, a fisica, a química,... de modo a perceber o ecosistema como um todo.























(Os simpáticos pinguins gentoo Pygoscelis papua continuam por cá| The adorable gentoo penguins Pygoscelis papua are still around)


Tenho a sensação que tudo mudou por um lado, e por outro lado, nada mudou. As pessoas mudaram, a base mudou mas Bird Island na sua essência continua maravilhosamente igual...

Is it possible that , in 10 years, a lot has changed, in Bird Island? From being here in 1999 and returning in 2009, the comparisons had to occur sometime. In 1999 the bathroom was in the jetty, the base was smaller and more cosy, the scientists were obviously different. Internet was non-existent, phoning would cost 1 pound per minute and I only got emails once a day (which was already pretty good). Now, internet is a 24 hour affair and having a phone call costs at a local rate to UK. Socially is also different but that is exactly why makes this experience unique. We are still 4 scientists and cooking is still of very high quality. It is great to see the effort that everyone puts in everyday to make a different dish and the enjoyment of being in the kitchen. Indeed, I find that the enthusiasm extends to most of the things we do in the island...including the science. Scientifically, the questions also evolved, with the research becoming more inter-disciplinary and the technology imporved. For example, in 1999 I used PTT that would tell me the geographic position of each albatross 2-3 times a day, now I use GPS devices that can tell me the same information every 20 minutes! I have a feeling that sometimes a lot has changed and other times nothing changed. People changed, the base changed...but Bird Island continues to be a marvellous island...and that is still the same!

domingo, 23 de agosto de 2009

O que fazer? What to do?

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(Excelente churrasco na praia a -3 graus| Brilliant BBQ at -3 degrees)


A Antárctica é uma região muito especial e ver pelos próprios olhos o que está a acontecer é tão importante como também tirar experiências pessoais além da ciência. A maior parte do tempo é passado a fazer ciência...todos os dias, seja Sábado, Domingo, feriados...e é assim durante os 9 meses que aqui estou.




















(O que fazer nos tempos livres? Jogar cricket desde que hajam espectadores especiais como esta otária do Antárctico Arctocephalus gazella| What to do when the weather permits? Play cricket as long as we get nice spectators like this Antarctic fur seal Arctocephalus gazella)


Daí ser fundamental, enquanto se faz ciência, também ter alguns períodos de lazer...aqui todos os 4 cientistas que aqui estão são ferfurosos fotografos e sempre que o tempo o permite, é possível ver as máquinas fotográficas montadas e prontas para ir para o campo.























(Fazer escalada é um dos desportos de eleição para Stacey Adlard| Climing is one of the favourite sports of Stacey Adlard)





Apesar de fazer parte do nosso trabalho, caminhar é também uma das grandes paixões de todos. Com bom tempo, e sem temperaturas demasiado baixas, tentamos sair para partes da ilha que normalmente não nos é possivel ir todos os dias. O exemplo da praia de Johnson, onde existem várias centenas de pinguins gentoo Pygoscelis papua, é evidente, pois apesar de apenas demorar 45 minutos a pé, o caminho não é fácil e não fica a caminho de nenhuma colónia que estou a estudar.


















(As nossas sobremesas são tão boas...quanto ficam bem feitas:)| Our deserts are delicious...when they work:))


Como bom português, tudo associado a comida é ocasião para aproveitar. Assim, quando é possível, fazer um churrasco é excelente para relaxar um pouco e fazer algo diferente. Ontem, no Sábado à noite, foi uma noite excelente. Não havia vento, as nuvens eram poucas e o cozinheiro de serviço (o Derren Fox, o cientista que trabalha com albatrozes), fez umas excelentes espetadas... cozinhar é uma arte, e vir com ideias o que fazer para dar a 3 outros famintos colegas é sempre um desafio. Inicicalmente, é intimidante, depois torna-se rotina até chegar à fase de querer inovar e fazer pratos diferentes. É tão bom ver a cara de satisfação de todos (sempre cheios de fome, pois passamos os dias fora da base, a andar de um lado para o outro a estudar as focas, os pinguins ou os albatrozes) quando experimenta-se algo de novo e a reacção é sempre a mesma...sorriso de aprovação!
























(A caminho da pista de snowboard| On the way ot the snowboard slope)


O mesmo se aplica a desportos. Todos nós somos hávidos snowboarders (ou ski), montanhistas e até cricket! (o desporto inglês que me parece muito com basebol mas que na verdade, é bem diferente). E também gostamos muito de ouvir a rádio, seja relacionado com o cricket (Inglaterra ganhou à Austrália), um desporto de Verão que está tão enraizado na cultura inglesa, que até tivemos a audácia de enviar uma mensagem para os comentadores, e fomos mencionados em directo para todo o mundo a partir da BBC...brilhante! Mas também futebol (seja a liga Inglesa ou a Portuguesa), atletismo, natação...e muitas vezes, mesmo que não estejamos atentos, faz companhia e sentimo-nos mais perto do resto do mundo.


















(A fotografia faz parte do nosso dia a dia| Photography is an everyday affair for us)

Antarctica is such a special region and is so important to witness with our own eyes how AMAZING it is, making the best of it as a personal experience is as important as the science you are doing. We spend every day doing science...Saturdays, Sundays, everyday of the year. While doing science, we can also do other things that we love. Here, all the four of us are keen photographers. While going to the different colonies of penguins, albatrosses or seals, we take our cameras with us in case there is a good opportunity for a nice photo. All of us like walking and climing too. As we walk all around the island, this becomes naturally enjoyable...therefore doing science here is effortless...we love what we do as we work hard:) And when there is enough snow, we try and take our skies or snowboards out for a good session. We also try and be in touch with the world...listenning to the radio when possible. We recently listen to England-Australia in the ashes and even dared to send a message to the commentators of the BBC and we got mentioned LIVE on BBC radio...brilliant! (indeed, even Peter Cordall, a Bird Islander that came with Tickell in 1958 and built a hut here, heard it and sent us a message via BBC...great hearing from him!!)...we also enjoy cooking and when there is good weather, we have BBQ....brilliant times ar Bird Island!!!

domingo, 16 de agosto de 2009

Avalanche de Turismo| Tourism Hotspot

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)


















(As razões do turismo na Antárctica são óbvias| The reasons for the success of tourism in Antarctica are obvious)

Há 50 anos, o primeiro cruzeiro de turismo levou os primeiros 200 passageiros à Antárctida, hoje são mais de 30 000 todos os anos, e o seu crescimento tem sido quase exponencial. Aqui na Geórgia do Sul, registou-se um aumento de 120% do numero de passageiros nos últimos 5 anos. Que impactos tem tanto tourismo? E estará bem regulamentado ou "queremos lá saber"?


A Antárctida é o continente mais isolado do mundo, e também uma das áreas do planeta mais fascinante. Os icebergues enormes, a graciosidade dos pinguins, o frio intenso que nos congela as bochechas, o contacto directo com a natureza, a ausência evidente dos humanos, o sentimento de estarmos num local diferente a que estamos acostumados. E claro, já é um local priviligeado para o tourismo!

Como proteger o meio ambiente Antárctico de tantos turistas? A ideia veio do Sueco-americano Lars-Eric Lindblad, que com um conceito forte na conservação, criou um roteiro turístico que tivesse pouco impacto no ambiente, ao usar cruzeiros (em vez de aviões). O primeiro navio turístico construido preparado para a Antárctica foi o Lindblad Explorer, que visitou o continente em 1969. Este cruzeiro teve também uma forte vertente educativa, com especialistas em várias da ciência polar estivessem a bordo e dessem palestras e servissem de guias...ainda hoje a grande parte dos cruzeiros turísticos na Antárctica são assim.


















(O som e a leveza dos petréis Macronectes spp. a voar é um grande exemplo da Antárctica| the sound and smoothness of flying giant petrels Macronectes spp. are a great example of the Antarctic wildlife)



E então, que impacto do turismo pode ter na Antárctica? De momento, não existe evidências fortes de que o turismo tem um impacto significativo nas plantas, nos animais ou no ambiente da Antárctica. Na verdade, os turistas têm feito menos prejuizos no meio ambiente do que a ciência de alguns países nos últimos 100 anos. Existem velhas bases cientificas abandonadas que só agora estão a ser removidas...está no bom caminho mas...



















(Testemunhar a caça da foca leopardo Hydrurga leptonyx é voltar a origem do mundo, aqui a alimentar-se de um elefante marinho Mirounga leonina| Observing a leopard seal Hydrurga leptonyx hunting is like going back thousands of years, here feeding on a elephant seal Mirounga leonina)


Se o crescimento do turismo é para continuar, que problemas poderão surgir? Dentro de 10-20 anos, o tourismo será a maior actividade humana na Antárctica. Na práctica, o turismo é regulado pela própria indústria, ou seja, quem quiser investir num navio de turismo para a Antárctica, pode o fazer. A boa notícia é que todos os operadores turisticos que operam na Antárctica pertencem a International Association of Antarctica Tour Operators (IAATO), que assegura que o turismo na Antárctica é conduzida de um modo seguro e amigo do ambiente. Seria bom ter uma comissão de regulação do tourismo independente no futuro que poderia, por exemplo, verificar se os cruzeiros estão preparados para ir para a Antárctica. Também seria bom ter bilhetes grátis para educadores (professores de escolas primárias e secundárias) de modo a fazer a ligação com as novas gerações (já que os passageiros destes cruzeiros são mariotariamente de idade avançada, pois são eles que conseguem ter fundos para comprar os bilhetes). Em 2007, o primeiro cruzeiro de 3 000 passageiros visitou a Antárctica....1 ou 2 bilhetes poderão não fazer diferença...



















(A linda foca leopardo Hydrurga leptonyx a dormir| The beautiful leopard seal Hydrurga leptonyx sleeping)


É importante evidenciar que com o turismo há aspectos muito positivos. Ao permitir pessoas irem à Antárctica, encoraja o público a estar mais interessado na conservação e preservação polar. E ao verem com os seus próprios olhos tudo o que a Antárctica é, as pessoas ficam com uma melhor ideia do seu valor. Na verdade, o importante é que todos nós percebamos a importância da Antárctica para o planeta, e que ao visitarmos, o estejamos a ajudar....

















(Os primeiros passos do turismo na Antárctica estão dados| The first steps of the Antarctic tourism have been taken...)


The tourism in Antarctica has exploded!!!! 50 years ago, the first tourism cruise took place, carrying 200 passengers. In 2007, the first 3000 passenger cruise went to Antarctica. Now more than 30 000 tourists going to Antarctica every year....So, is tourism good for Antarctica? Well, it is well regulated by the International Association of Antarctica Tour Operators (IAATO), it brings awareness on conservation and preservation of the polar regions, most cruises have especialists onboard giving lectures and providing guidance on the science and ecology of the region. But is that enough? What are the impacts of tourism? At the moment, there is no strong evidence that tourism has had a significant impact on the plants, animals or landscape in Antarctica....but a constant monotoring of tourism in such a beautiful and amazing place surely needs to be maintained. Also, it would be good to have free tickets (say a couple per cruise) for teachers and educators so that no only "old people" enjoy the experience (as they are the one´s that can afford the tickets) but also making a link to the new generations, through education...

domingo, 9 de agosto de 2009

Podemos salvar o albatroz viajeiro?| Can we save the Wandering albatross?

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(Um avião? Não, um albatroz viajeiro Diomedea exulans| A plane? no, just a Wandering albatross Diomedea exulans over me)

Esta pergunta é uma das primeiras questões que nos vêm á cabeça...“o que são albatrozes viajeiros e porque razão estão eles em vias de extinção?"

Os albatrozes viajeiros são das maiores aves marinhas do mundo (podem chegar aos 3 metros de asa a asa), e literalmente passam toda a sua vida no mar. A única excepção a esse estilo de vida é quando têm de se reproduzir, o que acontece em cada 2 anos para eles. Ou seja, o macho e a fêmea só se veem de 2 em 2 anos! Se os albatrozes falassem, a palavra “saudade” teria sido inventado por eles.





















(eles podem ser deeeeste tamanho!!!| They can be thiiiiiis big!!!!)

Na sua grande maioria reproduzem-se em ilhas, como o caso de Bird Island, onde estou.


Na primeira vez que lá fui, em 1999, eu julgava ser o primeiro português a estudar albatrozes, mas cheguei 500 anos tarde demais. Quando os navegadores portugueses se aventuraram pelas costas de África pela primeira vez, encontraram umas aves marinhas de grandes dimensões, pretas e brancas, às quais chamaram “alcatrazes”, que nos séc. XV e XVI significaria grande ave marinha; mais tarde, os navegadores ingleses corromperam esta palavra para “albatross”. Estou a estudar aspectos da sua ecologia comportamental e conservação, algo que não poderia ser feito há 500 anos, e que poderá contribuir para os salvar da extinção. Isto fez-me sentir melhor…


















(Um pai a relaxar durante o Inverno| A dad relaxing during the Winter)


O modo de trabalhar com os albatrozes viajeiros transmite-se nesta pequena história abaixo...

José, um albatroz acabou de chegar! disse Dafydd, um colega biólogo marinho, a entrar em pânico à medida que o rádio receptor captava o sinal. Já tínhamos feito esta rotina muitas vezes, mas os nossos corações sempre aceleravam com a adrenalina quando um albatroz regressava a Bird Island, após uma longa viagem. Em segundos, pusemos as cinco camadas de roupa, emergimos da nossa base para um ar cortante a -10 °C, colocámos os skis e dirigimo-nos para a colónia, monte acima, onde albatrozes se têm reproduzido durante séculos.

















(Um albatross viajeiro para mais uma das suas viagens| A Wandering albatroz starting another foraging trip)

Apesar de ter feito este trajecto muitas vezes, sempre o vi como mais um passo para a realização do meu sonho, fazer ciência numa ilha remota e, mais importante ainda, contribuir para a conservação destas aves marinhas fascinantes. Os albatrozes são as maiores aves marinhas do mundo, podendo chegar aos três metros de asa a asa, reproduzindo-se cada dois anos na Geórgia do Sul. Depois de criarem o seu filhote, os albatrozes fazem uma viagem única no reino animal em torno da Antárctida, pela Austrália, pelo Oceano Índico e regressando à Geórgia do Sul pelo Oceano Pacífico. Neste momento, eles estão aqui e eu rodeado por eles. Dafydd e eu chegámos ao topo do monte e identificámos imediatamente o albatroz com que estávamos a trabalhar, com mais do dobro da minha idade. Estava mesmo junto ao ninho, onde o seu filhote o chamava.




















(A curiosidade nota-se tão bem nos seus olhos| Their curious look is obvious)


A maioria destas aves marinhas nunca viu um ser humano antes. Olham para os humanos com curiosidade e, se nos aproximarmos, não fogem. Depois de capturar esta ave de 12 kg, identificada como BL07 pelo anel que se encontrava na sua perna, e posto confortavelmente no colo do Dafydd, eu recuperei o aparelho de rastreio via satélite que se encontrava nas suas costas.
























(este pequeno aparelho GPS de 20 g, usados este ano, diz-nos onde o albatroz tem andado à procura de comida| This small GPS device (20 g) tell us where the albatross has been foraging)

Enquanto o albatroz se encontrava no mar, o aparelho enviou sinais para um satélite, que nos informava onde o albatroz se encontrava geograficamente. Todos os dias, recebi um e-mail a dizer onde o albatroz tinha estado, algumas vezes tão distante como o Brasil, uns milhares de quilómetros a norte. Uma das suas viagens pode demorar 50 dias. Daí ter exclamado numerosas vezes, com um sorriso estampado na cara, para os meus colegas na base “o albatroz está a caminho de casa, deve chegar amanhã!” Com esta informação, poderei responder a questões a que a comunidade científica debate há muito tempo, tais como onde os albatrozes se alimentam, de que se alimentam e como podem ser afectados pela pesca comercial. Neste momento, os albatrozes estão em vias de extinção. As fêmeas são apanhadas frequentemente pelos anzóis da pesca do palangre, atraídas pelo isco, que opera nas águas da América do Sul, enquanto os machos são ameaçados pela pesca costeira na Geórgia do Sul, ao pé da sua colónia.











(Uma viagem (a vermelho) ao sul do Brazil demora uma semana para eles; o circulo preto é para mostrar como interagem com currentes oceânicas, neste caso a frente sub-Antárctica (SAF)|A trip (in red) to the South of Brazil takes um to a week; the balck circle is to show how they interact with oceanic fronts, in this case the sub-Antarctic Front (SAF))


Para ajudar na conservação destes animais magníficos, o meu trabalho faz parte de vários programas internacionais cientificos para as regiões polares. Eu estou a fazer ciência que directa ou indirectamente vão ser usados para compreendeer melhor os comportamentos dos albatrozes, e sugerir maneiras de minimizar a sua mortalidade. Por exemplo, estudos já desenvolvidos mostraram que, ao usar-se linhas de anzol mais pesadas, estas afundam mais rapidamente imposibilitando os albatrosses de apanharem o isco. Outro exemplo, é o colocar os anzois só à noite, de modo aos albatrozes terem mais dificuldfade em verem os iscos. Estas são duas medias simples, mas extremamente benéficas, que puderão ajudar os albatrosses.


Espero que, daqui a 500 anos, quando os meus descendentes vierem à Geórgia do Sul, também eles tenham a oportunidade de ver albatrozes e que sintam o privilégio e a felicidade de estar aqui... tal como eu.



The wandering albatross Diomedea exulans is facing extinction. I thought I was the first Portuguese to study Wandering albatrosses but I was five hundred years too late. When fifteenth-century Portuguese sailors first ventured down the coast of Africa, they encountered large black and white birds with stout bodies, which they called alcatraz, the Portuguese word for large seabirds; English sailors later corrupted alcatraz to albatross. I was studying aspects of their diet and feeding behaviour in ways that could not be done five hundred years ago, information which may help save them from extinction. They are the biggest seabirds in the world, with a wing span of more than 3 metres. They can travel thousands of km and now we are deploying small devices to understand where they have been foraging (and potentially interacting with fishing vessels; wandering albatrosses are attracted to longline baited longline hooks and might get caught and drown). This is one of its main reasons for the declining of their populations worlwide. We are trying to help...

domingo, 2 de agosto de 2009

Evidências de Verão| Summer was here....

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(Magnífico arco-iris no Antárctico| Beautiful rainbow in the Antarctic)


Estamos em Agosto. Bom dia para viver na praia? Na Antárctica, deixou-vos decidir: estão -5 graus negativos, a neve é abundante, o (tímido sol) sempre aparece de vez em quando... mas continuo com um sorriso. Não estou sozinho: os pinguins gentoo Pygoscelis papua, os albatrozes viajeiros Diomedea exulans, as otários do Antárctico Arctocephalus gazella, os "pipits"Anthus antarcticus (pequeno passarinho da família Motacillidae, que me fazem lembrar pardais telhado) continuam felizes da vida em Agosto e isso transmite-se. Para mim, é-me dificil imaginar que a alguns (muitos!) milhares de km, em Portugal, estão todos com uma mochila pronta com toalha de praia, protector solar, chinelos e um livro, para mais umas horas de praia, apanhar umas ondas, apreciar mais um pastel de nata entre 2 cornetos (experiência pessoal!!!) e ler o jornal do dia...

Levanto a questão: foi sempre assim? A Antárctica foi sempre uma região gelada e fria? Nem por isso...























(Pinguim rei Aptenodytes patagonicus estão super confortáveis no frio| King penguin Aptenodytes patagonicus are pretty used to the cold)


As evidências de que a Antárctica já foi quente e cheia de florestas verdejantes (como as nossas em Portugal, particularmente no Norte) estão lá. No início do sec. XX, o famoso explorador britânico Ernest Shackleton encontrou os primeiros fosséis de madeira e de árvores junto ao glaciar Beardmore (em 1908) na parte Este da Antárctida (junto ao Mar de Ross). A partir daí, não havia mais dúvidas! Mas levantou-se logo outra questão: como foi isso possível? E o que é que aconteceu para fazer da Antárctica a região mais fria do planeta, quase totalmente coberta de gelo e neve?


















(O passarinho que vive mais a sul do planeta, "pipit" Anthus antarcticus | The most southernly distributed passerine in the planet, Antarctic pipit Anthus antarcticus)


A resposta veio da Alemanha! Apenas 4 anos depois de Shackleton ter descoberto estas evidências, Alfred Wegener (que, em sua honra, tem um famoso Instituto com o seu nome) propôs a sua famosa teória da Deriva Continental ("Continental drift"; que depois fez parte da teoria das placas tectónicas), em que defendia que inicialmente os continentes (África, Ásia, Europa, Oceânia e Antárctida) estavam todos juntos num único super continente chamado Pangaea antes de se começarem a separar (Há 200 milhões de anos) e derivarem até a sua posição actual. Mas não foi fácil convencer toda a gente, isto porque Alfred não conseguiu justificar qual o processo que possibilitava isso acontecer, pois mover continentes não é fácil. Só com as investigações nos anos 1950´s sobre o fundo do mar começaram a trazer evidências sobre o comportamento magnético dos fundos submarinos. Estudos mostraram que as forças geradas pelas correntes de convecção do manto terrestre são fortes o suficiente para deslocar as placas tectónicas dos continentes. Entre 1912 e e os 1950´s esta teoria de Alfred esteve posta de lado...interessante não é? Quantas teorias estarão à espera de provas hoje em dia...mais uma evidência que o conhecimento da ciência está sempre em desenvolvimento...

Assim, estava justificado o porquê de a Antárctida tido florestas à mais de 200 milhões de anos, quando se encontrava mais perto do equador. Nessa altura, os dinossauros viviam numa região Antárctica sem gelo. Actualmente conhecemos cerca de 8 espécies de dinossauros que viveram na Antárctica, incluindo em regiões muito próximas a onde se encontra o Pólo Sul hoje ....e como seria no Árctico?


















(O frio é intenso...mas é lindo ver ocmo a neve cobre tudo|The cold is tremendous but it is beautiful to see how the snow covers everything)



O Oceano Árctico tinha reptéis parecidos com crocodilos e era um autêntico lago de água doce!!!!! Hoje em dia existe fortes evidências que há 50 milhões de anos, pelo menos a superfície do Oceano Árctico era de água doce., pois encontra-se isolado do outros Oceanos. E mais, a temperatura da água andava por volta dos 22 graus Celcius....hummm, nada mau comparado com os 18 graus das nossas àguas de Viana do Castelo, Peniche, Costa da Caparica ou de Sagres durante o Verão... acho que vou dar um mergulho!!!!!


We are in August. In Europe, every country has one main thing in mind: let´s go for a swim. If in Portugal, Spain, France or Italy, the country stops and everybody goes to the beach!! Everyone has a bag with a towel, sun protectoin cream, sandals and a book ready to go! In Antarctica, the temperatures are below zero, storms are constant, icebergs everywhere...so I question: has Antarctica always been like this? The answer is NO. Ernest Shackleton collected fossils from Antarctica in 1908, bringing into light that Antarctica was once warm and covered by forests. Furthermore, it had dinossaurs too!!!! Four years later, the german Alfred Wegener proposed his "continental drift" theory that continents were initially together before drifting apart into their present position. Although Alfred´s theory took 40 years to be fully accepted (more evidence was needed to justify how the continents drifted, through the tectonic plates), it is now fully acknowledged by geologists. And what about the Arctic? The Arctic Ocean was a gigantic freshwater lake that had reptiles similar to crocodiles and waters whose temperature could reach more than 20 degrees celcius...not bad to challenge anybody going for a swim in 18 degrees celcius waters in West Portugal....I am going for a swim...