Sono profundo. O
navio baloiça suavemente para um lado...e para o outro. De repente, bem longe
ouço algo estranho. “É o telefone?” questiono eu ainda sonolento. Acordo e
compreendo que alguém me está a ligar. Será algo urgente? Passa-se alguma coisa
importante? São 2 da tarde, o que significa que deverá ser algo MUITO
importante pois o meu turno terminou às 6 da manhã e estive a trabalhar até às
9.30 da amanhã. Ou seja, estou ainda no primeiro sono . Era o Jon Watkins, o
responsável da expedição científica. “José, tens de vir já à ponte do navio!
São baleias, MUITAS baleias. Tens de vir cá ver isto!!!!” A excitação era
grande na sua voz. Para alguém que já fez mais de 25 expedições científicas à Antártida,
isto deverá ser extraordinário...e era!!!
Estamos no meio do Oceano Antártico,
longe de tudo e de todos, apenas perto das Ilhas Orcadas do Sul, cuja população
deverá não passar de algumas mãos cheias de cientistas e suas equipas. Ali, bem
no “fim do mundo” estávamos literalmente rodeados de baleias. MUITAS baleias.
Eram maioritariamente Baleias comuns (Fin Whales) e Baleias de Bossa (Humpback
Whales). Eram muitas em redor do navio. Vários colegas já
tinham passado muito tempo na proa do navio a tirar fotografias do que se
estava a passar. Porquê ter de repente tantas baleias aqui? Seria curiosidade
delas em relação ao navio? Olhámos para o sonar (equipamento que deteta o que
se encontra debaixo de água, usando o som) e percebemos o porquê. Estávamos
mesmo por cima de um cardume GIGANTE do camarão do Antártico Euphausia superba, com vários km de
comprimento e de largura. As baleias estavam ali por causa do seu alimento!
Foi
incrível estar muito perto das baleias, que com certeza nunca viram um navio na
sua vida. A nossa curiosidade e a delas devia ser semelhante. Nessa manhã, além
das baleias, havia também muitos lobos marinhos e pinguins de barbicha em redor
do nosso navio (além de aves voadoras que nos acompanham sempre: petreis do
cabo, albatrozes de sobrancelha preta,...). Ali tivemos mais uma vez aquela
sensação de que como estivéssemos num jardim zoológico , mas desta vez eram as
baleias a olhar para nós...fantástico!
Após este
encontro, com a descrição detalhada registada cientificamente pelos nossos
colegas Noruegueses, ficou nevoeiro, o cardume acabou e deixámos de as ver. E
este episódio desvaneceu-se tão rapidamente como surgiu. Momento depois,
continuámos com a investigação e usámos uma rede mais pequena (RMT8) para
apanhar algum camarão deste cardume, de modo a percebermos melhor quais as suas
características (se continha camarão do Antártico ou também havia outras
espécies, os seus tamanhos, as suas quantidades). Conclusão: as baleias sabem exatamente o que
fazer, e num Oceano gigante, preferem ficar bem juntas do seu alimento. Se, no
futuro, precisamos de encontrar o camarão do Antártico, é só procurar baleias. Estamos já entusiasmados com o nosso próximo
passo: vamos recolher amostrar em zonas menos profundas e é bem possível que
vamos encontrar espécies novas. Continua atento(a)! (Muito obrigado ao Richard Turnner, Mike Gloistein e John Horne por algumas das fotos!)
Deep sleep. The
RRS James Clark Ross moves smoothly to one side...and then to the other.
Suddenly, far away I hear something strange. “Is this the telephone?”, I
wondered still half asleep. I wake up and understand that actually that is
someone trying to call me. Would it be urgent?
Something important? I tis 2pm, whcih means that something REALLY
IMPORTANT is going on as my work shift ended at 6am but had others things to do
up to 9.30am. Therefore, everyone knew I was in my deep sleep. It was Jon
Watkins, the Principal Scientific officer of the Expedition. “José, you must
come to the bridge! There are whales, MANY whales. It is worth seeing this!”,
said Jon excited. For someone that has made more than 25 Antarctic expeditions,
it must be extraordinary...and it was! We were in the middle of the Southern
Ocean, far away from everywhere, only close to the South Orkneys (~60 S 47 W),
whose population does not reach a few hands of people (only scientists and
their teams). Right here, literally in the “end of the World”, we were
surrounded by so many whales. There were mainly Humpack and fin whales. There
were numerous, some very close to the ship. Various colleagues of ours spent
considerable time at the bow fo the ship taking photos. Why suddenly so many
whales here? Were they curious about us? We looked at the Sonar (equipment that
detects what is in the water, using sound) and understood why. We were right on
the top of a massive Antarctic krill shoal that had km of length and width.
Whales were there for their food! It was incredable being so close to these
amazing animals. Their curiosity were the same as ours. In this morning, other
than whales, there were also Antarctic fur seals and chinstrap penguins (alnog
with flying seabirds that has been with us all through the expedition: cape
petrels, black-browed albatrosses, ...). Then, I had the feeling once again of
being in a zoo, in which the animals were the one´s looking at us...fantastic!
After this event, that got a full scientific description by our Norwegian
colleagues, it got foggy, the Antarctic krill shoal stop showing in the sonar
and we stopped seeing them. This episode
disappeared almost as quickly as it started. A few moments later, we continued
with our research work, and used a smaller net (RMT8) to assess the shaol we
have seen in oder to understand its caracteristics (if only contained Antarctif
krill or other species, its sizes, its quantities). Conclusion: Whales know
exactly what to do in the middle of the Ocean, staying close to their food. How
do they do that, i tis still poorly understood. By the way, if we want to find
Antarctic krill, just keep an eye for whales. Next stop: collecting samples on
the shallower waters where we may find other species we have not found before.
Stay tuned! (Thank you to Richard Turnner, Mike Gloistein and John Horne for some of the photos)
Jose Xavier & Jose Seco
1 comentário:
Interessante. A cadeia alimentar a funcionar no seu melhor. Ver esse cardume ao vivo. Muita sorte, grande experiência,Deve ser incrível. Parabéns.
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