O esforço para
obter cada amostra no Oceano Antártico é enorme, quer financeira quer
emocionalmente. Financeiramente, pois os recursos logísticos para cada dia de
cruzeiro científico é muito grande. Mais, existem varios imprevistos. Ora está mau tempo, ora um dos motores não
funciona, ora não é possível por questões de agenda, o que converge a que cada
amostra recolhida é considerada preciosa. É também o trabalho de muitos colegas
para que finalmente consigam ter aquelas amostras prontas para analisar. Os cefalópodes
(grupo que animais que inclui lulas, polvos e chocos) são um exemplo. Deste
grupo de animais, na Antártida não existem chocos e polvos ainda se estão a descobrir
novas espécies. Tenho trabalhado nas lulas do Oceano Antártico há quase 20
anos, e continuam a fascinar-me (e a muitos(as) ecologistas :)). A maioria da
informação disponível destes organismos são através dos seus predadores
naturais.
(aqui temos um cardume do camarao do antarctico em forma de coracao...que ocorreu durante este cruzeiro :))
Aliás muita da
informação veio do tempo da caça à baleia, quando se estudava os conteúdos
estomacais. Pode-se encontrar cerca de 50 espécies de lulas nas dietas dos seus
predadores naturais do Oceano Antártico.
No entanto, quando se usa redes científicas, o número de espécies
capturadas é muito menor, isto porque elas são extremamente rápidas e evitam
facilmente as redes.
Assim, sempre que se apanha uma lula, há festa! Neste
cruzeiro já apanhámos 3 espécies diferentes, tal como previsto: Galiteuthis glacialis, Psychroteuthis glacialis e Slosarczykovia circumantarctica.
Num
artigo científico nosso que está prestes a sair, mostrámos onde estas espécies
poderão estar distribuídas (Xavier et al
2016 Ecosystems online). Estas espécies possuem uma distribuição circumpolar no
Oceano Antártico (ou seja, está presente em todos os seus sectores (Pacífico,
Atlântico e Índico)) sendo endémicas do Oceano Antártico (ou seja, são
originárias destas águas). No entanto, a distribuição de Galiteuthis glacialis pode extender-se até águas mais quentes (até
à Frente Sub-Tropical (Define-se Frente
Oceânica como uma zona de água do Oceano onde as temperaturas variam
drasticamente. Por exemplo a Frente Polar Antártica (APF) é a frente que divide
águas Antártica (com temperaturas entre aproximadamente -1 até aos 2 graus
Celcius) e águas sub-antárticas (com temperaturas dos 2 graus Celcius até aos 8
graus Celcius ou mais). A distribuição
de Psychroteuthis glacialis e Slosarczykovia circumantarctica pode
extender-se até norte da Frente Sub-Antártica. Todas estas espécies estão
presentes na dieta de numerosos predadores, incluindo baleias, albatrozes e
pinguins. O esforço para obter amostras destas belas criaturas é gigantesco,
por isso quando temos um estudante para fazer uma tese (normalmente de
Mestrado) e lhes damos algumas amostras, relembramos sempre o esforço que foi
para as obter. E claro, mostrar-lhes o gosto pela ciencia e o quando fascinantes estes animais são. Feliz Dia de São Valentim!
The effort to obtain each sample in the Southern
Ocean é very high, both financially and emotially. Financially, the logistical resources for
each day in a research cruise are very high (imagine how much is to maintain a
research ship with a 30 member crew in the Southern Ocean). Emotially too, as
issues come up daily (as normally does in the Antarctic). A storm not planned comes in and reduces our time to
collect samples, an equipment stopped working so we need time to repair it,...all
of these are common while doing Antarctic research. The conclusion is: every
sample is extremely precious. It is also the time of many colleagues that
invest their time and helped collecting the samples. No wonder we are reminding
this to our University students everytime... The example of the cephalopods
(group that comprises squid, octopods and cuttlefish) is obvious. From this
group in the Antarctic, cuttlefish does not exist and new species of octopods
are still found today. I have been working on Antarctic squid almost in the
last 20 years, and they continue to fascinate me (and many other ecologists).
The majority of the information of the organisms is from their natural
predators, such as albatrosses, seals and whales. Indeed, much of the
information came from the gut contentes of whales, during whaling in the XX
century. For example, we can find more than 50 species in the diets of
predators. However, when using nets, only a few species are caught, due to the
nets being too slow for the fast squid. But to understand their biology,
physiology and ecology, we must pursue in catching them using nets. Everytime
we catch a squid in our nets, we have a word of praise in the laboratory. In
this cruise, we already caught 3 different species of squid, whose information
will be extremely valuable to us: Galiteuthis glacialis, Psychroteuthis
glacialis and Slosarczykovia circumantarctica. In one of our latest research
papers, we show where these species may be distributed (Xavier et al 2016
Ecosystems online). All these species have a circumpolar distribution in the
Southern Ocean (i.e. They occur all around the Antarctic continent, in the
Indian, Pacific and Atlantic sectors of the Southern Ocean), being endemic
(means originally from) to these cold waters. However, the distribution of Galiteuthis
glacialis can extend up to the Subtropical Front (Ocean Front is an Ocean área
where temperatures change considerably in a short space. Example the Antarctic
Polar Front divides the warmer water of up to 8 degrees Celcius from the colder
waters of the Antarctic that usually ranges from -1 and 2 degrees Celcius). The
distribution of Psychroteuthis glacialis and Slosarczykovia circumantarctica can
extend north of the Sub-Antarctic Front. All of these species are found in
numerous predators of the Southern Ocean. In conclusion: when we have a student
to do a thesis with us and we provide them with sampels from the Southern
Ocean, we remind them of all the effort that was needed to get them. And of course, our passion for science and the love for these animals. Happy St.
Valentine´s Day!
Jose Xavier & Jose Seco
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