domingo, 14 de fevereiro de 2016

As criaturas mais belas | The most beautiful creatures








O esforço para obter cada amostra no Oceano Antártico é enorme, quer financeira quer emocionalmente. Financeiramente, pois os recursos logísticos para cada dia de cruzeiro científico é muito grande. Mais, existem varios imprevistos. Ora está mau tempo, ora um dos motores não funciona, ora não é possível por questões de agenda, o que converge a que cada amostra recolhida é considerada preciosa. É também o trabalho de muitos colegas para que finalmente consigam ter aquelas amostras prontas para analisar. Os cefalópodes (grupo que animais que inclui lulas, polvos e chocos) são um exemplo. Deste grupo de animais, na Antártida não existem chocos e polvos ainda se estão a descobrir novas espécies. Tenho trabalhado nas lulas do Oceano Antártico há quase 20 anos, e continuam a fascinar-me (e a muitos(as) ecologistas :)). A maioria da informação disponível destes organismos são através dos seus predadores naturais.



(aqui temos um cardume do camarao do antarctico em forma de coracao...que ocorreu durante este cruzeiro :))





 Aliás muita da informação veio do tempo da caça à baleia, quando se estudava os conteúdos estomacais. Pode-se encontrar cerca de 50 espécies de lulas nas dietas dos seus predadores naturais do Oceano Antártico.  No entanto, quando se usa redes científicas, o número de espécies capturadas é muito menor, isto porque elas são extremamente rápidas e evitam facilmente as redes. 












Assim, sempre que se apanha uma lula, há festa! Neste cruzeiro já apanhámos 3 espécies diferentes, tal como previsto: Galiteuthis glacialis, Psychroteuthis glacialis e Slosarczykovia circumantarctica












Num artigo científico nosso que está prestes a sair, mostrámos onde estas espécies poderão estar distribuídas (Xavier et al 2016 Ecosystems online). Estas espécies possuem uma distribuição circumpolar no Oceano Antártico (ou seja, está presente em todos os seus sectores (Pacífico, Atlântico e Índico)) sendo endémicas do Oceano Antártico (ou seja, são originárias destas águas). No entanto, a distribuição de Galiteuthis glacialis pode extender-se até águas mais quentes (até à Frente Sub-Tropical  (Define-se Frente Oceânica como uma zona de água do Oceano onde as temperaturas variam drasticamente. Por exemplo a Frente Polar Antártica (APF) é a frente que divide águas Antártica (com temperaturas entre aproximadamente -1 até aos 2 graus Celcius) e águas sub-antárticas (com temperaturas dos 2 graus Celcius até aos 8 graus Celcius ou mais).  A distribuição de Psychroteuthis glacialis e Slosarczykovia circumantarctica pode extender-se até norte da Frente Sub-Antártica. Todas estas espécies estão presentes na dieta de numerosos predadores, incluindo baleias, albatrozes e pinguins. O esforço para obter amostras destas belas criaturas é gigantesco, por isso quando temos um estudante para fazer uma tese (normalmente de Mestrado) e lhes damos algumas amostras, relembramos sempre o esforço que foi para as obter. E claro, mostrar-lhes o gosto pela ciencia e o quando fascinantes estes animais são. Feliz Dia de São Valentim!


 

















The effort to obtain each sample in the Southern Ocean é very high, both financially and emotially.  Financially, the logistical resources for each day in a research cruise are very high (imagine how much is to maintain a research ship with a 30 member crew in the Southern Ocean). Emotially too, as issues come up daily (as normally does in the Antarctic). A storm not planned comes in and reduces our time to collect samples, an equipment stopped working so we need time to repair it,...all of these are common while doing Antarctic research. The conclusion is: every sample is extremely precious. It is also the time of many colleagues that invest their time and helped collecting the samples. No wonder we are reminding this to our University students everytime... The example of the cephalopods (group that comprises squid, octopods and cuttlefish) is obvious. From this group in the Antarctic, cuttlefish does not exist and new species of octopods are still found today. I have been working on Antarctic squid almost in the last 20 years, and they continue to fascinate me (and many other ecologists). The majority of the information of the organisms is from their natural predators, such as albatrosses, seals and whales. Indeed, much of the information came from the gut contentes of whales, during whaling in the XX century. For example, we can find more than 50 species in the diets of predators. However, when using nets, only a few species are caught, due to the nets being too slow for the fast squid. But to understand their biology, physiology and ecology, we must pursue in catching them using nets. Everytime we catch a squid in our nets, we have a word of praise in the laboratory. In this cruise, we already caught 3 different species of squid, whose information will be extremely valuable to us: Galiteuthis glacialis, Psychroteuthis glacialis and Slosarczykovia circumantarctica. In one of our latest research papers, we show where these species may be distributed (Xavier et al 2016 Ecosystems online). All these species have a circumpolar distribution in the Southern Ocean (i.e. They occur all around the Antarctic continent, in the Indian, Pacific and Atlantic sectors of the Southern Ocean), being endemic (means originally from) to these cold waters. However, the distribution of Galiteuthis glacialis can extend up to the Subtropical Front (Ocean Front is an Ocean área where temperatures change considerably in a short space. Example the Antarctic Polar Front divides the warmer water of up to 8 degrees Celcius from the colder waters of the Antarctic that usually ranges from -1 and 2 degrees Celcius). The distribution of Psychroteuthis glacialis and Slosarczykovia circumantarctica can extend north of the Sub-Antarctic Front. All of these species are found in numerous predators of the Southern Ocean. In conclusion: when we have a student to do a thesis with us and we provide them with sampels from the Southern Ocean, we remind them of all the effort that was needed to get them. And of course, our passion for science and the love for these animals. Happy St. Valentine´s Day!


Jose Xavier & Jose Seco



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