sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Regresso | Returning to the real world

A escrever a partir de Cambridge (Reino Unido)
Writing from Cambridge (UK)

















(Bird Island é a segunda ilha a partir da direita| Bird Island is the second island from the right)



Estou de regresso à civilização. Voltar a estar com muitas pessoas volta a ser estranhamente normal. Mas já houve coisas que me aconteceram que me disseram que ainda estou no periodo de adaptação a tudo. Vários exemplos...



Toda a gente é mais linda! Após um longo Inverno, onde 4 caras eram sempre as mesmas, quando passei pelas Falkland começei a ver outras pessoas com outros olhos. É engraçado que todos me pareciam mais bem parecidos do que o normal. Interessante!


















(Será que novos parametros de beleza vieram da Antárctica?| Could it be that beauty as we see it may origin from the Antarctic? Why not?;))


Lembrar do que precisas quando sais de casa. Quando passamos a vida em comunidade, fazemos coisas automaticamente. Ao sair de casa é automático: pegar no telemóvel, carteira, chaves e relógio e vamos embora. Mas quando passas tanto tempo na Antárctica, onde não precisei nada disso, relembrar o que precisas demora um pouco. Engraçado que o meu telemóvel "faleceu" na Antárctica...nem um pequeno sinal de vida;)

















(O sol é sempre bem vindo| The sun is always welcome)


Saber usar o cartão de crédito no supermercado. Já em Cambridge, foi às compras a um supermercado. Demorei muito mais tempo do que o costume, ver onde colocaram os produtos, analisar os melhores preços...demorou tempo pois na Antárctica temos o nosso próprio supermercado onde já sabemos onde está tudo e é grátis. O engraçado foi ao pagar, quando nem me lembrava do codigo nem como se processava o pagamento. Foi engraçado ver a senhora da caixa registadora a olhar para mim com um pequeno sorriso a explicar-lhe que "o cartão põe-se assim e agora é só colocar o codigo."


















(Rodeado de pinguins| Surrounded by macaroni penguins)


Estar no meio de uma multidão. Passei vários meses onde eramos 4 cientistas. Estar no Market Square, em Cambridge num Sabádo de manhã, onde várias centenas ou milhares de pessoas andam de um lado para o outro, super ocupados com as compras semanais, foi uma autêntica festa. Cambridge é excelente pois reune pessoas de todo o mundo, e mais uma vez essa sensação de diversidade humana, todos juntos, felizes com o seu dia a dia, foi bom. O mundo continua mesmo que estejas longe...

É sempre Inverno! Fazer ciência na Antárctica durante o Inverno Austral tem destas coisas. Como lá é Inverno entre Junho e Outubro (e todos em Portugal estão de toalha às costas para ir para a praia), na prática apnho 3 Invernos de seguida: Inverno de 2008-09 no hemisferio norte (Outubro a Março), Inverno na Antárctica 2008-09 no hemisfério sul (Março a Outubro) e agora volto a apanhar o Inverno no hemisfério norte...fácil perceber as saudades do sol....


























( Quem, eu? | Who, me?)


Próximo passo: reuniões! Agora estou com reuniões todos os dias mas tudo bem. Voltar a entrar no ritmo não custa, pois a alegria de rever os amigos e colegas todos sobrepõe-se a tudo. Agora estou na hora de definir novas estratégias de como podemos ajudar todos a perceber a importãncia das regiões polares. De certeza que aventuras não faltarão...mas as marcas da Antárctica ficaram marcadas em mim para sempre...



I am back in the real world, with people and stuff. Being surrounded by more than 4 people is strangely normal. In numerous occasions, I was reminded that I was still in an adaptation period: 1- Everyone looks more beautiful. As I saw other people, all of them looked nicer, more interesting to meet in the Falklands, 2- Remember what you need. When leaving home it was hard to remind myself that I need a mobile, wallet, watch and keys, 3- Know how to use a credit card. While in the supermarket, it was funny to see the smile of the lady of the payment desk while showing me how to use my credit card and where to put it for the payment (the system changed while I was away), 3- Being in a crowd. Cambridge is great on Saturday mornings when hundreds/thousands of people decide to go shopping in the city centre. Being surrounded by them , made me feel that world carries on, with or without you...it was nice!, 4- It is always winter. This is my 3th Winter in a row!!! I done the Winter 2008-09 in the north hemisphere (October-March), Winter 2008-09 (March-October) in the South hemisphere and now Winter again in the north hemishpere. No wonder I love the sun!!! The next step in to get a new strategy to show everyone of the importance of the polar regions....Surely new adventures will come but the Antarctic expereinces will be part of me forever...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Retroceder no tempo| Go back in time

A escrever a partir de Signy Island (Antárctica)
Writing from Signy Island (Antarctic)













(Base cientifica Britanica em Signy Island | Signy Island Research Station of the British Antarctic Survery, Natural Environment Research Council)


Foi como um sonho. Apareceu sem perceber, ocupou todos os meus momentos por horas e desapareceu tal como surgiu. Signy Island é assim...um sonho. E como já estou a escrever a partir do RRS James Clark Ross, o navio oceanográfico da British Antarctic
Survey, já a caminho das Ilhas Falklands, após 3 dias “a correr” em Signy Island, parece inglório.













(Gelo a quebrar-se| Climate change in action!)

Signy Island fica nas Orcadas do Sul, junto ao continente Antárctida e fica a 3 dias de navio a sul de Bird Island. Ter ido a Signy Island é como ir a Bird Island em Julho ou Agosto. Retrocedes no tempo. Em Signy Island ainda está tudo coberto de neve espessa, vê-se uns poucos elefantes marinhos curiosos e algumasotárias do Antárctico. O único som vibrante que causa uma alegre impressão é o som dos pombos Cape (também chamados Cape Petrels) que fazem uma autêntica festa na colónia mesmo ao lado da base, nuns rochedos enormes. Como analogia, Bird Island é agora como o calor de Agosto do nosso Verão enquanto Signy ainda está com o calor de Maio. Bird Island transborda de vida agora, com animais por todo o lado, mesmo sendo uma epoca um pouco estranha cientificamente.










(Dizer adeus!| Saying goodbye)

Antes de chegar a Signy Island, repara-se no tom cinzento do céu que me faz lembr

ar a cor nostálgica de o primeiro dia de cada ano quando acordamos um pouco mais cansados do que o normal. As Orcadas do Sul evidenciam força nas suas montanhas com neve que sobrevivem à milhares de anos contra este clima violento, e muitos icebergues, alguns deles já de um tamanho apreciável. O navio abrandou a velocidade em caso de haver um icebergue mais disfarçado que nos possa causar transtorno. No dia seguinte foi acordar às 7 da manhã para tratar de ajudar a abrir a base cientifica de Signy, onde se faz muitos estudos de pinguins (Adélie e chinstrap) e também de lagos e de vegetação.










(Elefante marinho em Signy Island| Elephant seal at Signy Island)

Os 2 dias seguintes foi tratar de pôr os geradores de energia a funcionar, deslocar montes de neve para fora do perimetro da base, e no final abastecê-la de mantimentos para os próximos meses. Foi intensivo mas interessante pois deu-me uma perspectiva do que é preciso numa base cientifica, toda a enorme logistica (temos de saber onde estão todos os pacotes em qualquer altura) e como todos colaboram como uma equipa.










(As despedidas| The last words...)

Foi o mesmo em Bird Island há uma semana atrás. Transportar tudo o que não era necessário para o navio e abastecer a base com comida, material cientifico e tudo o que é necessário para a base funcionar a 100% nos próximos meses. E todo este trabalho para que todos os cientistas possam trabalhar em segurança e realizar os seus estudos...pois tudo isto é por causa da ciência!

Já disse adeus a Signy Island e às maravilhosas 6 pessoas que lá ficaram. Agora, é olhar para o futuro...Ilhas Falklands, Reino Unido, Portugal...e voltar a casa com um grande sorriso!!!

Até já!










(no mar alto junto as Orcadas do Sul| In high seas offshore South Orkneys)

It was like a dream!It came like an unexpected guest, took all your attention for hours and then left just as it arrived... Signy Island is like that...a dream! I am already writing from the RRS James Clark Ross, of the British Antarctic Survey, on our way to the Falkland Islands. And after so busy 3 days, there is a sense of injustice as time flew so fast. Signy Island is part of the South Orkneys, very close to the Antarctic continent, and 3 days from Bird Island, which further north. Going to Signy Island is like going back in time. Whereas Signy Island is still covered with lots of snow and there are numerous icebergues around, at Bird Island the snow is already scarce and animals are everywhere, even if this season is a strange one. We came here to open the Signy Island research Base of the British Antarctic Survey. There will be 6 people this summer working on penguins, lichens and seals. Already said goodbye to the people that stayed there and now I am looking forward to the future, to be in the Falkland Islands, UK and going back home with a huge smile...

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Explicar para perceber| Explain to understand

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)










(Pinguim Macaroni Eudyptes chrysolophus a construir o seu ninho esta semana| A Macaroni penguin Eudyptes chrysolophus constructing its nest this week)

Estou prestes a deixar Bird Island! Sinto que é como deixar um grande amigo após termos passado uns excelentes dias/semanas (nestes caso meses) juntos. Sim, temos uma alegria imensa de termos vivido grandes aventuras juntos, de ter partilhado momentos únicos que nos vão ficar marcados para o resto da vida. Pode ser desde as pequenas coisas como o som dos pequenos passarinhos (chamados pipits) que nos acompanha ao longo do nosso percurso até às colónias de pinguins e albatrozes, da alegria que ver o primeiro elefante marinho de 3-4 toneladas, de pegar novamente num pinguim, de me deixar fazer snowboard nas suas encostas, a apreciar como um pinguim macaroni usa as suas pedras para formar o seu ninho e ouvir o som de “avião” de um albatroz viajeiro a chegar à sua colónia.












(40 000 pinguim Macaroni Eudyptes chrysolophus na colónia em Big Mac| 40 000 Macaroni penguins Eudyptes chrysolophus at Big Mac colony)


Esta expedição cientifica, a mais longa de sempre para um cientista português na Antárctica, foi deveras apaixonante. Cientificamente, foi sem dúvida! Os meus estudos sobre a dieta dos pinguins gentoo durante o Inverno mostram uma diversidade de alimentos muito elevada, talvez demais do que costuma ser. Sabendo que os pinguins gentoo normalmente alimentam-se do camarão do Antárctico (e por veze

s de peixe) e pouco mais, regressam todos os dias a terra e normalmente procuram alimento num raio de 20 km , estes resultados leva-me a supor que as populações de pinguins gentoo na Geórgia do Sul poderão ser afectados com alterações acentuadas de alterações climáticas que podem afectar o sistema marinho.
















(Albatroz viajeiro Diomedea exulans após mais uma das suas viagens pela Antárctica e arredores| Wandering albatross Diomedea exulans after another trip in Antarctic and adjacent waters)


Os estudos de rastreio por GPS de albatrozes viajeiros mostram que existe uma ligação forte entre as areas sobrevoadas (quando estão à procura de alimento) ao longo do ano, com as suas viagens a deslocaram-se cada vez mais para norte (para perto do Brazil), em vez que ficarem em águas do Antárctico. Mais existe uma ligação também associada ao que se alimentam, com uma mudança de dieta de peixe (do Antártico) para lulas (do sub-Antárctico), com estas lulas a aparecerem com espermatóforos (o que significa que se estão numa fase avançada de idade e prontas para se reproduzir). Tudo isto, neste Inverno....

















(Albatroz de sobrancelha preta Thalassarche melanophrys| Black-browed albatross Thalassarche melanophrys)

Mas tal como quando alguém muito querido nos deixa, existe uma sensação de nostalgia que se transmite com a sensação de “nunca mais vou viver estes momentos contigo.” Pelo menos neste contexto, com estas pessoas, com estes animais, com estas questões cientificas por responder...

Para perceber o quanto importante Bird Island é, nada melhor do que a mostrar a pessoas que nunca a conheceram. Dizer-lhes que o seu humor é único, que os seus albatrosses preferem voar o longo dos seus montes , que os elefantes marinhos só aparecerem a partir do fim de Setembro, que os pinguins Macaroni agora são cerca de 40 000 e são só os machos (as fêmeas veem a caminho), que os albatrosses sooties voam aos pares, reproduzem-se em autênticos desfiladeiros e que possuem uma voz hipnotizante.



Quando o navio James Clark Ross chegou, no dia 1 para fazer a “first call”, onde tudo o que é necessário para esta época é enviado para Bird Island (comida, combústivel, material cientifico, literalmente tudo) e material reutilizável (e para ser descartado) é enviado para o navio. Para ajudar temos 15-20 pessoas a nos ajudar. Tive o prazer de levar algumas destas pessoas para obervarem ao vivo a colónia dos “meus” albatrozes, colónia dos pinguins Macaroni de 40 000 pinguins, as colónias dos albatrozes de cabeça cinzenta e de cabeça preta, e os elefantes marinhos e as otárias do Antárctico nas praias. Enquanto explicava alguns pormenores da biologia das várias espécies, onde costumam viver, quando se reproduzem, do que se alimentam, de como é pegar num pinguim,...tudo isso me levou a mais uma vez perceber o quanto fabulosa esta ilha é. Todos os presentes tinham os olhos a brilhar de satisfação....

Mas claro, com o tempo passa, e a vida continua...até breve Bird Island!


I am about to leave Bird Island. It feels like leaving one of our dearest friends after spending a great few days/weeks/months together and now you get the feeling that you might not see them again. Even the little things are special to remember, like the pipits singing to me on my way to the wandering albatross colony, like try to guide me, or the privilige of touching penguins with my own hands, or hearing the sound of sooty albatrosses live! Scientifically, it was a great season. Gentoos had a very strange Winter, feeding on amphipods, which was quite a surprise as they were expected to feed on krill mostly. The wandering albatross GPS work showed that squid play a major role in their diets, but increasingly so as the season develops. It is hard to leave Bird Island. It is like having the feeling of knowing that these moments might not repeat again ever. To understand how important Bird Island is, there was nothing better that showing it to people. On the James Clark Ross first call, I had the opportunity to talk about the science, the fauna and flora of why Bird Island is so special. The great pleasure of showing a colony of Macaroni penguins with 40 000 penguins, or going through a colony of the amazing wandering albatrosses. It is time to leave Bird Island...life must go on...see you soon Bird Island!

domingo, 25 de outubro de 2009

Ser grande ajuda| Being big helps!

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(Olá!!!!!!!!!!!!! diz o nosso amigo elefante marinho Mirounga leonina| Hellooooooooooooooooooooo says our dearest friend elephant seal Mirounga leonina)

Ser grande ajuda! E muito mais quando se vive na Antárctica. Todo este ambiente gelado, com a água e o ar tão frios , fez com que os animais tenham criado mecanismos de sobrevivência; os peixes têm enzimas que evitam o seu congelamento, os pinguins possuem penas tão juntas umas às outras que a água não penetra (e nunca lhes chega à pele) e até as otárias do Antárctico possuem um pêlo espesso. Mas para mim , o animal que mais me supreendeu este Inverno, foi sem dúvida o elefante marinho do Antárctico Mirounga leonina. Eles têm uma autêntica "pele dupla", seguida por espessa gordura, que os faz estar super confortáveis neste ambiente. Literalmente, eles a Antárctica é o seu Algarve!

Apesar de ter vindo à Antárctica algumas vezes, nunca tinha estado por cá entre o meio de Setembro e Dezembro. É nessa altura que os elefantes marinhos começam a voltar à Geórgia do Sul para se reproduzirem. Este ano foi a primeira vez que vi um macho elefante marinho em Bird Island. Eles são GIGANTES!!!!!! E apesar do seu tamanho, supreendeu-me a sua agilidade. Conseguem mover-se rapidamente, em 180 graus num apice. No mar, comem lulas e peixe em mergulhos, até aos 1000 metros de profundidade, que podem chegar aos 20 minutos!


























(Filhote de um elefante marinho Mirounga leonina no relax| Elephant seal Mirounga leonina pup at South Georgia taking it easy)


Quando digo GIGANTES, é no sentido de serem extraordinariamente grandes, a tal ponto de ficar de boca aberta quando os vi pela primeira vez e pensar "Incrível! Como é possível termos animais tão grandes neste nosso planeta?" Os elefantes marinhos podem chegar às 4 toneladas!!! Se pensarem que um touro tem 500 quilos, bastará multiplicar por 4. Ou seja colocar 4 touros juntos e têm uma ideia do peso de um elefante marinho macho. E um dos aspectos interessantes desta espécie, e entres os mamíferos, é o seu dimorfismo sexual. Ou seja, a diferença entre o tamanho dos machos e fêmeas é grande: os machos são consideravelmente maiores do que as fêmeas. Elas apenas chegam a pesar 900 Kg...assim temos um gigante com uma esposa 3 vezes mais pequena;)


















(Toda a família reunida| All the family together)


A sua população mundial anda por volta dos 650 000 mil, dos quais mais de metade reproduz-se e vive na Geórgia do Sul. Os elefantes marinhos demonstram elegância e nobreza, tal como os elefantes de Africa que vivem em terra. São na sua generalidade calmos e passivos, abrem os seus olhos calmamente quando ouvem um barulho diferente mas não ligam se não nos aproximar-mos muito. Podem passar semanas em terra a descansar e pouco mais. Tudo muda quando entra-se no periodo de reprodução e as hormonas começam a funcionar. Lutam por um território na praia em meados de Outubro/Novembro e aí é possível ver toda a sua ferocidade em máxima força. É incrível ver os machos gigantes a lutarem entre si para terem o seu harem de várias dezenas de fêmeas. Os seus filhotes são muito engraçados, bem pequenos....incrível, sabendo que brevemente vão ter mais de 500 kg;)))

















(Durante o periodo de reprodução é quando os elefantes marinhos Mirounga leonina machos de 4 toneladas são mais agressivos| During the breeding season is when the elephant seal Mirounga leonina bulls are more agressive)

Quem disse que ser gigante e ter uns quilos a mais não é bom;))))

Being big can help you a lot! Even more if you live in the Antarctic. Various animals have found strategies to overcome the ice cold Antarctic waters. The fish developed anti-freeze enzimes, penguins have modified feathers, highly densed placed all around the body so that it does not directly touch their skin (except in their feet, whole circulatory system is highly efficient there makes warm blood coming from the rest of the body to provide warmth to them). But personally, I find the elephant seals Mirounga leonina, with their blubber protection simply amazing! Despite I have been in the Antarctic several times, this is my first time in October. This is when the bulls of elephant seals return to breed at South Georgia. Out of the estimated 650 000 thousand elephant seals in the world, more than half live here. They are gigantic! They can weigh more than 4 tons but their females do not reach 1 ton, making them one of the mammals with higher sexual dimorphism. When breeding, the bulls are capable to being quite agressive to hold their harems. After the breeding season, they return to the calm, relaxed way of living...They are highly adapted to the Antarctic environment, making dives up to 1000 metres depth and holding their breath for 20 minutes, while feeding mostly on squid and fish. And despite being gigantic, they are very agile, very relaxed individuals, being able to move 180 degrees pretty quickly...amazing! Who said that a bit of fat is not good for you;))

domingo, 18 de outubro de 2009

O peso pesados da ciência| The BIG question

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(Passo a passo, a ciência avança para uma melhor compreensão do mundo...pinguim gentoo Pygoscelis papua ontem na praia de Johnson em Bird Island| Step by step, science contributes to a better understanding of the world...gentoo penguin Pygoscelis papua yesterday at Johnson Beach, Bird Island)


"Como surge aquela luzinha na nossa cabeça a levantar uma questão cientifica?" Demorou muito tempo para conseguir responder a esta dúvida. Sim, de onde surgem, e como surgem, as dúvidas que os cientistas têm? O público em geral, só lhe é possível ver um número reduzido de (bons) resultados e conclusões mas o processo de levantar as questões cientificas para chegar aqueles resultados nunca é claro, e muito menos óbvio...




















(É importante perceber que a ciência anda em várias direcções e nunca sabemos se estamos correctos até obter os resultados| Is it important to recognize that science is carried out in various directions and we never know if we are right until we get the results)


Acho que deve fascinante ser estudante, que quer seguir a via cientifica, hoje em dia. Temos todos os dias novas descobertas, a internet dá-nos acesso a milhões de dados e informações sobre há grande maioria de temas de investigação. No entanto, também deve ser intimidante. Entrar no mundo cientifico, ir às primeiras conferências, associar os nomes dos artigos cientificos às pessoas e ter coragem de ir falar com eles, apresentar os teus primeiros trabalhos em palestras, tudo isso é um desafio e que deve ser obrigatoriamente ser visto como um processo natural. Todos passamos por isso!!!

No início, como estudante Universitário, é quando somos confrontados com as primeiras dúvidas: Primeiro é perceber que decorar já não chega, é preciso perceber. Mais tarde, perceber não chega, é preciso argumentar também, definir os aspectos positivos e negativos da questão, o porquê de utilizar aquele método cientifico e não outro...ou seja, entar no mundo da ciência é questionar quase tudo. Temos de partir obrigatoriamente com umas bases cientificas básicas mas a investigação de ponta (aquela de onde surge grandes avanços cientificos) é quando percebes que estás perto do abismo do desconhecido, e não consegues ver o que está para lá do abismo, e que essas bases cientificas podem estar em causa. Mais, não sabes se os resultados vão ser bons ou maus, só saberás isso só após analisar os resultados das experiências. E é nessa altura dos estudos que finalmente questionamos "então este artigo da famosa revista NATURE estava errado? Como isso é possível?" Ser crítico e avaliar cada estudo detalhadamente, levantando questões, é fundamental para um cientista...

















(Porque será que os pinguins gentoo Pygoscelis papua dormem? ou estará apenas a descansar?| Do gentoo pinguins Pygoscelis papua sleep or is he just resting?)

Para se perceber como se faz ciência o fundamental é entrar em projectos cientificos em força, o quanto antes. Eu começei no 3 ano do curso e fez toda a diferença. Ao entrar em projectos cientificos, com a recolha de dados seguindo uma medotologia especifica, começa-se a perceber que recolhendo os dados daquela maneira vai-nos ser possível responder aquela questão. Parece simples mas não é. Só a experiência diária é a solução.

Quando se está a fazer um projecto de doutoramento, muitas das questões vêm através do supervisor. Aliás, para mim um estudante de doutoramento é aquele que tem tempo para fazer as experiências daquelas ideias que o supervisor adoraria testar mas que já não tem tempo. Assim, um estudante de doutoramento, com todo o trabalho de laboratório, e de recolha de dados no campo, adquire um número de métodos e técnicas, há medida que recolhe dados importantes para responder às questões que se tinha proposto. E tem a tese feita....


















(E quem diria que um pinguim se comporta como um cãozinho quando tem comichão?| And who would have thought that penguins behave very similar to dogs?)


O interessante é que é durante este processo que surge a luzinha da ciência: " Se estou a estudar o comportamento de tubarões quando se estão a reproduzir na Primavera, como será depois de se reproduzirem? Se as alterações climáticas afectam a dieta dos pinguins, como posso provar que isso pode dever-se não há disponibilidade de alimento mas à uma possível competição com baleias? Se utilizei a enzima X para compreender a sua relação com a digestão em peixes de água quente, como será com os peixes de água fria, ou em lagos em vez de os oceanos? Se estou a estudar a doença de Alzheimer, será melhor usar aquele gene que ainda ninguém utilizou com aquela nova técnica? " As questões levantam-se à medida que vais respondendo aquela a que te tinhas proposto. Mais, começas a perceber que as questões nunca param de surgir... depois acaba ter de prioritizar aquelas ideias que são mais importantes responder agora!

Bem vindos ao mundo da ciência...

How does a scientific question arise? It took me some time to reply to this question. Indeed, only at the University I was able to provide a reliable answer. The general public only has access to some (good) studies and conclusions but how do scientists come with the scientific questions and methods...hummm this is not straightforward. At the University, we are confronted by the first queries. You firstly realize that memorizing facts is not enough. Later on, it is necessary to understand and argument the different points of view. Getting into the world of science means questioning almost everything. Surely, it is important have in mind the basic scientific concepts but cutting edge science is when you question almost everyting...is like being close to an abyss and trying to look over it without falling. Only by applying a certain method and assessing the results, it is possible to know if you were right or wrong. Most of the scientific ideas comes while collecting process of the data to answer previous questions...indeed, the start of a scientific career (like PhD) comes from questions created by the supervisor...and the questions will never stop...welcome to the world of science!!!

domingo, 11 de outubro de 2009

O Sol| The Sun

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(Todos gostamos do sol. Pinguins gentoo Pygoscelis papua na sua casa ao sol| Everyone loves the sun. Gentoo penguins Pygoscelis papua at home in the sun)


O sol, o sol, o sol...estou sempre a falar do sol. De certeza que os nossos genes portugueses têm registado a sua importãncia no meio das citosinas, timinas, adeninas e guaninas do nosso ADN. Quantas vezes fomos apanhados a falar dele quando chove por mais de um dia? E quando ele brilha....algo dentro de nós, na nossa essência, fica melhor...a nossa alma sorri tal como rever um bom velho amigo a dizer "olá!! sempre bom ver-te novamente!"! Mas é assim tão importante? Possivelmente não é preciso ir para a Antárctica para perceber isso...ou talvez até é!

















(Otária do Antárctico Arctocephalus gazella a deliciar-se na neve ao sol| Antarctic fur seal Arctocephalus gazella lying in the sun on a snowy beach)


Por todo o mundo, Portugal é conhecido pelo seu bom clima. E acreditem, é verdade. Sim, chove mas o bom tempo é parte do quotidiano. No Algarve, por exemplo, é quase todo o ano e os adoráveis residentes "portugo-estrangeiros" o sabem. O sol, está sempre quase presente, e mesmo que chova, ele aparece quase sempre no mesmo dia. O valor a que damos ao nosso clima deve-se a felizmente termos uma alegre sazonalidade. Percebemos (pelo menos, por enquanto) quando começa a Primavera e progressivamente notamos o calor a convidarmos para uns mergulhos no Verão, o início da escola com as primeiras chuvas e aqueles adoráveis dias de Inverno a ver chover lá fora e nós no quentinho...mas em todo o ano, quando o Sol aparece, faz toda a diferença no dia...

























(Num dia de sol ameno parece estarmos numa ilha tropical, se não fosse os albatrozes de cabeça cinzenta Thalassarche chrysostoma a dizer-nos que estamos no Antárctico| In a sunny warm day it seems that we are in a tropical island...if the grey-headed albatrosses Thassarche chrysostoma were not in the photo...)

E nota-se em todos os sorrisos de toda a gente, quando o sol volta depois de um dia cinzento...em Inglaterra é tão obvio. Passa-se dias, e até semanas, sem ver o ver. Cheguei ao ponto de não ligar ao tempo. Ligava o automático (e ainda faço isto quando estou em Inglaterra) e pronto: duche, vestir, pequeno almoço, pegar na bicicleta, atravessar Cambridge e chegar ao instituto quase (sempre) ensopado da tanta chuva.




















(Cambridge num dia de sol|Cambridge on a sunny day)


E como tinha como referência o bom sol português, para mim se chove-se significava jogo de futebol cancelado. No primeiro jogo em Inglaterra não apareci pois logicamente estava a chover; "jogo cancelado", pensei eu. Na Segunda-feira seguinte os amigos todos a perguntar se eu estava bem e a questionarem-me porque não tinha aparecido. Resposta deles após a minha justificação com um sorriso : "José, se os jogos fossem cancelados quando chovesse, não haveria campeonato que terminasse em Inglaterra:))))". E assim, conhecei a perceber que, esteja a chover ou não, a vida continua...mesmo que seja a jogar à bola à chuva!


















(Para mim jogar futebol a chover era como convidar alguém a dar um mergulho nestas águas| Playing football in a rainy would be as ridiculous as inviting anyone to go for a swim in these pancake ice waters in your small swimming suit)


Nos dias de sol Inglaterra, particularmente nos dias quentes de Verão, é algo que deve ser registado. Toda a gente põe uma T-shirt de Verão, protector solar, tudo para um bom piquenique e todos para o parque ou junto ao rio para aproveitar ao máximo o sol. E os parques ficam a transbordar de pessoas, como houvesse um concerto de música...tão bom esses dias de Verão!


Aqui, na Antárctica, o sol também aparece mas não sempre como as fotos fazem parecer. As fotografias que tiro são sempre obtidas quando existe boa luz mas pode dar uma ideia contraditória sobre o clima. Em Bird Island, as estatísticas dizem que temos 10 dias de sol por ano, o que não acredito. Temos muitos mais dias de sol, diria pelo menos 1 dia por semana vemos o sol e dá-nos para sobreviver até à próxima semana. E tal como em Inglaterra, se há sol toda a gente quer aproveitá-lo e nota-se uma sensação de excitação no ar: nós, os cientistas, estamos felizes, as focas estão felizes, os albatrozes ainda mais alegres, os pinguins a fazer mais festa do que o costume. E foi aqui que dei ainda mais valor ao sol.

















(Elefante marinho Mirounga leonina a relaxar ao sol| Southern elephant seal Mirounga leonina lying in the sun)

Por alguma razão se diz que o sol é uma das fontes necessárias para a vida...mas para lhe dar o valor que merece é preciso que tenhamos também uns dias de chuva;) Assim, tento aproveitar todos os dias na Antárctica, com chuva ou neve (é tao bom sentir as gotas de água, ou flocos de neve, a bater-nos levemente na cara), nublado ou nevoeiro,... e principalmente, todos os magníficos dias de sol.

Sun, sun, sun...we are always talking about the sun. Surely our genes must have some encryption of its importance in our DNA. How many times have we been caught talking about the weather? And when the sun shines, it has such an effect on us! In UK, it rains a lot but when the sun comes through the clouds everyone get their Summer clothes, a nice drink from the closest Pub and go directly to the park. It took me some adaption to english weather. For me playing football with friends in rainy days was out of the question until it was clear that life should carry on, on rainy or sunny days. In the Antarctic, the same applies. Being cloudy, rainy, foggy or any other type of less inviting weather to go outside, it does not matter. There is work to be done...but on sunny days, something inside us clicks to remind us. When it is sunny, the Antarctic is simply even more special. On those days, far more than the 10 sunny days per year mentioned by the statistics for Bird Island, everyone is happy: the scientists, the fur seals are more friendly, the penguins seem to be in a party mood and the albatrosses even more excited. For some reason, it is said that the sun is essential for life...I say it is essential for your mood in the morning too;) For us to give it the importance it deserves, we also need rainy, cloudy days in our lives. Indeed, I realized that the secret is to enjoy each day as it comes, cloudy or foggy, snowy or pouring down with rain, ...but always with an eye for those special sunny days.

sábado, 3 de outubro de 2009

O relógio da Natureza| The Nature watch

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(Albatroz de cabeça cinzenta Thalassarche chrysostoma a dizer-nos que já são horas...| Grey-headed albatross Thalassarche chrysostoma telling us that it is time...)

Qual é a relação entre os nossos magníficos, maravilhosos e saborosos pastéis de nata e as colónias de albatrozes? Sem dúvida, é a questão da atracção. Eu explico...




















(Pastéis de Nata numa esquina de uma pastelaria (das muitas) em Lisboa| Pastéis de Nata (Portuguese curtard tarts) on a street corner bakery in Lisbon; Photo by Helena. Obrigado!!)


Para mim, os pastéis de nata possuem todas as qualidades que algo doce deve ter. O aroma a baunilha que adoro (com segredo do senhor pasteleiro de certeza), aquela visão de ser suficientemente grande para te satisfazer e suficientemente pequeno para quereres comer outro a seguir.

















(Colónia de albatrozes de cabeça cinzenta Thalassarche chrysostoma no início de Setembro quase deserta| Grey-headed albatross Thalassarche chrysostoma colony in the beginnning of September almost empty)



E comer um pastel de nata é uma felicidade: o estalar do folhado crocante na primeira dentada (admito que o meu primeiro pastel de nata quando regressar vai directo sem dentadinhas como a experimentar se é bom), o sabor (hummm) e aquele cheirinho leve a canela...mas admito que o problema são as pastelarias de esquina. São autênticas armadilhas a quem quer ir trabalhar cedinho, principalmente quando libertam autênticos exércitos de sabores pelo ar num raio de centenas de metros, e não conseguimos resistir em comer um...e é aí que acho que as pastelarias são semelhantes às colónias dos albatrozes....é tudo uma questão de atracção!!





















(Albatroz de cabeça cinzenta Thalassarche chrysostoma acabado de chegar| Grey-headed albatross Thalassarche chrysostoma just after landing)


As colónias de albatrozes são como as pastelarias. Elas estão sempre lá e todos os anos atraem milhares de albatrozes a regressarem para se reproduzirem. É aí que conhecem o seu parceiro e que dão os seus primeiros passos para terem uma "família". Como estamos na Primavera, um dos primeiros sinais são o dos albatrozes de cabeça cinzenta Thalassarche chrysostoma. Só se reproduzem de 2 em 2 anos, acasalam para a vida e após se reproduzirem (entre agora e Maio), não se vêm por mais de um ano. Eles passam a maior parte da vida no mar, longe de terra, longe das suas "pastelarias"...
















(Albatrozes de cabeça cinzenta Thalassarche chrysostoma há 2 dias| Grey-headed albatrosses Thalassarche chrysostoma 2 days ago)


Por incrível que pareça, algo se sucede e é vê-los regressar prontos para acasalar novamente. Mas o mais espectacular de tudo isto, é quando chegam. É possível prever, em dias, quando eles começam a chegar. No fim de Agosto, com as colónias completamente desertas, era muito difícil imaginar albatrozes de cabeça cinzenta nas colónias mas, olhando para os dados, conseguiamos ver facilmente que dentro de 7 dias, os albatrozes de cabeça cinzenta comecariam a chegar...e assim foi!

















(Colónia de albatrozes de cabeça cinzenta Thalassarche chrysostoma ontem| Grey-headed albatross Thalassarche chrysostoma colony yesterday much busier than in early September)

E assim, ficamos cientificamente humildes em reconhecer que ainda conhecemos muito pouco estes animais, como se orientam no mar e principalmente, que relógio usam para saber que já é hora de voltar às suas colónias para se reproduzirem...isto num periodo de dias, sabendo que estiveram mais de um ano no alto mar....incrível!

Quando eu regressar, sei exactamante onde encontrar as pastelarias de esquina cheias de pastéis de nata, mas eu tenho GPS, mapas, sinais e um relógio que me orienta onde quer que eu esteja....estes nossos amigos albatrozes só precisam das suas asas...

What is the relationship between the amazing Portuguese curtard tarts (known as Pastéis de Nata) and the colonies of albatrosses? The answer is "both attract"...I explain...for me, Portuguese custard tarts have everything that a sweet (or anything similar to a cake) should have. It tastes amazing, and it is sufficiently big to makes it attractive and small enough to tease you to eat another one. Loads of bakeries, strategically located in streets corners, in Portugal have loads of these amazing tarts. The bakeries emit their amazing sweet smell into the air every morning, inviting you to have one. To a certain extent these bakeries are like albatross colonies. The albatross colonies attract each year thousands of albatrosses to breed. The colonies attract because it is there that an albatross will get a mate and spend a considerable time while breeding. Every year we see thousands of albatrosses arriving at Bird Island to breed. In early Spring, grey-headed albatrosses Thalassarche chrysostoma are some of the first to arrive. And it is incredible how their arrive within days every year. Like this, we humbly realize how little we still know about these amazing seabirds and which time of watch they use to know when to come back to Bird Island to breed. When I get back home, I know exactly where to find the amazing Portuguese custard tarts but I have directions support (e.g. maps, traffic signs) to guide me all the way...the albatrosses only have themselves...amazing!

sábado, 26 de setembro de 2009

A ordem das coisas| The order of things

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(De um modo geral, Bird Island tem tudo: montes, planícies, praias...| From a broad perspective, Bird Island has everything: hills, meadows, cliffs, beaches...)


Quando somos crianças, a curiosidade leva-nos a explorar tudo. Aliás, acho que todos fomos exploradores quando crianças, já que explorar significa "viajar" numa área não conhecida de modo a aprender mais sobre ela. Somos autênticos Indiana Jones e não sabiamos!

E o fascíno das coisas levou-nos a contar as perninhas todas de uma centopeia, a passar horas a olhar para os caranguejos nas pequenas poças entre (escorregadias) rochas e a brincar com a areia molhada que nos levava a construir castelos gigantes durante tardes inteiras. No meio de tudo isto existe um número enorme de factos a serem assimilados e pode parecer que não existe qualquer ordem em tudo isto. Existe apenas factos para saber? ...e será só isso? Em outras palavras, é mais importante o conhecimento de factos ou o conhecimento de técnicas (ou mecanismos que explicam esses factos)?

Comecei a pensar nesta ligação entre factos, e como existe uma certa ordem naquilo que observamos, quando comecei a olhar para o mar com outros olhos. Depois de passar tanto tempo nas marés vazias durante o Verão, começa-se a perceber que existe uma ordem. Por exemplo, os caranguejos normalmente ficam nas poças e aventuram-se só nas zonas molhadas. As cracas só existem onde só as marés mais altas chegam e salpicam-lhes a quantidade suficiente de água salgada para sobreviverem. E porque é que vivem aí? Porque se se distribuissem mais junto à água, os seus predadores "tratava-lhes" da saúde. Ou seja, evoluiram para viver ali!

Na Antárctica, quando se chega a uma ilha como Bird Island, parece não haver qualquer ordem, apenas animais por todo o lado. Mas com o tempo, começa-se a perceber a ordem das coisas aqui, talvez por ser mesmo uma autêntica cidade de animais (são cerca de 1 milhão no Verão).


















(As otárias do Antárctica Arctocephalus gazella gostam mesmo de estar nas praias junto à água. Os pinguins gentoo Pygoscelis papua ficam lá a atrás| Antarctic fur seals Arctocephalus gazella really enjoy being on the beach close to the waterline although they can be seen up into the valleys far away from the beaches. The gentoo penguins Pygoscelis papua go more inland, still on the beach)


Nas praias, mesmo junto à água, são as otárias do Antárctico Arctocephalus gazella que dominam. São aí que os territórios mais preciosos para obter o maior número de fêmeas na altura de se reproduzirem. Entre as otárias, passam os pinguins gentoo Pygoscelis papua. Estes pinguins gostam do mesmo tipo de praias das otárias mas os seus ninhos ficam mais em terra. Os pinguins macaroni Eudyptes chrysolophus preferem zonas mais inclinadas (praias ou não) de rochas junto à costa.

















(Os pinguins Macaroni adoram as zonas rochosas, inclinadas| Macaroni penguins really enjoy rocky inclined areas)


De um modo geral, os albatrozes preferem zonas mais altas, onde também exista terra para fazer ninhos. Aqui, os albatrozes de cabeça cinzenta Thalassarche chrysostoma preferem zonas ventosas e inclinadas mas em que podemos ainda caminhar. Os albatrozes de sobrancelha preta Thalassarche melanophrys sobrepõem-se nas mesmas zonas que os albatrozes de cabeça cinzenta, e até existe colónias conjuntas.



















(As colónias dos albatrozes de cabeça cinzenta e os de sobrancelha preta são mais inclinadas| The grey-headed and black-browed albatross colonies are located in more hilly areas)



Os albatrozes viajeiros Diomedea exulans preferem as planícies, pois as suas grande asas lhes permitem "apanhar o vento" mais facilmente. Existe ainda outros albatrozes que preferem zonas escarpadas e existem até aves que fazem tocas (tão como os cagarros Calonectris diomedea nos Açores).

















(Os albatrozes viajeiros Diomedea exulans preferem planícies| Wandering albatrosses Diomedea exulans prefer meadows)



Então, é mais importante o conhecimento de factos ou o conhecimento de técnicas (ou mecanismos que explicam esses factos)? Sim, talvez a solução esteja na combinação das duas com uma boa dose de curiosidade e massa crítica....

When we are kids, we are driven to explore everything! Indeed, I think everyone of us had an "Indiana Jones" attitude as exploring is simply "travel in or through an unfamiliar area in order to learn more about it." And that fascination took us counting every leg of a centipede, observing crabs in little rocky ponds hours on end and be amused numerous afternoons by the sand in our hands while builting another gigantic castle on the beach. In the middle of all of this, there are numerous facts that are being assimilated and apparently there seems not to be an order of things. Are there only facts to learn? Is that it? Or in better words, it is better the knowledge of facts of the knowledge of techniques (that could explain the facts)? These thoughts started when I suddenly started looking at the rocky seashore from a different perspective. At first, it seems animals everywhere but you realize that that algae of that colour only live there, the crab only live between there and there, and so on...that was fascinating! There was an order of things...I came and recognized the same order in the Antarctic. When I arrived at Bird Island, it is overwhelming the amount of animals everywhere (approx. a million!) but their distribution has an order. The Antarctic fur seals Arctocephalus gazella occupy the beaches, mostly close to the water, the gentoo penguins Pygoscelis papua prefer the same kind of beaches but they go more inland. Macaroni penguins Eudyptes chrysolophus prefer to nest on rocky slope areas still close to the shore. Albatrosses prefer to nest in areas that they can also have access to land so that they can build their nests. Grey-headed Thalassarche chrysostoma and black-browed Thalassarche melanophrys albatrosses prefer hilly, windy areas where they can easily take off and wandering albatrosses Diomedea exulans prefer meadows (more plain areas) as they can take off from anywhere due to their enormous wongs. So, it is better the knowledge of facts of the knowledge of techniques (that could explain the facts)? Most likely, we need both... with a good quantity of curiosity and critical perspectives:)

domingo, 20 de setembro de 2009

Sámi

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)



















(As renas fazem parte da tradição Sámi|The reindeer is part of the Sámi people tradition; Photo kindly provided by Agnete)


De onde vêem os iglús? Bastará responder a esta questão para perceber algumas diferenças óbvias entre os habitantes do Árctico e da Antárctica. Como a Antárctida está isolada dos restantes continentes, a sua colonização por humanos nunca aconteceu, e hoje na Antárctica é a presença de cientistas que mais se sente. No Árctico, os povos indígenas há muito tempo que constroem os famosos iglús.

Existe uma variedade de povos indígenas do Árctico. Os povos Inuit e Yupik são ambos os habitantes do Árctico (e deverão ser chamados assim). Apesar de no Alaska, referirem-se a todos os habitantes indígenas do Árctico como esquimós (inglobando ambos Inuit e Yupik), esta palavra tornou-se pejorativa em várias populações do Árctico e daí hoje em dia não haver um termo universal que caracterize todos os povos do Árctico e aceite por todos.

Um dos povos indígenas europeias mais fascinantes que vivem mesmo junto ao Árctico, e que estão muito habituados às temperaturas polares, são os Sámi, originários da região Sápmi (reune partes da Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia, incluindo a região Sueca da Lapónia). Aliás, é nesta região que o Pai Natal vive e que recebe muitas milhares de cartas todos os anos de crianças de todo o mundo!!!!! De certeza que os Sámi têm de ser um povo simpático...
























(Região onde fica a região Sápmi, onde vivem as populações Sámi; Cultural region of Sápmi where Sámi people live)

Pude provar essa alegria própria deste povo há pouco tempo. Tive o privilégio de conhecer uma típica Sámi numa conferência das Nações Unidas na Noruega no ano passado. Vive na parte Norueguesa de Sápmi (são mais de 70 000 no mundo) e explicou-me tudo. Aí, existe uma parte da população que é residente e outra nómada. A grande maioria do povo Sámi aí é nómada e vive da criação de renas. Mesmo os filhos dos pastores de renas possuem educação e não existe uma passagem automática de país para filhos desta actividade. Por muitos anos, as renas foram (e ainda são) usadas como meio de transporte , mas hoje já existe tudo do mundo moderno, incluindo snowmobiles, tractores e automóveis e são estes que são regularmente usados hoje em dia. Esta população nómada possui 2 casas, uma de Verão e outra de Inverno, de modo a seguir a migração das renas ao longo do ano. A mudança para a casa de Verão ocorre na Primavera quando as renas se deslocam para as zonas junto à costa.

























(Agnete e o seu filho, tipicamente vestidos, na região Sápmi norueguesa|Agnete and her son, beautifully dressed, at the church in Norwegian Sápmi; Photos kindly provided by Agnete)


A restante população é residente e têm qualquer outra profissão (desde médicos a professores, de policias a advogados, músicos e actrizes; quem não conhece Renée Zellweger (Diário de Bridget Jones)). A língua principal é o Sámi, a língua Norueguesa é a segunda e a língua Inglesa a terceira. Esta parte da população vive em casas com todas as comodidades de qualquer outro país europeu (electricidade, etc) mas não dispensam de usar renas ou cavalos para transporte, sempre que necessário.




















(Membros da comunidade Sámi, à saída da igreja| Sámi people just after a church cerimony; Photo kindly provided by Agnete)



No período de férias escolares de Verão, também esta parte da população vai passar uma temporada nas praias junto à costa, onde se encontram todos. A partir do meio de Maio, existe 24 horas de dia e que se extende até ao meio do Agosto. Depois começa a ficar mais escuro, e mais escuro, e pelo Natal existe apenas uns breves periodos de luminosidade. No fim das férias escolares, os habitantes residentes regressam, enquanto a população nómada fica à espera do início da migração das renas. Voltam todos a ver-se no Inverno, passando a maior dele todos juntos... até à próxima Primavera. Brilhante modo de viver!!!

Where do you usually see igloos? This is one of the questions that whose answer provides a good knowledge of the differences between the Arctic and the Antarctic. While Antarctica do not have indigenous people, the Arctic has the Inuit and Yupik. One of the most fascinating indigenous people living very close to the Arctic, are the Sámi people. Used to enjoy snow, like we do here in the Antarctic, the nice Sámi people live in the region of Sápmi (region that includes part some parts of Norway, Sweden, Finland and Russia) and they are more than 70 000 people. I had the great privilige to meet Agnete and a friend, both Sámi, in an United Nations conference in Norway and to learn more about their culture. Agnete explained me everything: in the norwegian part of Sápmi, there are the Sámi people that is resident and the one that is nomad. They speak Sámi, the second language is Norwegian and third English. Most of the Sámi people in her region lives of reindeer farming (Agnete describe them beautifully as the "moving Sámi people"). The reindeer families have two houses, one for the Summer and another for the Winter. They move according to the reindeer migration, moving to the coast in Spring. ..The resident people stay all year in their village and have normal jobs including lawyers, doctors, policemen, teachers, musicians and actresses (who has not ever heard of Renée Zellweger of the film "Diary of Bridget Jones). Everyone has a nice house with all the modern european comodities. And although reindeers can still be used as a means of transport, nowadays snowmobiles, tractors and cars are normally used. In the Summer hollydays, they also move to the coast. From middle of May until the middle of August, there is 24 hour days. Then it becomes more and more dark and around Christmas time, there is only daylight briefly. In Autumn, when school starts, they return to the village. When the reindeer start migrating back to Winter pastures, the reindeer herders move back to their Winter house in the village, where everyone meets again...until next Spring. Amazing!!!! Thank you Agnete!!!!!

domingo, 13 de setembro de 2009

Olhar para o mar ! Living the sea from a wave perspective...

A escrever a partir da Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

























(Estão a olhar para a andorinha do mar do Antárctico Sterna vittata, não estão? Eu também estou a olhar para aquela onda no lado direito em baixo| You are looking at the Antarctic tern Sterna vittata, aren´t you? I am also looking at the nice small wave on the bottom right)

Viver junto ao mar é um sonho. E o modo como olho para o mar pode ser totalmente diferente das dos meus colegas cientistas, principalmente quando vejo ondas. Devido a adorar todos os desportos de ondas (incluindo bodyboard, surf, skimming, windsurf) é sempre numa perspectiva muito própria e vem-me sempre à cabeça a questão "será que as ondas estão boas?"

Existe uma graciosidade muito própria das ondas, sejam elas grandes, pequenas, num dia de sol ou num dia menos alegre. A força que transmitem, a nobreza com que se levantam quando a praia se aproxima, a leveza como lidam com os nossos corpos quando somos apanhados na sua espuma depois de quebrarem (e aguentamos a respiração quando somos apanhados nesta "máquina de lavar")... para mim elas são as sereias do mar!



















(Pinguim gentoo Pygoscelis papua a aproveitar a onda para regressar a casa| Gentoo penguin Pygoscelis papua taking a ride of a wave to return home)

As ondas transmitem sensações indiscritiveis a milhões de surfistas que se deliciam ao deslizar nas suas paredes. Os animais marinhos já sabem desse segredo. Os pinguins "voam" nas paredes das ondas tal como focas brincam com as suas cristas, quando estas estão prestes a quebrar, os albatrosses usam-nas para os lançar de novo para o ar com as correntes de ar quando passam meses no mar, os petréis medem o seu medo a irem contra elas a partir da praia. Estes proporcionam horas de riso pois várias vezes as ondas levam a melhor e é vê-los a regressar com a espuma de volta para a praia a rebolar como fossem crianças na sua primeira onda.



















(Pinguins gentoo Pygoscelis papua partilham as ondas juntos quando voltam a casa| Gentoo penguins Pygoscelis papua share their waves when returning from the sea)

Os pinguins gentoo Pygoscelis papua usam-nas para lhes ajudar a chegarem à praia e evitar as rochas...e veem às centenas de cada vez...na mesma onda!! Solariedade na sua versão mais ampla.



















(Nos dias calmos os petréis parecem que podem andar sobre o mar| in the calm days, we can see giant petrels almost walking over the sea)

E só pensei tudo isto agora, em Setembro! Porquê? porque este mês é quando o buraco do ozono sente-se bastante aqui (o sol está de regresso e outros gases (exemplos do cloro e bromo) interage com o ozono, quebrando-o. Isso faz com que a espessura do ozono diminua significativamente) pois é em Setembro que o buraco do ozono é maior na Antárctica todos os anos.


























(Buraco do ozono há 3 dias, 10 de Setembro 2009. Estamos a nordeste da Peninsula Antárctica| Ozone hole 3 days ago, on the 10 September 2009. We are northeast of the Antarctic Peninsula. Image from NOAA, USA)


Para nos protegermos, desde o inicio de Setembro que usamos protector solar todos os dias, cada vez que saímos da base....e o cheiro do protector solar é como regressar às nossas praias com uma prancha debaixo do braço preparado para mais uma sessão de ondas...


















(Quando se fala de ondas temos sempre de falar de ondas gigantes, tal como aconteceu no último cruzeiro, com ondas a serem superiorees a 8 metros de altura| When talking about waves, it is a must refering to the last cruise storms with waves reaching more than 8 meters high)


Living on the beach is a dream. Despite all scientists enjoying living so close to sea as me, the way we perceive it can be quite different. Probably because I was always enjoyed doing wave sports (bodyboarding, surfing, skimming), everytime I see the ocean I think...are the waves good today? Each wave is beautiful, either they are big, small, on a beautiful day or in an windy, rainy day (like today!). The strength they transmit, the nobility they show when they get higher and higherr as they come closer to shore, the cottonlike way they grab you when the surf catches you (and you have to hold you breath for a bit!)...for me they are the mermaids of the oceans! Waves brings huge sensations to the millions of surfers from around the world that uses their bodies to be transported for a few meters. The marine animals already know that. Here, I see penguins using the waves to jump to the beach to avoid the rocks, fur seals use them to play around, the giant petrels challenge them to see who is the strongest (and sometimes is seeing a giant petrel coming against a big wave and be brought back to the beach rolling with the surf, just like children on their first time in a wave (I still laught a lot when I see this happenning). Why I think about it now? Because this month the ozone layer in Antarctica is quite small, therefore we have to use sun protector everyday since the beginning of September. And the smell of the sun protector takes me back to Portugal sunny beautiful beaches, when with by board under my arm, get ready for another surf session...