sábado, 26 de setembro de 2009

A ordem das coisas| The order of things

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(De um modo geral, Bird Island tem tudo: montes, planícies, praias...| From a broad perspective, Bird Island has everything: hills, meadows, cliffs, beaches...)


Quando somos crianças, a curiosidade leva-nos a explorar tudo. Aliás, acho que todos fomos exploradores quando crianças, já que explorar significa "viajar" numa área não conhecida de modo a aprender mais sobre ela. Somos autênticos Indiana Jones e não sabiamos!

E o fascíno das coisas levou-nos a contar as perninhas todas de uma centopeia, a passar horas a olhar para os caranguejos nas pequenas poças entre (escorregadias) rochas e a brincar com a areia molhada que nos levava a construir castelos gigantes durante tardes inteiras. No meio de tudo isto existe um número enorme de factos a serem assimilados e pode parecer que não existe qualquer ordem em tudo isto. Existe apenas factos para saber? ...e será só isso? Em outras palavras, é mais importante o conhecimento de factos ou o conhecimento de técnicas (ou mecanismos que explicam esses factos)?

Comecei a pensar nesta ligação entre factos, e como existe uma certa ordem naquilo que observamos, quando comecei a olhar para o mar com outros olhos. Depois de passar tanto tempo nas marés vazias durante o Verão, começa-se a perceber que existe uma ordem. Por exemplo, os caranguejos normalmente ficam nas poças e aventuram-se só nas zonas molhadas. As cracas só existem onde só as marés mais altas chegam e salpicam-lhes a quantidade suficiente de água salgada para sobreviverem. E porque é que vivem aí? Porque se se distribuissem mais junto à água, os seus predadores "tratava-lhes" da saúde. Ou seja, evoluiram para viver ali!

Na Antárctica, quando se chega a uma ilha como Bird Island, parece não haver qualquer ordem, apenas animais por todo o lado. Mas com o tempo, começa-se a perceber a ordem das coisas aqui, talvez por ser mesmo uma autêntica cidade de animais (são cerca de 1 milhão no Verão).


















(As otárias do Antárctica Arctocephalus gazella gostam mesmo de estar nas praias junto à água. Os pinguins gentoo Pygoscelis papua ficam lá a atrás| Antarctic fur seals Arctocephalus gazella really enjoy being on the beach close to the waterline although they can be seen up into the valleys far away from the beaches. The gentoo penguins Pygoscelis papua go more inland, still on the beach)


Nas praias, mesmo junto à água, são as otárias do Antárctico Arctocephalus gazella que dominam. São aí que os territórios mais preciosos para obter o maior número de fêmeas na altura de se reproduzirem. Entre as otárias, passam os pinguins gentoo Pygoscelis papua. Estes pinguins gostam do mesmo tipo de praias das otárias mas os seus ninhos ficam mais em terra. Os pinguins macaroni Eudyptes chrysolophus preferem zonas mais inclinadas (praias ou não) de rochas junto à costa.

















(Os pinguins Macaroni adoram as zonas rochosas, inclinadas| Macaroni penguins really enjoy rocky inclined areas)


De um modo geral, os albatrozes preferem zonas mais altas, onde também exista terra para fazer ninhos. Aqui, os albatrozes de cabeça cinzenta Thalassarche chrysostoma preferem zonas ventosas e inclinadas mas em que podemos ainda caminhar. Os albatrozes de sobrancelha preta Thalassarche melanophrys sobrepõem-se nas mesmas zonas que os albatrozes de cabeça cinzenta, e até existe colónias conjuntas.



















(As colónias dos albatrozes de cabeça cinzenta e os de sobrancelha preta são mais inclinadas| The grey-headed and black-browed albatross colonies are located in more hilly areas)



Os albatrozes viajeiros Diomedea exulans preferem as planícies, pois as suas grande asas lhes permitem "apanhar o vento" mais facilmente. Existe ainda outros albatrozes que preferem zonas escarpadas e existem até aves que fazem tocas (tão como os cagarros Calonectris diomedea nos Açores).

















(Os albatrozes viajeiros Diomedea exulans preferem planícies| Wandering albatrosses Diomedea exulans prefer meadows)



Então, é mais importante o conhecimento de factos ou o conhecimento de técnicas (ou mecanismos que explicam esses factos)? Sim, talvez a solução esteja na combinação das duas com uma boa dose de curiosidade e massa crítica....

When we are kids, we are driven to explore everything! Indeed, I think everyone of us had an "Indiana Jones" attitude as exploring is simply "travel in or through an unfamiliar area in order to learn more about it." And that fascination took us counting every leg of a centipede, observing crabs in little rocky ponds hours on end and be amused numerous afternoons by the sand in our hands while builting another gigantic castle on the beach. In the middle of all of this, there are numerous facts that are being assimilated and apparently there seems not to be an order of things. Are there only facts to learn? Is that it? Or in better words, it is better the knowledge of facts of the knowledge of techniques (that could explain the facts)? These thoughts started when I suddenly started looking at the rocky seashore from a different perspective. At first, it seems animals everywhere but you realize that that algae of that colour only live there, the crab only live between there and there, and so on...that was fascinating! There was an order of things...I came and recognized the same order in the Antarctic. When I arrived at Bird Island, it is overwhelming the amount of animals everywhere (approx. a million!) but their distribution has an order. The Antarctic fur seals Arctocephalus gazella occupy the beaches, mostly close to the water, the gentoo penguins Pygoscelis papua prefer the same kind of beaches but they go more inland. Macaroni penguins Eudyptes chrysolophus prefer to nest on rocky slope areas still close to the shore. Albatrosses prefer to nest in areas that they can also have access to land so that they can build their nests. Grey-headed Thalassarche chrysostoma and black-browed Thalassarche melanophrys albatrosses prefer hilly, windy areas where they can easily take off and wandering albatrosses Diomedea exulans prefer meadows (more plain areas) as they can take off from anywhere due to their enormous wongs. So, it is better the knowledge of facts of the knowledge of techniques (that could explain the facts)? Most likely, we need both... with a good quantity of curiosity and critical perspectives:)

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois eu ja pensei muitas vezes nessa imensa maravilha que é a ordem no mundo, no equilibrio da natureza quer no lado animal quer no vegetal, e não esquecendo até o mineral. Mas , para mim, ainda o mais incrivel mesmo é a reprodução dum ser vivo que ultrapassa tudo, mesmo tudo! Helena