sábado, 7 de março de 2015

Crustáceos de profundidade | Deep-Sea Crustacaens



Gutten morgen!!! 


De momento, no nosso projeto estamos a estudar mais de cem espécies de crustáceos que estão presentes na dieta de predadores do Oceano Antártico, como pinguins, focas, albatrozes, baleias, petréis, peixes e até lulas.  Tudo o que come crustáceos será estudado. Claro que os crustáceos são dos alimentos mais preferidos destes predadores...pensem em camarão, é bom não é?

Um dos aspetos mais curiosos neste estudo é percebermos que muitas espécies de crustáceos são...de grandes profundidades! Mais, predadores que apenas se alimentam em águas costeiras e em poucas profundidades, tal como alguns pinguins ou albatrozes (por exemplo o albatroz viageiro, que é a maior ave marinha com cerca de 3 metros de asa a asa, só se alimenta na superficie), também encontramos espécies de crustáceos de profundidade nas suas dietas...como será isso possível? Melhor, como é que espécies de crustáceos de grande profundidade (> 300 metros de profundidade) poderão estar disponíveis a predadores que nem mergulham, e vivem limitados à superficie?

Esta questão tem sido abordada por numerosos cientistas mas ainda hoje, muito ainda está por explicar. Num dos nossos estudos de 2013 (Xavier et al. 2013. ICES J. Marine Science), revimos como as lulas do Oceano Antártico poderão estar disponíveis aos albatrozes junto à superficie. Muitas espécies de lulas fazem migrações verticais diariamente para se alimentarem (passam o dia nas profundidades e vêm junto à superfície à noite) ou em determinadas alturas do ano para se reproduzirem. Outra possível razão são outros predadores, como as baleias (que conseguem ir a grandes profundidades), regurgitarem lulas regularmente na superfície (para se verem livre dos bicos de lulas, que são estruturas não digeríveis e que se acumulam nos seus estômagos). Também se tem questionado que algumas espécies de lulas vêm à superfície, após morrerem (ficando a flutuar e disponíveis para serem comidos por predadores necrofagos). É possível também os albatrozes se alimentarem de peixe que comem lulas, logo quando se estuda a dieta dos albatrozes não sabemos se os albatrozes comeram as lulas diretamente ou não. Mais recentemente, tem-se debatido que as correntes de fundo podem ajudar as lulas, peixes e crustáceos para os ajudar a vir junto da superfície, não fazendo diferença em que profunidade cada organismo vive. Finalmente, espécies de lulas podem ser apanhadas por peixes de profundidade, e estes podem ser apanhados por pescadores (que deitam fora os estômagos dos peixes, à superficie, ficando disponíveis aos albatrozes).

Algumas destas razões podem-se aplicar aos crustáceos. Por exemplo, o camarão do Antártico Euphausia superba é conhecido por fazer migrações verticais (da profundidade para junto da superfície) regularmente....e muitos peixes alimentam-se de crustáceos que são apanhados por pinguins, focas e albatrozes...ou seja, no fim de contas, acaba por ser uma combinação destas razões do porquê crustáceos de profundidade podem estar presentes na dieta de predadores no Oceano Antártico. Quanto a certezas, mais estudos são precisos!



In our project, we are studying more than 100 species of crustaceans that are found in the diet of predators from the Southern Ocean, including penguins, albatrosses, seals, whales, petrels, prions, fish and squid. Every predator that feeds on crustaceans will be studied! Yes, they are a lot but hey, who does not like shrimps? One of the most interesting aspects of the project at the moment is noticing that numerous crustaceans live in the deep-sea (> 300 meters deep) are also available to surface living predators. How do deep-sea crustaceans become available to surface predators? One of my recent studies (Xavier et al. 2013. ICES J. Marine Science) reviewed how Antarctic squid may become available to surface predators. Many species of squid exhibit vertical migrations from the depths to near surface, either daily to feed or periodically to reproduce. Also, whales may regurgitate squid, that were caught in the deep-sea, at the surface (i.e. squid beaks, that resist digestion and stay in their stomachs, must be removed regularly). Some squid may also die and float to the surface. It is also possible that predators may eat fish that eat squid (we call it secondary digestion) so we do not know if, for example, the albatross fed directly on the squid or not (i.e. eaten by the fish first). Finally, albatrosses may feed on offal or discards (e.g. stomachs from deep-sea fish, with squid) from fishing vessels.  Some of these reasons may apply to crustaceans. For example, we do know that Antarctic krill Euphausia superba carry out vertical migrations. In conclusions, it is a probably of a mix of these reasons to explain why deep-sea crustaceans become available to surface predators. For certain, more studies are needed...




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