Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)
(Pinguim Macaroni Eudyptes chrysolophus a construir o seu ninho esta semana| A Macaroni penguin Eudyptes chrysolophus constructing its nest this week)
Estou prestes a deixar Bird Island! Sinto que é como deixar um grande amigo após termos passado uns excelentes dias/semanas (nestes caso meses) juntos. Sim, temos uma alegria imensa de termos vivido grandes aventuras juntos, de ter partilhado momentos únicos que nos vão ficar marcados para o resto da vida. Pode ser desde as pequenas coisas como o som dos pequenos passarinhos (chamados pipits) que nos acompanha ao longo do nosso percurso até às colónias de pinguins e albatrozes, da alegria que ver o primeiro elefante marinho de 3-4 toneladas, de pegar novamente num pinguim, de me deixar fazer snowboard nas suas encostas, a apreciar como um pinguim macaroni usa as suas pedras para formar o seu ninho e ouvir o som de “avião” de um albatroz viajeiro a chegar à sua colónia.
(40 000 pinguim Macaroni Eudyptes chrysolophus na colónia em Big Mac| 40 000 Macaroni penguins Eudyptes chrysolophus at Big Mac colony)
Esta expedição cientifica, a mais longa de sempre para um cientista português na Antárctica, foi deveras apaixonante. Cientificamente, foi sem dúvida! Os meus estudos sobre a dieta dos pinguins gentoo durante o Inverno mostram uma diversidade de alimentos muito elevada, talvez demais do que costuma ser. Sabendo que os pinguins gentoo normalmente alimentam-se do camarão do Antárctico (e por veze
s de peixe) e pouco mais, regressam todos os dias a terra e normalmente procuram alimento num raio de 20 km , estes resultados leva-me a supor que as populações de pinguins gentoo na Geórgia do Sul poderão ser afectados com alterações acentuadas de alterações climáticas que podem afectar o sistema marinho.
(Albatroz viajeiro Diomedea exulans após mais uma das suas viagens pela Antárctica e arredores| Wandering albatross Diomedea exulans after another trip in Antarctic and adjacent waters)
Os estudos de rastreio por GPS de albatrozes viajeiros mostram que existe uma ligação forte entre as areas sobrevoadas (quando estão à procura de alimento) ao longo do ano, com as suas viagens a deslocaram-se cada vez mais para norte (para perto do Brazil), em vez que ficarem em águas do Antárctico. Mais existe uma ligação também associada ao que se alimentam, com uma mudança de dieta de peixe (do Antártico) para lulas (do sub-Antárctico), com estas lulas a aparecerem com espermatóforos (o que significa que se estão numa fase avançada de idade e prontas para se reproduzir). Tudo isto, neste Inverno....
(Albatroz de sobrancelha preta Thalassarche melanophrys| Black-browed albatross Thalassarche melanophrys)
Mas tal como quando alguém muito querido nos deixa, existe uma sensação de nostalgia que se transmite com a sensação de “nunca mais vou viver estes momentos contigo.” Pelo menos neste contexto, com estas pessoas, com estes animais, com estas questões cientificas por responder...
Para perceber o quanto importante Bird Island é, nada melhor do que a mostrar a pessoas que nunca a conheceram. Dizer-lhes que o seu humor é único, que os seus albatrosses preferem voar o longo dos seus montes , que os elefantes marinhos só aparecerem a partir do fim de Setembro, que os pinguins Macaroni agora são cerca de 40 000 e são só os machos (as fêmeas veem a caminho), que os albatrosses sooties voam aos pares, reproduzem-se em autênticos desfiladeiros e que possuem uma voz hipnotizante.
Quando o navio James Clark Ross chegou, no dia 1 para fazer a “first call”, onde tudo o que é necessário para esta época é enviado para Bird Island (comida, combústivel, material cientifico, literalmente tudo) e material reutilizável (e para ser descartado) é enviado para o navio. Para ajudar temos 15-20 pessoas a nos ajudar. Tive o prazer de levar algumas destas pessoas para obervarem ao vivo a colónia dos “meus” albatrozes, colónia dos pinguins Macaroni de 40 000 pinguins, as colónias dos albatrozes de cabeça cinzenta e de cabeça preta, e os elefantes marinhos e as otárias do Antárctico nas praias. Enquanto explicava alguns pormenores da biologia das várias espécies, onde costumam viver, quando se reproduzem, do que se alimentam, de como é pegar num pinguim,...tudo isso me levou a mais uma vez perceber o quanto fabulosa esta ilha é. Todos os presentes tinham os olhos a brilhar de satisfação....
Mas claro, com o tempo passa, e a vida continua...até breve Bird Island!
I am about to leave Bird Island. It feels like leaving one of our dearest friends after spending a great few days/weeks/months together and now you get the feeling that you might not see them again. Even the little things are special to remember, like the pipits singing to me on my way to the wandering albatross colony, like try to guide me, or the privilige of touching penguins with my own hands, or hearing the sound of sooty albatrosses live! Scientifically, it was a great season. Gentoos had a very strange Winter, feeding on amphipods, which was quite a surprise as they were expected to feed on krill mostly. The wandering albatross GPS work showed that squid play a major role in their diets, but increasingly so as the season develops. It is hard to leave Bird Island. It is like having the feeling of knowing that these moments might not repeat again ever. To understand how important Bird Island is, there was nothing better that showing it to people. On the James Clark Ross first call, I had the opportunity to talk about the science, the fauna and flora of why Bird Island is so special. The great pleasure of showing a colony of Macaroni penguins with 40 000 penguins, or going through a colony of the amazing wandering albatrosses. It is time to leave Bird Island...life must go on...see you soon Bird Island!
2 comentários:
Pois é, depois de ler esta sua descrição do que encontrou e do que vai deixar, e se quer um conselho duma avózinha, pense duas vezes, se será uma boa opção voltar para o meio de alguns (cada vez mais) humanos que vivem neste país :) Venha, dê beijinhos e abraços aos amigos e...volte para esse paraíso!:) Beijinhos. Helena
José Xavier
Quando partimos dum sitio bom,onde gostámos de estar, onde fomos felizes, sentimos nostalgia e saudade, mesmo antes de o deixar.
Boa viagem e tudo de bom
Abraço
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