A primeira visita de José Xavier, cientista, à EB1
de Febres, aconteceu no âmbito de um projecto do Instituto do Mar da
Universidade de Coimbra que pretende levar a ciência e o trabalho dos
investigadores às escolas. “Por um lado damos a conhecer o nosso
trabalho, por outro, obriga-nos a melhorar consideravelmente a nossa
capacidade de comunicação, a forma como comunicamos ciência para um
público tão específico”, explica. Para o investigador, é muito mais
fácil comunicar em conferências, entre os seus pares. As crianças são um
público bastante mais difícil, no sentido em que é preciso adequar a
nossa mensagem aos conhecimentos e conceitos que elas conseguem
compreender. No fundo, é “trocar por miúdos” aquilo que muitos “graúdos”
não conseguem, eles próprios, assimilar.
“Neste caso estamos a demonstrar o que é ser
cientista polar, estamos a tentar estimular o seu interesse pelo
conhecimento e pela ciência em geral. Importante é que percebam que a
ciência é fundamental”, considera. Na EB1 de Febres (e no Agrupamento
“Finisterra”) José Xavier confessa ter encontrado uma equipa de docentes
muito empenhada e interessada, e um entusiasmo pouco comum nos alunos.
“Por isso foi surgindo uma ligação que me tem feito vir a Febres todos
os anos. Hoje já nem falo só do que é ser cientista, já podemos abordar
temas mais específicos sempre ligados ao programa curricular das
crianças”.
Foi numa dessas visitas à EB1 de Febres que José
Xavier foi desafiado pelo pequeno Marco, aluno do 1.º ano. A situação
foi de tal forma marcante para o cientista, que prometeu a si mesmo
arranjar uma forma de surpreender o menino quando regressasse a Febres.
“Antes da hora de almoço o Marco olhou para mim, olhos esbugalhados e
bola na mão, e desafiou-me para ir jogar à bola com ele. No meio daquela
confusão, com dezenas de alunos de um lado para o outro, pensei, ‘pára
tudo, temos que ir jogar à bola’”, recorda. O jogo durou meia dúzia de
minutos e, no final, o Marco estava naturalmente triste por perder o seu
companheiro de brincadeira. “Durante a tarde estava sempre a espreitar,
a ver se me apanhava para mais uma dose de bola, mas não houve tempo.
Na hora de irmos embora, o Marco começou a chorar. Desde esse momento
assumi a missão de arranjar uma forma de ele não ficar triste”.
Surgiu, então, a ideia de oferecer uma bola de
futebol ao Marco na próxima visita a Febres. Mas não seria uma bola
qualquer, teria que ter uma característica especial: “Na altura da
Páscoa estava a participar num workshop internacional em que
participaram professores e cientistas de diversos países, e consegui que
todos assinassem a bola. Acharam imensa graça à história do menino de
Febres e quiseram colaborar”, conta. Dia 13 de Maio foi a data escolhida
para entregar a bola ao Marco. Mas José Xavier trazia uma outra
surpresa na “bagagem”: uma camisola oficial do clube de futebol favorito
do Marco – o Benfica. “Apesar de ter sido a atitude do Marco que esteve
na origem desta oferta, julgo que a bola deve ser oferecida à escola,
para que todas as crianças possam usufruir dela e saber o que ela
representa. O Marco foi a razão de tudo isto acontecer, mas a partilha é
fundamental”.
Depois de uma aula sobre biodiversidade, em que
alunos do terceiro ano apresentaram alguns trabalhos aos colegas e José
Xavier falou, também, sobre o tema, a expectativa era grande. As
crianças sabiam que estava reservada uma “surpresa” para o fim da manhã e
não escondiam o entusiasmo. No pátio da Escola, junto ao campo de
futebol, Marco recebeu a bola das mãos do investigador. O sorriso que
lhe iluminava o rosto era o mais sincero testemunho da felicidade e
alegria que enchiam o seu coração. Por entre palmas dos colegas, o
pequeno recebeu, ainda, a camisola do seu clube. Vestiu-a de imediato e
aquele sorriso, tão puro e inocente, não mais saiu dos seus lábios. “É
um gesto simbólico, uma prova de que acreditamos no Marco, de que
confiamos no potencial que ele tem. É um menino reguila, mas está nas
nossas mãos canalizar a sua energia e coragem para os caminhos
adequados”. Afinal, é nas crianças que depositamos a esperança de um
futuro melhor, e é com carinho e amor que alcançaremos esse objectivo.
Autor: Redacção (Filipa do Carmo) do Jornal Aurinegra
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