domingo, 13 de abril de 2014

Última semana NZ 2014| Last week NZ 2014




Quando se está na última semana de uma viagem ou expedição, a nossa cabeça começa a pensar principalmente em 3 aspetos:
-       Ponto 1. Rever o que falta fazer?
-       Ponto 2. Como o projeto correu?
-       Ponto 3. Fazer as malas e preparativos para o regresso

E o que estas questões estão relacionadas com javalis, borboletas e lulas do Oceano Antártico? Tudo!!!!!

Desde 12 de Março que estou na Nova Zelândia. O projeto que tinha o objetivo principal conheçer o papel de cefalópodes (o grupo que animais que reune os polvos, os chocos…e as lulas; eu estou a estudar principalmente as lulas) no Oceano Antártico, usando os albatrozes como os nossos “amigos” para apanhar as lulas por nós. Na verdade, as nossas redes só apanham 4-5 espécies de lulas, então ao estudar os boluses (tudo o que os filhotes dos albatrozes não conseguiram digerir desde que nasceram até deixarem o ninho, que inclui todos os bicos das lulas que foram consumidas por eles) estudei cerca de 40 espécies de lulas. Algumas ainda nunca foram apanhadas em redes, então as lulas têm nomes provisórios como Galiteuthis stC sp. ou Chiroteuthis sp. F. Com todas as amostras planeadas para este ano já analisadas, ponto 1 está solucionado.


O ponto 2 é importante. Depois de tanto trabalho (foram cerca de 6 000 bicos de cefalópodes analisados de mais de 50 amostras de diferentes anos), os resultados foram positivos. O próximo passo sera analisar ao detalhe estes resultados. Além das colaborações estabeleçidas, permitiu consolidar este trabalho junto destes colegas. Além disso permitiu também espandir experiências pessoais, que também são importantes nestas viagens a trabalho durante tanto tempo (mais de 1-2 semanas longe de casa). Nestas semanas deu para aproveitar uma oportunidade única de saborear vários pratos de cozinha Maori num evento organizado pelo instituto. Deu para experimentar Puha, uma planta bastante saborosa, que se comeu com carne de porco, lombo de cabrito e carne de javali. Também tive a oportunidade única de testemunhar o nascimento das Borboletas Monarch (borboletas que têm uma vida de apenas uns dias/semanas) e claro, de jogar futebol (pois as ondas não têm estado boas). 


Ponto 3. São sempre necessárias várias reuniões com os nossos colaboradores para nos certificarmos que está tudo de acordo com o planeado e que tens tudo para regressar … o regresso envolve mais reuniões, pois a equipa de Portugal precisa de fazer um update de todo o trabalho que tem sido desenvolvido aquando da minha ausência (mesmo que estejamos sempre em contato por email). E uma coisa é garantida…o jetlag!!!



When we are in our last week of a research trip or expedition, it is essential to focus on 3 main aspects:
1. What still needs to be done?
2. How everything went?
3. Pack and get ready to return
 What has that to do with wild boar, Monarch butterflies and squid from the Southern Ocean? Everything!!!! I have been in New Zealand since 12 March. The project aimed to study the role of cephalopods (group of animals that contains octopods, cuttlefish and squid) in the Southern Ocean, using wandering albatrosses as biological samplers. As research nets only catches 4-5 species of cephalopods, and wandering albatrosses catches 40-50 species, studying the beaks of cephalopods in boluses (indigestible items, including beaks, regurgitated voluntarily before they fledge) is perfect. This year I studied around 40 species of squid from the Southern Ocean. Some has never been caught in nets, so we have species called Galiteuthis stC sp. or Chiroteuthis sp. F. With all samples planned analyzed, this point 1 is done. Point 2 is pretty important. After analyzing about 6000 cephalopod beaks from more than 50 samples, the results were positive. Beyond work, it is important to maximize my stay far away from home. The institute organized a Wild Food Challenge in which Brian (a Maori) cooked wild boar, wild pork, wild goat, Puha which was excellent learning more about other cultures. Also, it was great witnessing the Monarch butterflies (that only live for days to weeks). Finally, in point 3, there are numerous meetings need to be done prior my departure to make sure that everything gone according to plan and preparing the meetings at home….one thing is guarantied…the jetlag!



sexta-feira, 11 de abril de 2014

O SOM DA ANTÁRCTIDA





Que sons conseguimos ouvir na Antárctida? O som de um vento enregelado pelo frio polar? O som de milhares de pinguins, focas e albatrozes? Um som polvilhado com um verde insuspeito no imenso branco polar? O melhor é deixar a imaginação ouvir ao ler a experiência de quem lá viveu durante nove meses ininterruptos e que disso fez relato.
E esse relato pode ser lido em “O Som da Antártida”, um dos 45 textos em forma de diário escritos pelo cientista polar português José Xavier, e que compõem no conjunto o seu livro “Experiência Antárctica – relatos de um cientista polar português”, obra que acaba de ser publicada pela Gradiva, na colecção “Ciência Aberta”, com o número 207.
Este livro, que tem a revisão científica de Carlos Fiolhais, documenta “a mais longa expedição científica de sempre realizada por um português na região antártica”, escreve o seu autor na introdução do mesmo. “Não só relata os objectivos científicos dessa expedição, abordando questões actuais e pertinentes sobre as regiões polares, como também dá conta do quotidiano na Antárctida”.
Esta obra constitui um dos poucos relatos na primeira pessoa sobre o quotidiano da investigação de um cientista português e, mesmo que fosse só por este aspecto, destaca-se no panorama recente da divulgação de ciência em Portugal.
É um testemunho genuíno e apaixonado do autor, biológo marinho e investigador do Instituto do Mar da Universidade de Coimbra e do British Antarctic Survey (Cambridge), numa escrita clara e cativante, apaixonada mas rigorosa, pulsada com um entusiasmo contagiante não só pela Antárctica, como também pela ciência.
Em “Experiência Antárctica” os relatos estão compaginados com 31 fotos a cores o que acrescenta uma forte intensidade visual à excelente escrita de José Xavier, para além de engrandecer a presente edição com 198 páginas.
Ao lermos este livro ficamos não só na posse de diversos conhecimentos sobre a vida na Antárctida, uma natureza em estado puro mas onde a influência das alterações climáticas globais se fazem sentir com crescente preocupação, mas também na posse de informações preciosas sobre como é o dia a dia de cientistas a investigar num ambiente extremo. É um livro sobre a vida na Antárctida, mas também sobre a ciência.
José Xavier é um excelente comunicador de ciência e isso reflete-se neste livro que está escrito de forma a poder ser lido por todos. Lê-se como um livro de aventuras recheado de boa ciência.
É um livro destinado a todas as idades, uma obra que possui a qualidade de despertar apaixonadamente para a ciência. Recomendado a todos.

 Por António Piedade (em http://dererummundi.blogspot.pt/2014/04/o-som-da-antarctida.html)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O Marco....



A primeira visita de José Xavier, cientista, à EB1 de Febres, aconteceu no âmbito de um projecto do Instituto do Mar da Universidade de Coimbra que pretende levar a ciência e o trabalho dos investigadores às escolas. “Por um lado damos a conhecer o nosso trabalho, por outro, obriga-nos a melhorar consideravelmente a nossa capacidade de comunicação, a forma como comunicamos ciência para um público tão específico”, explica. Para o investigador, é muito mais fácil comunicar em conferências, entre os seus pares. As crianças são um público bastante mais difícil, no sentido em que é preciso adequar a nossa mensagem aos conhecimentos e conceitos que elas conseguem compreender. No fundo, é “trocar por miúdos” aquilo que muitos “graúdos” não conseguem, eles próprios, assimilar.
“Neste caso estamos a demonstrar o que é ser cientista polar, estamos a tentar estimular o seu interesse pelo conhecimento e pela ciência em geral. Importante é que percebam que a ciência é fundamental”, considera. Na EB1 de Febres (e no Agrupamento “Finisterra”) José Xavier confessa ter encontrado uma equipa de docentes muito empenhada e interessada, e um entusiasmo pouco comum nos alunos. “Por isso foi surgindo uma ligação que me tem feito vir a Febres todos os anos. Hoje já nem falo só do que é ser cientista, já podemos abordar temas mais específicos sempre ligados ao programa curricular das crianças”.
Foi numa dessas visitas à EB1 de Febres que José Xavier foi desafiado pelo pequeno Marco, aluno do 1.º ano. A situação foi de tal forma marcante para o cientista, que prometeu a si mesmo arranjar uma forma de surpreender o menino quando regressasse a Febres. “Antes da hora de almoço o Marco olhou para mim, olhos esbugalhados e bola na mão, e desafiou-me para ir jogar à bola com ele. No meio daquela confusão, com dezenas de alunos de um lado para o outro, pensei, ‘pára tudo, temos que ir jogar à bola’”, recorda. O jogo durou meia dúzia de minutos e, no final, o Marco estava naturalmente triste por perder o seu companheiro de brincadeira. “Durante a tarde estava sempre a espreitar, a ver se me apanhava para mais uma dose de bola, mas não houve tempo. Na hora de irmos embora, o Marco começou a chorar. Desde esse momento assumi a missão de arranjar uma forma de ele não ficar triste”.
Surgiu, então, a ideia de oferecer uma bola de futebol ao Marco na próxima visita a Febres. Mas não seria uma bola qualquer, teria que ter uma característica especial: “Na altura da Páscoa estava a participar num workshop internacional em que participaram professores e cientistas de diversos países, e consegui que todos assinassem a bola. Acharam imensa graça à história do menino de Febres e quiseram colaborar”, conta. Dia 13 de Maio foi a data escolhida para entregar a bola ao Marco. Mas José Xavier trazia uma outra surpresa na “bagagem”: uma camisola oficial do clube de futebol favorito do Marco – o Benfica. “Apesar de ter sido a atitude do Marco que esteve na origem desta oferta, julgo que a bola deve ser oferecida à escola, para que todas as crianças possam usufruir dela e saber o que ela representa. O Marco foi a razão de tudo isto acontecer, mas a partilha é fundamental”.
Depois de uma aula sobre biodiversidade, em que alunos do terceiro ano apresentaram alguns trabalhos aos colegas e José Xavier falou, também, sobre o tema, a expectativa era grande. As crianças sabiam que estava reservada uma “surpresa” para o fim da manhã e não escondiam o entusiasmo. No pátio da Escola, junto ao campo de futebol, Marco recebeu a bola das mãos do investigador. O sorriso que lhe iluminava o rosto era o mais sincero testemunho da felicidade e alegria que enchiam o seu coração. Por entre palmas dos colegas, o pequeno recebeu, ainda, a camisola do seu clube. Vestiu-a de imediato e aquele sorriso, tão puro e inocente, não mais saiu dos seus lábios. “É um gesto simbólico, uma prova de que acreditamos no Marco, de que confiamos no potencial que ele tem. É um menino reguila, mas está nas nossas mãos canalizar a sua energia e coragem para os caminhos adequados”. Afinal, é nas crianças que depositamos a esperança de um futuro melhor, e é com carinho e amor que alcançaremos esse objectivo.
Autor: Redacção (Filipa do Carmo) do Jornal Aurinegra

terça-feira, 8 de abril de 2014

SEMANA POLAR INTERNATIONAL Março 2014 | INTERNATIONAL POLAR WEEK March 2014

Durante a SEMANA POLAR INTERNACIONAL de Março de 2014, realizada com a APECS Portugal, APECS Internacional com o Programa Polar Português PROPOLAR, que também reúne atividades educacionais desde a última semana polar (Outubro 2013), foram envolvidos  diretamente cerca de 10813 alunos, 23 cientistas e 239 professores e educadores de Portugal, Argentina, Brazil, Búlgaria, Canada, Chile, França, Noruega, Países Baixos e Reino Unido. 



Foram realizadas diversas atividades com destaque para as palestras nas escolas e universidades (47), conferências via skype (10), palestras em workshops, seminários ou actividades educacionais (9; onde se esteve em direto na internet), feira do livro (com a ex-ministra da educação Isabel Alçada)(1), visitas de estudo a Universidades (1), apoio em expedições educacionais (1), e interações com alunos  através de perguntas e respostas por email (1). 




Foram realizadas também várias atividades paralelas nas escolas, incluindo a exposição intitulada  “Nos limites da Ciência” sobre as regiões polares  em coordenação com o Instituto de Educação e Cidadania (IEC) que já tem estado em várias escolas em Portugal. Salienta-se a colaboração de José Xavier como consultor científico na Expedição ao Pólo Sul  de “Education Though Expeditions” (ETE ; http://www.eteteachers.org/) , que conjuntamente com Patrícia Azinhaga e apoio da comissão coordenadora dos projetos educativos e PROPOLAR, levou a bandeira Portuguesa ao pólo Sul. Esta iniciativa envolveu 150 escolas e mais de 7000 alunos diretamente.   



Salitenta-se igualmente a visibilidade cada vez maior da página de facebook das SEMANAS POLARES (https://www.facebook.com/semanaspolarespt). A página possui atualmente 249 “likes”, e teve 39 610 pessoas que estiveram associadas à página pelo menos 1 vez por mês (por exemplo, fizeram um click na página ou associar uma foto ou comentário) entre a última SEMANA POLAR (Outubro 2013).  O nosso amigo Antony Jinman levou a nova bandeira ao pólo sul!!!!!





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During the POLAR WEEK March 2014, organized by the Portuguese polar educational projects "Profession: Polar Scientist" and "Education PROPOLAR", with APECS Portugal, APECS International, with the Portuguese Polar Program PROPOLAR, gathering also activities since the last Polar week (October 2013), a total of  10813 students, 23 polar scientists and  239 teachers/educators from Portugal, Argentina, Brazil, Bulgaria, Canada, Chile, France, Norway, the Netherlands and United Kingdom were involved.  A wide range of activities took place, ranging from lectures in schools and Universities (47), skype calls (10), talks in workshops, seminars and speeches (9), book fair (1), school visits to Universities (1), polar expeditions (1) and interactions with students by email (1). Worth mentioning Antony Jinman that took the Portuguese flag to the South Pole. GREAT!!!!


 

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Dia colossal | Colossal day








Acordo todos os dias às 7 da manhã. Se não tenho skype calls de trabalho (esta semanas tive 4, todas para a Europa), vejo emails até às 8. Pequeno almoço, agarrar na bicicleta e vou para o instituto. 20 minutos fantásticos ao longo da marginal de Wellington em direção a Greta Point…faz-se bem! Chegar ao escritório, mudar de roupa, cup of tea. 2 horas concentrado no laboratório a analisar amostras ou no escritório a escrever artigos/responder emails/reunions com os colegas Nova Zelandezes. Às Terça-feiras (se estiver bom tempo), os colegas vão jogar à bola à hora do almoço. Na verdade, os colegas tornam-se amigos quando se compartilha algo que dá prazer fazer conjuntamente. Qualquer Português, saiba jogar ou não futebol, é logo catalogado como Cristiano Ronaldo e toda a gente quer-te na sua equipa. Após o jogo, se estiver mesmo bom, vou dar um mergulho. Esta semana fui com o Henrik…estava bem gelada, sim senhor, mas soube muito bem….depois de sair da água.

Voltar ao instituto totalmente molhado, duche, regreso ao lab/escritório, focar novamente no trabalho. Melhor hora ppara ser produtivo: a partir das 6 da tarde! Saio pouco antes das 8 da noite, pois a partir daí a minha chave electrónica deixa de funcionar. Isto quer dizer na prática, que tenho de sair a essa hora! Mais 20 minutos de bicicleta, mas num caminho diferente: grande subida (diria 10 minutos a subir!) e depois é puro prazer a descer a colina de regresso à cidade. Com isto está o exercicio diário feito! Um detalhe: chegar a casa significa ter de subir 149 (cento e quarenta degraus) com a bicicleta às costas!!!! O engraçado é que a miha rua dizia “Avenue”. Na verdade, de avenida não tem nada, só mesmo (muitos) degraus! Comer qualquer coisa, ligar à Antena 1 para ouvir o comentário do Nicolau Santos (e com sorte ainda dá para apanhar o desporto)…bem há hora do jantar (pois aqui na Nova Zelândia são 12 horas de diferença)…

Nesta semana, no meio desta rotina houve uma surpresa. Andando pelo corridor passo por um escritório que tem na parede uma foto espetacular de pessoas (potencialmente cientistas) junto de uma lula colossal Mesonychoteuthis hamiltoni que vive na Antártida. Ela é a maior lula do mundo, que pode chegar a mais de 20 metros de comprimento. Claro que tive de ir falar com o cientista que estava no escritório. Mark Fenwick foi um dos cientistas que tratou da lula colossal que está agora no Museu Te Papa de Wellington (a capital da Nov Zelândia)…adorei falar com ela e ter a experiência de viva voz de alguém que já teve o privilégio de ter uma lula colossal nas mãos. De momento, vou-me contentando com os bicos destas lula que encontro nas dietas dos albatrozes que ando a estudar…bem, está na hora de pegar na bicicleta e voltar a casa…

I wake up normally at 7am. I have usually a work skype call (just to give you an idea, I had 4 this week, as most collaborators live in Europe) or check emails. 8am: time to have breakfast, pick up my bike and go the institute. Lab or office work for 2 hours. Lunchtimes are usually working or football. If its hot, we might go for a swim. Shower, get back to work…usually until just before 8pm (as my office keys stop working then). Get on the bike again another 20 minutes of pleasure: go up a hill and then enjoy riding down the other side of the, towards Wellington. Turn on National Radio Antena 1, time for the Portuguese morning news while having dinner (as the time difference is 12 hours; NZ is ahead). This week it was special because I met Mark Fenwick, the scientist that helped to put the colossal squid in the New Zealand Museum Te Papa…noticed a poster on it in his office while passing by. Just brilliant man! Me, I am still happy with working with their beaks….found in the diets of top predators…hummm, time to get back on the bike;)