Ser cientista polar exige muitas vezes ter de ir recolher
amostras nas regiões polares. Alternativamente pode estabeleçer colaborações
com outros colegas que podem recolher essas amostras, e só ser necessário analisar
essas amostras no laboratório. No meu caso, eu estou na Nova Zelândia onde
trabalharei num dos institutos mais reconhecidos para analisar amostras da
dieta de albatrozes que vivem em todo o Pacifico.
Esta semana foi passada a ver MUITAS amostras e a relembrar
os bicos das lulas mais complicadas. É incrível que mesmo com mais de 10 anos a
identificar bicos de lulas da Antártida, ainda é preciso verificar tudo ao
detalhe, ser muito exigente comigo próprio e nunca facilitar, o que realça a
complexidade na identificação . Na verdade, esta metodologia de taxonomia é
muito importante pois tenho de ter a certeza do que estou a identificar. Se
tenho dúvidas sobre um bico, eticamente tenho a obrigação de o classificar com
desconhecido (em vez de ficar tentado a classificá-lo a uma ou outra espécie
que o bico seja parecido). Isto porque é fundamental saber exatamente (e
corretamente)o que os albatrozes andaram a comer, e sermos capazes de produzir
modelos matemáticos corretos sobre como funciona o Oceano Antártico. E nos
primeiros dias não foi fácil, pois são muitas horas de diferença entre Portugal
e Nova Zelândia (hoje falei às 9 da manhã com colegas de Portugal, onde era 8
da noite do dia anterior).
Como a Nova Zelândia fica do outro lado do mundo de
Portugal, eu esperava que não receberia qualquer informação de Portugueses, ou
até mesmo da Europa. Puro engano. As notícias da estação televisiva da Nova
Zelândia pareçe-se muito com o nosso telejornal: começa com as notícias locais
e nacionais, depois aborda os grandes assuntos internacionais (de momento, é o
que se passa na Crimeia e o desparecimento de um avião das linhas áerias da
Malásia), terminando com o desporto (sim, sei que a Irland ganhou as 6 nações
de raguebi) e a metereologia (estive no meio de o ciclone Lusi há uma semana).
Mas ao estar no outro lado do mundo esperava não ouvir e ver
Portugueses na TV. Desde que aqui estou já vi aqueles que já se esperava,
refletindo a imagem do que Portugal é hoje no mundo. Adivinha quem são? Estou
logicamente a falar de José Mourinho e de Cristiano Ronaldo, com assuntos
relacionados com futebol. O terceiro foi uma surpresa: David Prescott apareceu na TV
da Nova Zelândia a relatar um campeonato do mundo de surf. Como cientista
Português, é tão bom reconhecer estas caras que me são familiares. Também é bom
conheçer novas pessoas, novos colegas, estabeleçer novas colaborações….mas
antes de tudo (e antes de sermos cientistas), somos seres humanos, com gostos,
preferências, opiniões, que adoram o surf, que torçem pelo Mourinho, que vibram
com um golo do Ronaldo, que ficam felizes por receber mais uma receita para
fazer por email, e que possui os mesmos desafios diários como toda a gente… e
ver Portugueses na TV faz-me certamente sentir-me um pouquinho mais perto de
casa!
Being a marine scientist means going to the field regularly to collect samples. As an Antarctic scientist, going to the Antarctic is a MUST...except if you have colleagues that can collect the samples for you. That is exactly why I am in New Zealand. Some colleagues from New Zealand collected the samples, and I am in Wellington (capital of New Zealand) analyzing them. This week I analyzed LOADS of samples in the lab. It is interesting to realize that I had to review everything I knew about cephalopod beaks identification, even if I worked in this field for more than 10 years. Identifying the beaks correctly is fundamental, and it requires a lot of attention to details, to correctly characterize the diets of the albatrosses and consequently provide valuable (and correct) data to models for the Southern Ocean. In these first days, it was not easy due to the jet lag. Even being on the other side of the world (the furthest way from Portugal), I still hear about Portugal: guess who? of course, about football...and logically José Mourinho and Cristiano Ronaldo. Interestly enough, I also say David Prescott, a juri on world surfing championships on a NZ Sports TV. These small things make you closer to home...
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