sábado, 26 de setembro de 2009

A ordem das coisas| The order of things

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(De um modo geral, Bird Island tem tudo: montes, planícies, praias...| From a broad perspective, Bird Island has everything: hills, meadows, cliffs, beaches...)


Quando somos crianças, a curiosidade leva-nos a explorar tudo. Aliás, acho que todos fomos exploradores quando crianças, já que explorar significa "viajar" numa área não conhecida de modo a aprender mais sobre ela. Somos autênticos Indiana Jones e não sabiamos!

E o fascíno das coisas levou-nos a contar as perninhas todas de uma centopeia, a passar horas a olhar para os caranguejos nas pequenas poças entre (escorregadias) rochas e a brincar com a areia molhada que nos levava a construir castelos gigantes durante tardes inteiras. No meio de tudo isto existe um número enorme de factos a serem assimilados e pode parecer que não existe qualquer ordem em tudo isto. Existe apenas factos para saber? ...e será só isso? Em outras palavras, é mais importante o conhecimento de factos ou o conhecimento de técnicas (ou mecanismos que explicam esses factos)?

Comecei a pensar nesta ligação entre factos, e como existe uma certa ordem naquilo que observamos, quando comecei a olhar para o mar com outros olhos. Depois de passar tanto tempo nas marés vazias durante o Verão, começa-se a perceber que existe uma ordem. Por exemplo, os caranguejos normalmente ficam nas poças e aventuram-se só nas zonas molhadas. As cracas só existem onde só as marés mais altas chegam e salpicam-lhes a quantidade suficiente de água salgada para sobreviverem. E porque é que vivem aí? Porque se se distribuissem mais junto à água, os seus predadores "tratava-lhes" da saúde. Ou seja, evoluiram para viver ali!

Na Antárctica, quando se chega a uma ilha como Bird Island, parece não haver qualquer ordem, apenas animais por todo o lado. Mas com o tempo, começa-se a perceber a ordem das coisas aqui, talvez por ser mesmo uma autêntica cidade de animais (são cerca de 1 milhão no Verão).


















(As otárias do Antárctica Arctocephalus gazella gostam mesmo de estar nas praias junto à água. Os pinguins gentoo Pygoscelis papua ficam lá a atrás| Antarctic fur seals Arctocephalus gazella really enjoy being on the beach close to the waterline although they can be seen up into the valleys far away from the beaches. The gentoo penguins Pygoscelis papua go more inland, still on the beach)


Nas praias, mesmo junto à água, são as otárias do Antárctico Arctocephalus gazella que dominam. São aí que os territórios mais preciosos para obter o maior número de fêmeas na altura de se reproduzirem. Entre as otárias, passam os pinguins gentoo Pygoscelis papua. Estes pinguins gostam do mesmo tipo de praias das otárias mas os seus ninhos ficam mais em terra. Os pinguins macaroni Eudyptes chrysolophus preferem zonas mais inclinadas (praias ou não) de rochas junto à costa.

















(Os pinguins Macaroni adoram as zonas rochosas, inclinadas| Macaroni penguins really enjoy rocky inclined areas)


De um modo geral, os albatrozes preferem zonas mais altas, onde também exista terra para fazer ninhos. Aqui, os albatrozes de cabeça cinzenta Thalassarche chrysostoma preferem zonas ventosas e inclinadas mas em que podemos ainda caminhar. Os albatrozes de sobrancelha preta Thalassarche melanophrys sobrepõem-se nas mesmas zonas que os albatrozes de cabeça cinzenta, e até existe colónias conjuntas.



















(As colónias dos albatrozes de cabeça cinzenta e os de sobrancelha preta são mais inclinadas| The grey-headed and black-browed albatross colonies are located in more hilly areas)



Os albatrozes viajeiros Diomedea exulans preferem as planícies, pois as suas grande asas lhes permitem "apanhar o vento" mais facilmente. Existe ainda outros albatrozes que preferem zonas escarpadas e existem até aves que fazem tocas (tão como os cagarros Calonectris diomedea nos Açores).

















(Os albatrozes viajeiros Diomedea exulans preferem planícies| Wandering albatrosses Diomedea exulans prefer meadows)



Então, é mais importante o conhecimento de factos ou o conhecimento de técnicas (ou mecanismos que explicam esses factos)? Sim, talvez a solução esteja na combinação das duas com uma boa dose de curiosidade e massa crítica....

When we are kids, we are driven to explore everything! Indeed, I think everyone of us had an "Indiana Jones" attitude as exploring is simply "travel in or through an unfamiliar area in order to learn more about it." And that fascination took us counting every leg of a centipede, observing crabs in little rocky ponds hours on end and be amused numerous afternoons by the sand in our hands while builting another gigantic castle on the beach. In the middle of all of this, there are numerous facts that are being assimilated and apparently there seems not to be an order of things. Are there only facts to learn? Is that it? Or in better words, it is better the knowledge of facts of the knowledge of techniques (that could explain the facts)? These thoughts started when I suddenly started looking at the rocky seashore from a different perspective. At first, it seems animals everywhere but you realize that that algae of that colour only live there, the crab only live between there and there, and so on...that was fascinating! There was an order of things...I came and recognized the same order in the Antarctic. When I arrived at Bird Island, it is overwhelming the amount of animals everywhere (approx. a million!) but their distribution has an order. The Antarctic fur seals Arctocephalus gazella occupy the beaches, mostly close to the water, the gentoo penguins Pygoscelis papua prefer the same kind of beaches but they go more inland. Macaroni penguins Eudyptes chrysolophus prefer to nest on rocky slope areas still close to the shore. Albatrosses prefer to nest in areas that they can also have access to land so that they can build their nests. Grey-headed Thalassarche chrysostoma and black-browed Thalassarche melanophrys albatrosses prefer hilly, windy areas where they can easily take off and wandering albatrosses Diomedea exulans prefer meadows (more plain areas) as they can take off from anywhere due to their enormous wongs. So, it is better the knowledge of facts of the knowledge of techniques (that could explain the facts)? Most likely, we need both... with a good quantity of curiosity and critical perspectives:)

domingo, 20 de setembro de 2009

Sámi

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)



















(As renas fazem parte da tradição Sámi|The reindeer is part of the Sámi people tradition; Photo kindly provided by Agnete)


De onde vêem os iglús? Bastará responder a esta questão para perceber algumas diferenças óbvias entre os habitantes do Árctico e da Antárctica. Como a Antárctida está isolada dos restantes continentes, a sua colonização por humanos nunca aconteceu, e hoje na Antárctica é a presença de cientistas que mais se sente. No Árctico, os povos indígenas há muito tempo que constroem os famosos iglús.

Existe uma variedade de povos indígenas do Árctico. Os povos Inuit e Yupik são ambos os habitantes do Árctico (e deverão ser chamados assim). Apesar de no Alaska, referirem-se a todos os habitantes indígenas do Árctico como esquimós (inglobando ambos Inuit e Yupik), esta palavra tornou-se pejorativa em várias populações do Árctico e daí hoje em dia não haver um termo universal que caracterize todos os povos do Árctico e aceite por todos.

Um dos povos indígenas europeias mais fascinantes que vivem mesmo junto ao Árctico, e que estão muito habituados às temperaturas polares, são os Sámi, originários da região Sápmi (reune partes da Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia, incluindo a região Sueca da Lapónia). Aliás, é nesta região que o Pai Natal vive e que recebe muitas milhares de cartas todos os anos de crianças de todo o mundo!!!!! De certeza que os Sámi têm de ser um povo simpático...
























(Região onde fica a região Sápmi, onde vivem as populações Sámi; Cultural region of Sápmi where Sámi people live)

Pude provar essa alegria própria deste povo há pouco tempo. Tive o privilégio de conhecer uma típica Sámi numa conferência das Nações Unidas na Noruega no ano passado. Vive na parte Norueguesa de Sápmi (são mais de 70 000 no mundo) e explicou-me tudo. Aí, existe uma parte da população que é residente e outra nómada. A grande maioria do povo Sámi aí é nómada e vive da criação de renas. Mesmo os filhos dos pastores de renas possuem educação e não existe uma passagem automática de país para filhos desta actividade. Por muitos anos, as renas foram (e ainda são) usadas como meio de transporte , mas hoje já existe tudo do mundo moderno, incluindo snowmobiles, tractores e automóveis e são estes que são regularmente usados hoje em dia. Esta população nómada possui 2 casas, uma de Verão e outra de Inverno, de modo a seguir a migração das renas ao longo do ano. A mudança para a casa de Verão ocorre na Primavera quando as renas se deslocam para as zonas junto à costa.

























(Agnete e o seu filho, tipicamente vestidos, na região Sápmi norueguesa|Agnete and her son, beautifully dressed, at the church in Norwegian Sápmi; Photos kindly provided by Agnete)


A restante população é residente e têm qualquer outra profissão (desde médicos a professores, de policias a advogados, músicos e actrizes; quem não conhece Renée Zellweger (Diário de Bridget Jones)). A língua principal é o Sámi, a língua Norueguesa é a segunda e a língua Inglesa a terceira. Esta parte da população vive em casas com todas as comodidades de qualquer outro país europeu (electricidade, etc) mas não dispensam de usar renas ou cavalos para transporte, sempre que necessário.




















(Membros da comunidade Sámi, à saída da igreja| Sámi people just after a church cerimony; Photo kindly provided by Agnete)



No período de férias escolares de Verão, também esta parte da população vai passar uma temporada nas praias junto à costa, onde se encontram todos. A partir do meio de Maio, existe 24 horas de dia e que se extende até ao meio do Agosto. Depois começa a ficar mais escuro, e mais escuro, e pelo Natal existe apenas uns breves periodos de luminosidade. No fim das férias escolares, os habitantes residentes regressam, enquanto a população nómada fica à espera do início da migração das renas. Voltam todos a ver-se no Inverno, passando a maior dele todos juntos... até à próxima Primavera. Brilhante modo de viver!!!

Where do you usually see igloos? This is one of the questions that whose answer provides a good knowledge of the differences between the Arctic and the Antarctic. While Antarctica do not have indigenous people, the Arctic has the Inuit and Yupik. One of the most fascinating indigenous people living very close to the Arctic, are the Sámi people. Used to enjoy snow, like we do here in the Antarctic, the nice Sámi people live in the region of Sápmi (region that includes part some parts of Norway, Sweden, Finland and Russia) and they are more than 70 000 people. I had the great privilige to meet Agnete and a friend, both Sámi, in an United Nations conference in Norway and to learn more about their culture. Agnete explained me everything: in the norwegian part of Sápmi, there are the Sámi people that is resident and the one that is nomad. They speak Sámi, the second language is Norwegian and third English. Most of the Sámi people in her region lives of reindeer farming (Agnete describe them beautifully as the "moving Sámi people"). The reindeer families have two houses, one for the Summer and another for the Winter. They move according to the reindeer migration, moving to the coast in Spring. ..The resident people stay all year in their village and have normal jobs including lawyers, doctors, policemen, teachers, musicians and actresses (who has not ever heard of Renée Zellweger of the film "Diary of Bridget Jones). Everyone has a nice house with all the modern european comodities. And although reindeers can still be used as a means of transport, nowadays snowmobiles, tractors and cars are normally used. In the Summer hollydays, they also move to the coast. From middle of May until the middle of August, there is 24 hour days. Then it becomes more and more dark and around Christmas time, there is only daylight briefly. In Autumn, when school starts, they return to the village. When the reindeer start migrating back to Winter pastures, the reindeer herders move back to their Winter house in the village, where everyone meets again...until next Spring. Amazing!!!! Thank you Agnete!!!!!

domingo, 13 de setembro de 2009

Olhar para o mar ! Living the sea from a wave perspective...

A escrever a partir da Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

























(Estão a olhar para a andorinha do mar do Antárctico Sterna vittata, não estão? Eu também estou a olhar para aquela onda no lado direito em baixo| You are looking at the Antarctic tern Sterna vittata, aren´t you? I am also looking at the nice small wave on the bottom right)

Viver junto ao mar é um sonho. E o modo como olho para o mar pode ser totalmente diferente das dos meus colegas cientistas, principalmente quando vejo ondas. Devido a adorar todos os desportos de ondas (incluindo bodyboard, surf, skimming, windsurf) é sempre numa perspectiva muito própria e vem-me sempre à cabeça a questão "será que as ondas estão boas?"

Existe uma graciosidade muito própria das ondas, sejam elas grandes, pequenas, num dia de sol ou num dia menos alegre. A força que transmitem, a nobreza com que se levantam quando a praia se aproxima, a leveza como lidam com os nossos corpos quando somos apanhados na sua espuma depois de quebrarem (e aguentamos a respiração quando somos apanhados nesta "máquina de lavar")... para mim elas são as sereias do mar!



















(Pinguim gentoo Pygoscelis papua a aproveitar a onda para regressar a casa| Gentoo penguin Pygoscelis papua taking a ride of a wave to return home)

As ondas transmitem sensações indiscritiveis a milhões de surfistas que se deliciam ao deslizar nas suas paredes. Os animais marinhos já sabem desse segredo. Os pinguins "voam" nas paredes das ondas tal como focas brincam com as suas cristas, quando estas estão prestes a quebrar, os albatrosses usam-nas para os lançar de novo para o ar com as correntes de ar quando passam meses no mar, os petréis medem o seu medo a irem contra elas a partir da praia. Estes proporcionam horas de riso pois várias vezes as ondas levam a melhor e é vê-los a regressar com a espuma de volta para a praia a rebolar como fossem crianças na sua primeira onda.



















(Pinguins gentoo Pygoscelis papua partilham as ondas juntos quando voltam a casa| Gentoo penguins Pygoscelis papua share their waves when returning from the sea)

Os pinguins gentoo Pygoscelis papua usam-nas para lhes ajudar a chegarem à praia e evitar as rochas...e veem às centenas de cada vez...na mesma onda!! Solariedade na sua versão mais ampla.



















(Nos dias calmos os petréis parecem que podem andar sobre o mar| in the calm days, we can see giant petrels almost walking over the sea)

E só pensei tudo isto agora, em Setembro! Porquê? porque este mês é quando o buraco do ozono sente-se bastante aqui (o sol está de regresso e outros gases (exemplos do cloro e bromo) interage com o ozono, quebrando-o. Isso faz com que a espessura do ozono diminua significativamente) pois é em Setembro que o buraco do ozono é maior na Antárctica todos os anos.


























(Buraco do ozono há 3 dias, 10 de Setembro 2009. Estamos a nordeste da Peninsula Antárctica| Ozone hole 3 days ago, on the 10 September 2009. We are northeast of the Antarctic Peninsula. Image from NOAA, USA)


Para nos protegermos, desde o inicio de Setembro que usamos protector solar todos os dias, cada vez que saímos da base....e o cheiro do protector solar é como regressar às nossas praias com uma prancha debaixo do braço preparado para mais uma sessão de ondas...


















(Quando se fala de ondas temos sempre de falar de ondas gigantes, tal como aconteceu no último cruzeiro, com ondas a serem superiorees a 8 metros de altura| When talking about waves, it is a must refering to the last cruise storms with waves reaching more than 8 meters high)


Living on the beach is a dream. Despite all scientists enjoying living so close to sea as me, the way we perceive it can be quite different. Probably because I was always enjoyed doing wave sports (bodyboarding, surfing, skimming), everytime I see the ocean I think...are the waves good today? Each wave is beautiful, either they are big, small, on a beautiful day or in an windy, rainy day (like today!). The strength they transmit, the nobility they show when they get higher and higherr as they come closer to shore, the cottonlike way they grab you when the surf catches you (and you have to hold you breath for a bit!)...for me they are the mermaids of the oceans! Waves brings huge sensations to the millions of surfers from around the world that uses their bodies to be transported for a few meters. The marine animals already know that. Here, I see penguins using the waves to jump to the beach to avoid the rocks, fur seals use them to play around, the giant petrels challenge them to see who is the strongest (and sometimes is seeing a giant petrel coming against a big wave and be brought back to the beach rolling with the surf, just like children on their first time in a wave (I still laught a lot when I see this happenning). Why I think about it now? Because this month the ozone layer in Antarctica is quite small, therefore we have to use sun protector everyday since the beginning of September. And the smell of the sun protector takes me back to Portugal sunny beautiful beaches, when with by board under my arm, get ready for another surf session...

domingo, 6 de setembro de 2009

Como fazer parar o tempo?| How to grasp the moment?

A escrever a partir de Bird Island, Geórgia do Sul (Antárctica)
Writing from Bird Island, South Georgia (Antarctic)

















(Foca leopardo Hydurga leptonyx a aproveitar mais um dia na Antárctica|If seals spoke our language...a leopard seal Hydrurga leptonyx on just another beautiful day in the Antarctic)

Desde sempre, se ouve dizer "o tempo voa quando nos estamos a divertir" e sem dúvida que este provérbio se aplica a mim. Quando paro e reflicto um pouco, fico perplexo de como já passaram tantos meses (estou há 7 meses na Antárctica). Hoje sinto que parece que foi não ontem, mas no dia anterior, que cheguei à Antárctica. Ao vir para a Antárctica, existe um grupo de sensações evidentes:
























(As minhas memórias poderiam ficar assim, apenas uma pincelada de quem já esteve aqui: contornos do corpo da foca leopardo Hydrurga leptonyx no gelo em cima |My memories could be like this, just nuances that something was here: contours of the leopard seal Hydrurga leptonyx above)


1- Na primeira semana, todos têm umas caras de bebés, ou seja, uma querida cara de felicidade sem grandes expressões e com os olhos gigantes sempre abertos a tentar absorver tudo! Aí, como ainda estamos a adaptarmo-nos à nova casa ( e é preciso saber como tudo funciona, que responsabilidades teremos na gestão da base, etc), e a recuperar da viagem (no meu caso de um cruzeiro cientifico excelente mas também muito exigente a todos os níveis), esses dias são excelentes...tudo é novo!!! Tempo para voltar a lidar com os pinguins e os albatrozes, tirar aquelas fotos que gostariamos de tirar aos albatrozes, pinguins e às focas, que andávamos a sonhar há meses ou anos é como um realizar de um sonho! Descreveria esta sensação como "deslumbramento".

























(Filhote de um albatroz viajeiro Diomedea exulans com os seus medalhões de gelo| A wandering albatross Diomedea exulans with its ice medallions)

2- Após o primeiro impacto, e com muito trabalho pela frente, tenta-se racionalizar tudo o que se faz (ex. para passear pela ilha é preciso ter as noções todas de segurança, usar rádio para estar sempre contactável) e organizar tudo. Nessa fase, o tempo realmente voa, pois ou estás a trabalhar ou a dormir. E aí, o ritmo de trabalho de Cambridge, em Portugal ou na Antárctica, parece ser igual e mal tem-se tempo para relaxar. Concentração é a palavra que estou à procura.


















(Filhote de um albatroz viajeiro Diomedea exulans depois de uma tempestade de neve. Reparar que o ninho nem se vê| A wandering albatross Diomedea exulans chick after a snow storm...notice that the nest is totally covered)

3- Após ganhar o ritmo acelerado de estar em trabalho de campo (é preciso estar em forma pois aqui o modo de viajar na ilha é a caminhar por montes e vales) e de saber como a base funciona, entra-se numa fase de trabalho ainda mais intensiva. Esperámos anos para testar estes aparelhos e para estar aqui. Fazer os primeiros estudos com os pinguins e albatrozes é fascinante e apesar de estar super concentrado no que estou a fazer, estamos todos felizes da vida. Sente-se a cada minuto o privilégio estar em contacto directo com estes magníficos animais.



















(A uns cm de distância de um casal de petréis Macronectes halli|A centimetres of a couple of northern giant pretrels Macronectes halli)

4- Apesar de eu ter uma grande variedade de projectos a decorrer ao mesmo tempo todos os meses, a partir do 3-4 mês, começa-se a ficar "adaptado" a todos os processos que estão a decorrer. Por exemplo, agora já me é possível estimar quanto tempo demorará colocar os aparelhos GPS nos albatrozes cada mês (muito importante pois se vejo na previsão metereológica que tenho 2 dias para colocar esses aparelhos, agora posso dizer com segurança "tudo bem, temos tempo. Vamos só amanhã à tarde!". No primeiro mês, desconheciamos a duração das viagens dos albatrozes estavam a fazer este ano, e aí não arriscava nada, e iria para a colónia logo no início do primeiro dia possível, o mais cedo possível. Confortável é a palavra certa.




















(E em alguns dias de tempestade nem vale a pena mexer uma pena...petrel Macronectes spp. coberto quase totalmente de neve| And in some snow stormy days it is better not even moving a feather....giant petrel Macronectes spp. almost totally covered with snow; Photo from Ewan Edwards)


5- Existem alturas que paro, reflicto para pensar e sinto que é incrível estar aqui, agora. Gostaria de congelar estes momentos com todas as sensações que contem e pô-las no bolso para mais tarde recordar. E não consigo parar o tempo, apenas um pouquinho só, e tentar sugar tudo o que estou a observar ao máximo. Aquela foca leopardo que apareceu na praia hà 2 dias foi um desses casos. Deu para estar cara a cara com ela e ficar minutos a vê-la...Tirar fotografias é excelente pois regista aquele momento para recordar mais tarde mas.... Hoje de manhã, num daqueles dias típicos de Inverno, fui ligar os gerador de energia (pois hoje cozinho eu e uma das funções é essa) e ao caminhar reparei na praia uma ave e uma foca a caminhar calmamente entre a neve e algumas poças de água, como quem anda a brincar entre elas.... lindo, lindo de se ver. Este momento não exigia uma fotografia, pois estava mau tempo, mas a sensação de tranquilidade que me transmitiu é indiscritivel...fez-me sentir que hoje é Domingo! Brilhante! Acho que fiquei uns 10 minutos ao frio e ao vento (está muito vento forte hoje!) só a deliciar-me com o momento...


6- Acho que começo a estar na fase de "daqui a pouco tempo já não estarei aqui!" pois só faltam 2 meses, e começo a ter aquela sensação de "esta vai ser a última vez que vou fazer isto". Não fico triste pois acho que este é um processo natural das coisas e continuo com um grande sorriso. Na verdade, para estar aqui, as saudades de toda a família, dos grande amigos, dos momentos perdidos que nunca se irão repetir (os aniversários, o nascimento dos filhotes dos nossos grandes amigos, os dias clássicos de ondas perdidas, o estar com toda a familia junta naquela ocasião especial...), foram um desafio e vai ser bom estar com todos novamente e mostrar-lhes o paraíso que a Antárctica é. A alegria mantem-se e deixa-me feliz saber que quando for embora, levarei mais um pouco da Antárctica comigo...mas mais importante que isso, saber que contribui um pouco com a minha ciência para que as aves e as focas possam continuar a passear entre as poças de água felizes da vida...

We have a saying in Portugal (and possibly everywhere in the World) that says "Time flies when you are having fun!" and definetely that applies to me. I has been 7 months since I arrived in Antarctica. It does not seem it was yesterday that I arrived here, but just the day before that! Coming to Antarctica we have huge number of sensations. The first one is being amazed by everything. We spend the first days looking like babies (not many expressions in the face, eyes wide open, absorving everything) and trying to get into rythm mode. As we have to do loads of fieldwork, we have to get our bodies used to walking long hours up and down the hills in cold temperatures, and prepare all the science. During this time is also, the opportunity to take that albatross or penguin photo that you spent months or years dreaming about and you are saying "HUUAUUU" all the time. Then the fieldwork kicks in and the work is very intensive, and being in Portugal, Cambridge or in the Antarctic, it seems not t omake such a difference. You are working full on or sleeping. Despite having numerous science projects at the same time, after a few months, it is possible to be confortable on how things are going. For example, when deploying GPS loggers, I know that the wandering albatrosses have been doing this year and the approximate time needed to deploy devices. If there is a 2 days of good weather, I know now that we have time enough to do them (in May I didn´t and we would go as early as we could to try and deploy them). Now, with 2 months to go, I stop sometimes and reflect on the amazing times I have had here. I would love to freeze some of those moments (with all the feelings it caused in me) that I could put them in my pocket and take them out to make me smile whenever I needed them. Today, while going to put the generator on, I saw a giant petrel just walking nicely between the snow and the water pools and it was beautiful to see. A photo would not have worked (the sky is dark, the giant petrel was far away) but it felt so beautiful to see...Starting to have the feeling of "soon I will be gone!" although there are still 2 months to go. I am not sad and surely I will keep a big smile. Indeed, it has been hard missing all the family adventuras and reunions, the birth of your best friends son, the classic surfing days,...and it will be great to see them all again and show everyone how amazing the Antarctic is. I surely will take a bit of Antarctica with me wherever I go, and is such a great feeling that my science will contrubite in such a way that the seals and the petrels will continue walking between the snow and the water ponds happily....