This is the results of the Antarctic Expedition of the PhD students José Abreu and José Queirós in 2022, under the project FISHFAN supported by the Portuguese Polar Program PROPOLAR, in which they collected and analysed samples from Patagonian toothfish and Antarctic toothfish from South Georgia and South Sandwich Islands, at the British Antarctic Survey Research Station of King Edward Point (South Georgia). They stayed for 3 months (Abril-July 2022) in this Antarctic Heaven...
O projeto FISHFAN, parte da campanha da PROPOLAR 2021-2022, teve como investigador principal o nosso supervisor José Xavier, e nós (José Abreu e José Queirós) como jovens cientistas. O projeto tinha como destino final a base científica do British Antarctic Survey de King Edward Point na Ilha Subantártica da Geórgia do Sul, no sector atlântico do Oceano Austral onde ficamos por 3 meses a viver e trabalhar. O início da campanha estava previsto para o dia 17 de Abril, mas como acontece ocasionalmente (e especialmente ainda antes do fim das restrições Covid-19 nas ilhas Falklands) o voo foi cancelado e tivemos de ficar 1 semana em Oxford à espera do novo voo remarcado para dia 24 de Abril. Sem mais atrasos o nosso voo de 20h, com saída desde a base militar em Oxford e destino às Ilhas Falklands, levantou voo na nova data. Já nas Ilhas Falklands, cumpridos os 5 dias de quarentena obrigatório, tivemos cerca de 3 dias que nos deram a oportunidade de explorar um pouco a ilha. No dia 3 de Maio embarcamos no navio patrulha do Governo da Geórgia do Sul e das Ilhas Sandwich do Sul (GSGSSI) Pharos SG para uma travessia de cinco dias até à Geórgia do Sul. Durante esta viagem, e já em águas Antárticas, tivemos espécies de petréis e albatrozes como companheiros. De um tamanho e beleza enorme, foi fantástico poder assistir aos seus voos. Foi a 8 de Maio, num nevoeiro cerrado, que tivemos o primeiro deslumbre da Ilha Geórgia do Sul quando paramos em Bird Island para descarregar mantimentos na pequena base científica, praticamente dedicada só a aves marinhas, que lá existe. Navegando depois ao largo da ilha durante um dia, chegaríamos então ao destino a 9 de Maio, à baía de Cumberland, onde se erguem majestosos picos cobertos de neve, e se situa a base científica de King Edward Point.
Como o acrónimo já revela, o foco do projeto é o estudo das pescas (FISHeries) e cadeias alimentares (Food webs) do oceano Antártico (ANtarctic ocean). Ambos os nossos planos de doutoramento, tem como objeto de estudo a pesca de fundo à linha, em redor das ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul. Esta pesca tem como espécie alvo o Bacalhau da Patagónia e Bacalhau da Antártida. Além das espécies alvo, quantidades consideráveis de macrurídeos, raias e outras espécies são capturados como pesca acessória (bycatch). A captura de vários indivíduos de diferentes espécies a profundidades >1000m, torna também esta pesca num método valioso para estudar as cadeiras alimentares de mar profundo.
Durante os 3 meses na base analisamos mais de 700 peixes e estômagos e recolhemos dados e amostras de diferentes espécies. Estas amostras foram recolhidas por observadores a bordo dos diferentes barcos de pesca durante os anos da pandemia e estavam guardados na estação para serem analisadas. Visto a quantidade de material a analisar ser substancial, juntamente com os riscos biológicos existentes no transporte das mesmas, a análise na base, preparada para esse efeito, era a única solução possível.
Como objetivo principal, eu (José Abreu), tinha como foco analisar as espécies acessórias, nomeadamente 3 espécies de macrurídeos, e espécies de raias. No laboratório, após identificar a espécie, recolhia os dados de pesca e os dados biométricos. Seguia-se a identificação do sexo e estado de maturidade, através das gónadas e o peso da mesma. Análise do conteúdo estomacal e se possível a recolha do mesmo para posterior análise. De cada individuo recolhia também pedaços de músculo, para análises químicas (ex: isótopos estáveis, ácidos gordos) a realizar em Portugal. Por último recolhia os ótolitos ou vertebras no caso das raias, para podermos futuramente identificar a idade da população.
Durante os 3 meses eu (José Queirós), mais focado em amostras das Ilhas Sandwich do Sul, tive a oportunidade de analisar e identificar (pelos conteúdos estomacais) a dieta das diferentes espécies capturadas pela pesca, recolhendo amostras de musculo das diferentes espécies (de presas e predadores) que irão ser posteriormente analisadas quimicamente em Portugal e França para a determinar a estrutura da cadeia alimentar e como diferentes contaminantes são transferidos das presas para os predadores. Todas estas amostras estão agora guardadas e irão ser transportadas pelo navio Sr. David Attenborough até ao Reino Unido.
Os arquipélagos da Geórgia do Sul e das Ilhas Sandwich do Sul são uma zona riquíssima em biodiversidade e produtividade. As suas águas são desde 2012 uma área marinha protegida, e as pescas reguladas pelo GSGSSI usando o conselho científico da Comissão para a Conservação dos Recursos Marinhos Vivos da Antártida (CCAMLR) com uma abordagem a todo o ecossistema. Assim compreender a dinâmica das cadeiras alimentares nestas zonas de grande profundidade a que temos acesso limitado e ainda muito por descobrir, assim como que tipo de influência tem a pesca nas populações afetadas, é essencial para ajudar no crescimento de uma melhor gestão.
Como entusiasmantes da natureza, do oceano, é um gosto poder participar ativamente neste compromisso. Além de todo o trabalho realizado ao longo dos 3 meses, pudemos constatar o quão importante é esta região para inúmeras outras espécies, e o quão espetacular consegue ser a vida selvagem. Foi uma experiência inesquecível, poder viver o inverno austral, e construir memórias que perdurarão.
Dia 26 Julho, foi então o dia da despedida, com saída novamente no Pharos SG, até às Falklands para o nosso voo de regresso dia 3 de Agosto.
Para terminar, gostaríamos de agradecer à PROPOLAR por o apoio nesta campanha essencial para os nossos planos de doutoramento, aos vários barcos de pesca e observadores pela recolha das amostras, e por último ao British Antarctic Survey, ao GSGSSI, e a todos os elementos com quem partilhamos a base, pela forma que nos trataram e receberam.
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